“Depredando a Saúde da nação”

Por Maramélia Miranda

Este é o título do artigo na seção Debates, da Folha do último domingo. Não à toa, um dos artigos mais lidos e enviados no site da Folha nos últimos dois dias, bastante comentado, e twittado, e disseminado, e replicado Internet afora. Sou mais uma a fazê-lo, noticiando-o aqui no blog. CLIQUE AQUI PARA VER.

Não. Não pensem que sou corporativista, como acusam a nós médicos,  muitos jornalistas ilustres, apresentadores de rádios, TVs, formadores de opinião e governistas / petistas por aí, desde que o assunto veio à tona, nas últimas semanas.

Pelo contrário! Mais a favor de boa parte das das políticas da nossa presidente e do PT, quem me conhece sabe que sou, sim, defensora das reformas sociais, da distribuição de renda, de revoluções, na política, etc.

Mas essa história de trazer milhares de médicos estrangeiros, com a ilusão de que tal ato melhorará as condições de falta de médicos no interior do país… É muito perigoso. Alexandre Padilha, com os pés e o cérebro queimando, louquinho para entrar candidato ao governo de São Paulo pelo PT, soa realmente extremamente populista e demagogo ao gritar aos quatro cantos defendendo essa ilusória solução.

Pior ainda é a outra medida anunciada: aumentar o número de vagas para residentes no país, com a intenção de aumentar a massa de trabalhadores médicos de baixo custo, a serviço da população mais pobre. Não sabe o nosso ministro que, para ter residentes, em tese, há de se ter preceptores e hospitais universitários, e mais professores, profissionais voltados ao ensino destes novos médicos?! O residente irá trabalhar sem orientação? Qual residente irá querer trabalhar em locais onde terá apenas a caneta, o carimbo, o estetoscópio e, talvez, um laboratório de análises clínicas para fazer hemogramas e eletrólitos?!!!! Terá este novo médico, aprendiz,  condições de fazer algum diagnóstico? Ou será um mero prescritor de anti-parasitários, anti-hipertensivos, além de encaminhador de pacientes graves para maiores centros? Imaginem vocês, um número x de residentes e novas vagas de residência médica, acabados de sair dos cursos médicos, sem pouca ou nenhuma experiência na assistência, aprendendo a cuidar dos pacientes por intermédio de livros, como Harrisons, Cecils ou (pior ainda), guias médicos de bolso?! Me dá um frio na espinha, só de pensar.

Brasil, socorro! Alguém tem que avisar do que está por vir.


One thought on ““Depredando a Saúde da nação””

  1. Vale a pena ver uma outra visão: meu sogro, José Luiz de Miranda Alves, educador, professor, coordenador de uma universidade no interior de SP, reflete: “não sou da área, mas vejo que a notícia sobre a possibilidade da vinda de médicos do exterior motivou uma ótima reação da categoria médica. Há muitos meandros para comentar. Vi que o mencionado artigo, apontado como modelo de reflexão, não passa de um pontuar de desculpas para rejeitar a proposta da importação.
    Ainda que a importação deva ser melhor entendida e trabalhada, pois há ressalvas, não é motivo para desculpas. Veja que este médico fala que o atendimento será precário (dos médicos importados), superficial e não conclusivo. Será que ele não sabe que é o que acontece hoje? Será que nunca foi a uma unidade básica de saúde? A diferença, e isso é para pensar, é que as pessoas do povo terão (embora eu não possa afirmar) à frente um médico, com estetoscópio, pedindo e fazendo exames diagnósticos simples e até ultrapassados, que não tem hoje. Sabe que há pessoas que nunca tiveram oportunidade de serem atendidas por um médico? Pensam que alguém inatingível, um santo, um et, talvez, um deus.
    Não é toda(o) estado, cidade, hospital que é devidamente aparelhado. Não é toda unidade do SUS que tem aparelhos sofisticados que são encontradas nos centros de excelência. Não é todo cidadão que tem condições de complementar seu direito à saúde com planos de atendimento com níveis do primeiro mundo (se é que haverá primeiro mundo, daqui uns tempos).
    No Brasil, e em outros países também, cabe reconhecer, é proverbial o corporativismo dos médicos.
    De qualquer modo, penso que não é para animosidades extremas, mas é momento de dialogar e encontrar medidas que, de fato, concorram para a universalização da saúde, ideia aproveitada pelo presidente Obama, em seu país.”
    Interessante, não?!

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