Campos de golfe e Doença de Parkinson…

 

A história de pesticidas… Estudo super recentemente publicado do tipo casos-controle, pegou pacientes com Doença de Parkinson (DP) e controles normais da região de Rochester, durante 25 anos de dados registrados, conduzido por pesquisadores da Brown University e da Mayo Clinic.

Analisando-se 419 casos novos de Parkinson idiopático, e comparando-se com 5113 controles, morar a uma milha de um campo de golfe associou-se a 126% maior chance de desenvolver DP, comparando com pessoas morando a mais de 6 milhas de campo de golfe (OR 2.26; 95% CI, 1.09-4.70). Pessoas morando em áreas com serviço de água próximos a campos de golfe também: OR 1,96 (quase 2x a chance de ter DP). Apesar de não demonstrar causalidade direta por ser um estudo observacional de casos-controle, a hipótese de usuários de água vulnerável nestas regiões e exposição a pesticidas é a mais comentada pelos pesquisadores envolvidos na pesquisa…

⁠LINK

Krzyzanowski elt al.Proximity to Golf Courses and Risk of Parkinson Disease. JAMA Open Network 2025.

 

Cura ou regressão da Doença de Alzheimer? Aqui, a Verdade!!!!

Assunto importante nos últimos dias!!!

ATENÇÃO! A VERDADE! …

O público em geral comecará a ver muitos perfis de médicos oferecendo a “cura” ou “regressão de sintomas” para #demencia e para o #Alzheimer, com drogas novas recentemente aprovadas por agências que regulam drogas e medicamentos, no mundo e Brasil. Cuidado… MUITO CUIDADO!

Não existe cura. Não existe milagre. Não existe regressão de sintomas.

Estas drogas novas estão sendo usadas, é um começo de esperança para tratar a doença. Mas nada de realmente efetivo, de efeito consistente em resultados que realmente impactem a evolução desta terrível doença que afeta milhões em todo o mundo.

Não à toa, agências na Europa, Reino Unido, e outros países com regulação restrita, têm barrado o uso indiscriminado das novas terapias…

A verdadeira estratégia é escolher bem o profissional que cuida de seu familiar, verificar suas credenciais, sua formação médica e de residência, especialização, se possui RQE no conselho de seu estado, e PRINCIPALMENTE, adotar a #prevencao , com o controle de tudo que está na figurinha destacada.

Se virem anúncios de cura, reversão e milagres sendo prometidos. ABRAM O OLHO! DESCONFIE. E fuja deste profissional.

Trata-se de informação FALSA.

Terapias para dor neuropática: Atualização 2025

Esta metanálise foi feita pelo grupo de Dor Neuropática da IASP (International Association for the Study of Pain), como forma de atualização de suas diretrizes, avaliando 313 ensaios clínicos e totalizando 48.789 pacientes portadores de dor neuropática de diversas etiologias. O artigo foi recentemente publicado na Lancet Neurology, e seu acesso está aberto, dada a importância do tema na prática neurológica geral.

Resultados

Eficácia primária e desfechos de segurança para:

  • Tricíclicos: NNT=4·6 (95% CI 3·2–7·7), NNH=17·1 (11·4–33·6)
  • Ligantes α2δs (análogos GABA): NNT=8·9 (7·4–11·10), NNH=26·2 (20·4–36·5)
  • Inibidores de recaptação serotonina/noradrenalina (Duais): NNT=7·4 (5·6–10·9), NNH=13·9 (10·9–19·0)
  • Toxina botulínica: NNT=2·7 (1·8–9·61), NNH=216·3 (23·5–∞)
  • Patch capsaína 8%: NNT=13·2 (7·6–50·8), NNH=1129·3 (135·7–∞;)
  • Opióides: NNT=5·9 (4·1–10·7), NNH=15·4 (10·8–24·0)
  • TMS repetitiva (sessões): NNT=4·2 (2·3–28·3), NNH=651·6 (34·7–∞)
  • Creme tópico de caspaína: NNT=6·1 (3·1–∞), NNH=18·6 (10·6–77·1)
  • Patch de lidocaína 5%: NNT=14·5 (7·8–108·2), NNH=178·0 (23·9–∞).

Conclusões: Recomendação forte para o uso de tricíclicos, análogos GABA e inibidores de rcaptação duais como primeira linha de tratamento. Menor força de recomendação para capsaína e lidocaína em patch; e terceira linha de tratamento para rTMS, toxna bolulínica e opióides. Tabelinha resumindo o artigo, abaixo (clique em cima da imagem para ver em close).

 

 

LINKS

Soliman et al.Pharmacotherapy and non-invasive neuromodulation for neuropathic pain: a systematic review and meta-analysis. Lancet Neurol 2025.

Material suplementar.

Classificação nova (de novo!) da ILAE para Crises Epilépticas

Olha…
Quem deseja dar uma esganadinha na ILAE?! Levanta a mão!!!!!  kkkkkkkkkk

Sei não… Já estou achando que essa coisa de trocar os nomes termos classificação praticamente a cada dois anos é proposital, apenas pra obrigar a gente que é neurologista a estudar tudo de novo…

Olhem essa timeline de mudanças de nomes e termos…

E aqui… Os termos novos…

 

LINKS

Beniczky et al. Updated classification of epileptic seizures: Position paper of the International League Against Epilepsy Epilepsia 2025.

Beniczky et al. Updating the ILAE seizure classification. Epilepsia 2025.

Bebam vinho… !!!!!! E sejamos felizes, e saudáveis!!!!!

Este artigo publicado na European Heart Journal, publicação da European Society of Cardiology, a poderosa ESC, veio bem a calhar neste último dia do ano. Deliciem-se com seus resultados…

A new study has found that moderate wine consumption, measured through urinary tartaric acid levels, is linked to a lower risk of cardiovascular disease in older adults. Drinking 12-35 glasses of wine per month showed significant cardiovascular benefits over nine years. This research builds on previous studies suggesting health benefits from moderate wine drinking but uses urinary tartaric acid as a more accurate measure of wine intake. This method reduces bias from self-reported alcohol consumption. The findings indicate that higher tartaric acid levels correlate with lower cardiovascular risk, while lower levels do not show the same benefits. The study highlights the potential role of wine’s bioactive compounds in promoting heart health.

ESTUDO

Pegaram amostras de urina de pacientes randomizados no grande e importante estudo clínico PREDIMED, estudo espanhol com mais de 7000 participantes, que avaliou desfechos cardiovasculares em indivíduos expostos à dieta mediterrânea. Entre 1232 participantes, um grupo teve desfechos cardiovasculares e o outro grupo não apresentou desfechos; neste subset de participantes que tinham medidas de ácido tartárico basal, e após um ano da intervenção, na urina, foram feitas as análises com base na dosagem de ácido tartárico urinária e eventos CV. O consumo de vinho, registrado usando questionários validados, foram comparados com as medidas de ácido tartárico, demonstrando correlação linear.

RESULTADOS

Beber de 12 a 35 tacinhas de vinho por mês foi a quantidade mais protetora para a ocorrência de eventos cardiovasculares…

(HR 0.50 (CI 0.27-0.35), redução de 50% de chance de ter eventos…

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SyNC: Nova sigla no pedaço!!!!!

Chega de hematoma subdural e meníngeas médias???? Depois de uma semana cheia disso por todos os lados, hoje vamos relaxar nossa sexta-feira com SyNC.

SyNC é a mais nova sigla queridinha dos neurologistas vasculares: Symptomatic non-stenotic carotid plaques (SyNC), ou abrasileirando, placa carotídea não-estenótica, é uma causa recentemente descrita de AVC isquêmico, correspondendo à presença de uma lesão aterosclerótica carotídea cervical que tem padrão ou padrões de maior risco para embolia artério-arterial, e cuja estenose estimada pelos métodos de imagem não atinge o limite clássico de estenose >50-70%, que foi o cutpoint utilizado nos estudos de aterosclerose de grande artéria extracraniana, como o antiguinho NASCET e as séries de estudos CREST.

Aqui está, dando já uma ideia aos colegas que querem saber e estudar mais, um tópico super quente na nossa área de Neurovascular. Não sabemos muito bem ainda: a) Quais seriam os potenciais preditores de maior risco; b) Melhores tratamentos preconizados (clínico? medicamentoso? endovascular com angioplastia/stenting?); c) Como estudar bem e de forma mais acurada esta doença.

Figura: Exame de US de carótidas com uma placa pequenininha hipoecogênica, em um paciente masculino de 49 anos, que teve amaurose fugaz no olho ipsilateral à placa. SyNC (arquivo pessoal).

Mais tarde, vou terminar este post, e publicar as referências principais.

Por enquanto, fiquem com a siglinha… Pra não esquecerem de mim!!!!

SyNC   ……  SyNC  ………..    SyNC

 

Embolização de Meníngea Média: Entenda tudo!

Por Maramélia Miranda. Atualizado em Dez/2024.

 

O hematoma subdural crônico é uma condição muito, muito comum em idosos. A maioria dos hematomas subdurais crônicos provocam sintomas mais tardios, sendo bem frequente haver um hiato de semanas a meses, entre a queda ou trauma na cabeça e a formação do hematoma; isso acontece porque a formação hematoma se dá de forma bem gradual, por semanas, de forma contínua, naquele espaço entre a superfície do cérebro e a dura-máter, e no paciente mais idoso, este espaço, que costuma ser mais amplo, permite que a coleção ou o hematoma se forme sem dar sintomas por vários dias a semanas, usualmente em período de 2 a 3 meses.  

Figura 2. Diagrama esquemático que mostra as diferenças entre o hematoma epidural e subdural, detalhando as membranas que revestem o cérebro e os locais destes hematomas.

 

Os sintomas mais comuns são a instalação gradual de dor de cabeça diferente, mas persistente, mudança de comportamento, apatia ou letargia, até sintomas mais sérios, como confusão mental, sonolência, fraqueza em um dos lados do corpo, alterações da fala, alterações do equilíbrio e marcha, até quadros mais sérios, como crises epilépticas e coma.  

Figura 3. Imagem de Tomografia do crânio mostrando uma lâmina de hematoma subdural crônico na região fronto-parietal esquerda (no lado direito da foto, com hipodensidade em faixa, logo abaixo do osso).

 

Nos hematomas subdurais sintomáticos, os tratamentos considerados de primeira linha hoje envolvem:

a) Drenagem do hematoma, por cirurgia neurológica;

b) Embolização da Artéria Meníngea Média, por cateterismo.

 

O tratamento clássico é a cirurgia com trepanação, drenagem do sangue, do hematoma, com colocação de um dreno por alguns dias. Trata-se de cirurgia relativamente simples e efetiva; quando realizada a tempo, sem deterioração clínica, costuma deixar o paciente sem sequelas. Mais recentemente, séries de casos publicados desde 2017 até o momento, e vários estudos clínicos controlados publicados em 2023 e 2024, demonstraram o benefício do tratamento combinado de drenagem neurocirúrgica + embolização da artéria meníngea média, para reduzir ressangramento no leito do hematoma e melhora de desfechos clínicos.

 

Figuras. Exemplo de embolização da artéria meníngea média: imagens brancas em destaque, no trajeto da artéria meníngea média, fora da calota craniana, mostram exatamente o material oclusor (Onyx), que preenche a luz da artéria.

 

A embolização da artéria meníngea média (AMM) é um procedimento endovascular, feito por cateterismo, onde se coloca um material embolizante (cola, Squid ou Onix), para fechar, ocluir a meníngea média, e reduzir a chance de haver ressangramento no espaço subdural. Estes ressangramentos podem acontecer em 20 a 30% dos casos, e influenciam a recuperação neurológica, podendo inclusive evoluir com necessidade de nova neurocirurgia.  

 

 

LINKS

Tudor et al. Middle Meningeal Artery Embolization for Chronic Subdural Hematoma: A Review of Established and Emerging Embolic Agents. SVIN 2024.

Liu et al. Middle Meningeal Artery Embolization for Nonacute Subdural Hematoma. New England J Medicine 2024.

Fiorella et al. Embolization of the Middle Meningeal Artery for Chronic Subdural Hematoma. New England J Medicine 2024.

Davies et al. Adjunctive Middle Meningeal Artery Embolization for Subdural Hematoma. New England J Medicine 2024.

Nouri et al. Chronic Subdural Hematoma (cSDH): A review of the current state of the art. Brain and Spine 2021. 

Estudo CHARM (Glibenclamida EV) publicado na Lancet Neurology

 

Um estudo que comparou a infusão da droga hipoglicemiante glibenclamida, em sua forma endovenosa, em pacientes com AVCi agudo da artéria cerebral média, com área grande de edema de 80 a 300ml foi realizado em 143 centros, em 21 países, muito difícil de ser feito (seleção dos pacientes, infusão da droga, material e bombas de infusão diferentes, muito complexo…), e ainda por cima pegou a época da pandemia COVID-19, que reduziu a taxa de recrutamento de pacientes, tendo sido interrompido pelo patrocinador por “motivos operacionais”.

Figura: Curva de desfecho mortalidade nos grupos tratado e controle, do GAMES-RP (2018). 

 

Resultado? Foi negativo, resultados similares em desfechos, nos grupos ativo e controle de tratamento. Uma pena, pois trata-se de droga promissora, dados os resultados animadores do estudo fase 2 GAMES-RP… Vamos ver se aparecem mais RCT pela frente.

 

LINKS

IV glyburide for the prevention of brain edema. From Kimberly Lab

Sheth et al. Intravenous glibenclamide for cerebral oedema after large hemispheric stroke (CHARM): a phase 3, double-blind, placebo-controlled, randomised trial. Lancet Neurol 2024.