Prevenção de demências: 2024 Lancet Commission on Dementia e dados do Brasil

Para os que querem se atualizar na prevenção de demências, pergunta constante no ambiente ambulatorial, essas leituras são bem importantes!!!! Várias famílias perguntam: “O que posso tomar, o que posso fazer para reduzir o risco, me prevenir?” Respondendo: Cuide destes fatores de risco, e você poderá prevenir em cerca de 50-55% a chance de desenvolver demência no futuro. Tem remédios para tomar? Tem sim. Mas não são “vitaminas”… São os remédios contra colesterol, pressão alta, diabetes, cuidar de perda auditiva, exercício físico… etc….

Leituras

Um artigo publicado pela comissão de demência e publicada na LANCET – difundida para o mundo inteiro este ano, no mês de julho de 2024. Abaixo, postei também dados brasileiros publicados pelo grupo técnico de especialistas do MS brasileiro.

Para ver as imagens em maior resolução, cliquem no PDF ou em cima da figura… Ainda não aprendi aqui como postar direto no post em alta resolução… Forgive me!

Dementia risk 2024 – Arquivo em PDF

 

Dados brasileiros (abaixo): Fração atribuível na população (FAP) para os diferentes fatores de risco relacionados às demências, nas regiões ricas (Sul e Sudeste) e pobres (Norte, Nordeste e Centro-Oeste) do Brasil. Fonte: Relatório Nacional sobre Demências 2024, Ministério da Saúde.

LINKS

Livingston et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2024 report of theLancet standing Commission. Lancet 2024.

Relatório Nacional sobre Demências – Brasil. Ministério da Saúde, 2024.

Critérios para Doença de Alzheimer: Clínico ou por biomarcadores?

Atualmente existem duas correntes dentro da Neurologia do Comportamento, que pregam duas diferentes ideias sobre como definir a Doença de Alzheimer (DA): uma que entende que a presença de biomarcadores já pode definir biologicamente esta doença, e outra que advoga a necessidade da presença de sintomas, de uma clínica esperada da doença, para defini-la. O International Working Group (IWG), formado por especialistas de vários países, incluindo dois brasileiros (Profs. Paulo Caramelli e Ricardo Nitrini), e mais uma penca de outros importantes nomes da subespecialidade (Bruno Dubois, Nicolas Villain, Howard Feldman, Giovanni Frisoni, etc…), publicaram recentemente um artigo que vem se contrapor ao grupo da Alzheimer Association, defensor do critério mais amplo (que inclui o biológico sem os sintomas).

O IWG propõe a DA como entidade clínica que pressupõe a presença de biomarcadores, mas com manifestação clínica, e denomina o indivíduo cognitivamente normal, mas portador de positividade em biomarcadores, como “assintomático em risco de doença de Alzheimer”; e aos pacientes com mutações genéticas autossômicas dominantes, “pacientes com Doença de Alzheimer pressintomática”.

A proposição do IWG contrapõe-se à definição de DA pré-clínica, advogada pela Alzheimer Association, e alerta para a possibilidade de testagem rotineira de pacientes sem déficit ou qualquer sintomatologia cognitiva, apenas com positividade para depósitos amilóide ou achados compatíveis com DA no LCR. vir a ser fator estressor aos indivíduos, diante da ampliação deste diagnóstico.

LINK

Dubois et al. Alzheimer Disease as a Clinical-Biological Construct—An International Working Group Recommendation. JAMA Neurology 2024.

Fellowship 2025 em Neurologia Vascular na UNIFESP: Inscrições abertas!

Inscrições abertas para o Programa de Fellowship em Neurologia Vascular da UNIFESP/EPM para o ano de 2025.

PERÍODO PARA INSCRIÇÕES: De 06/11/24 a 06/12/2022.

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES: LINK DIRETO AQUI – Site Pós-Graduação EPM/UNIFESP

O programa de sub-especialização em AVC para neurologistas é considerado um dos mais completos do país, incluindo formação em Neurologia Vascular, Neurointensivismo, Doppler e Duplex Transcraniano, além de experiência e participação em linhas de pesquisas em AVC, incluindo trials clínicos nacionais e internacionais em andamento, na instituição.

 

A colchicina vem aí…

Vários estudos já publicados na Cardiologia, e agora começam a vir algumas evidências sobre o uso da colchicina também em prevenção secundária na Neurovascular. Esta semana, na Lancet, foi publicada uma metanálise com dados sobre prevenção em AVCi e eventos ateroscleróticos, com o artigo de acesso aberto.


E mais: Estudo clínico grande, em etapa de inicialização em vários centros brasileiros, testando este promissor tratamento.
Será?

Pilet et al. Colchicine for secondary prevention of ischaemic stroke and atherosclerotic events: a meta-analysis of randomised trials. Lancet Discov Sci 2024.

Artigos obrigatórios para todo Residente de Neurologia, e mais ainda para o Neurovascular!!!

 

Falam que nós somos encanadores, que não tem o que aprender, que é fácil demais, que é somente dar AAS e clopidogrel, ou mandar abrir o vaso nas primeiras horas, que é baba, moleza…

Mas na hora do pega-pra-capar… A dura verdade é que ficam nos ligando ou mandando mensagens desesperadas, pra dar opinião, na verdade… Pra tirar o colega dos apuros da hora crítica, aquela em que você e só você deve tomar a decisão, naqueles próximos minutos.

Em homenagem a esta sub da Neurologia, a mais emocionante, a mais ágil, mais urgente, mais gratificante, a quer teve mais evolução de tratamentos nas últimas duas décadas, a que tem certamente… O maior corpo de evidências científicas, graças aos inúmeros ensaios clínicos realizados, listamos aqui os artigos must-read de todo interessado nessa bela subespecialidade:::::

Divirtam-se!

.

LINKS

Tatu et al. Anatomy of the circulation of the brain and spinal cord. In: Handbook of Clinical Neurology, 2009

Plus >>> Arquivo com figuras do capítulo Anatomy do Tatu. AQUI. 

NINDS Study Group. Tissue Plasminogen Activator for Acute Ischemic Stroke. NEJM 1995. 

Hacke et al. Thrombolysis with Alteplase 3 to 4.5 Hours after Acute Ischemic Stroke. NEJM 2008

Adams et al. Prevention of a First Stroke by Transfusions in Children with Sickle Cell Anemia and Abnormal Results on Transcranial Doppler Ultrasonography. NEJM 1998. 

O`Donnel et al. Risk factors for ischaemic and intracerebral haemorrhagic stroke in 22 countries (the INTERSTROKE study): a case-control study. Lancet 2010.

Kasner S. Clinical interpretation and use of stroke scales. Lancet Neurology 2006. 

Hand et al. Distinguishing between stroke and mimic at bedside. Stroke 2006. 

SPARCL Invertigators. High-Dose Atorvastatin after Stroke or Transient Ischemic Attack. NEJM 2006. 

Wang et al. Clopidogrel with Aspirin in Acute Minor Stroke or Transient Ischemic Attack. NEJM 2013. 

Ma et al. The third Intensive Care Bundle with Blood Pressure Reduction in Acute Cerebral Haemorrhage Trial (INTERACT3): an international, stepped wedge cluster randomised controlled trial. Lancet 2023

Anderson et al. Rapid Blood-Pressure Lowering in Patients with Acute Intracerebral Hemorrhage. NEJM 2013. 

Martins et al. Thrombectomy for Stroke in the Public Health Care System of Brazil. NEJM 2020

Feigin et al. Pragmatic solutions to reduce the global burden of stroke: a World Stroke Organization–Lancet Neurology Commission. Lancet 2023. 

Goyal et al. Endovascular thrombectomy after large-vessel ischaemic stroke: a meta-analysis of individual patient data from five randomised trials. Lancet 2016. 

Bamford et al. A prospective study of acute cerebrovascular disease in the community: the Oxfordshire Community Stroke Project. JNNP 1988. 

Site sobre anatomia e síndromes vasculares: www.louis-stroke.com

E por fim, tem que ler estes COM CERTEZA… Guidelines da AHA/ASA (americano) – AQUI

Guidelines da ESO (europeus) – AQUI

Guidelines da ESC (Cardio-Europa) – AQUI

Sextou com Música… E artigo polêmico sobre Doença de Alzheimer

O artigo foi dica super-master do nosso colega neurologista Dr. Paulo Caramelli (UFMG), um artigo publicado no LA Times, dessa semana, que comenta o plano em curso (já em construção (!!!!), de ampliar os critérios de Doença de Alzheimer para incluir assintomáticos com biomarcadores… Babaaaaaaadoooooo!!!!!!

E nossa música da semana – uma banda bem legal que curto bastante, Driver Era, com “Fade”  – trocadilho básico para não perder meu costume  ;)))))))))))))))))

Cuidem-se… !!!!

 

LINKS

Petersen M. Inside the plan to diagnose Alzheimer’s in people with no memory problems — and who stands to benefit. LA Times. Feb 2024.

 

Medir ou não medir Lp(a)???? Eis a questão….

Amigos, amigos… Vocês perguntam, e ficam me dando ideias para buscar aqui as respostas.

É dúvida ou não? Devemos pedir de rotina a dosagem sérica de Lipoproteína (a)…?

Talvez agora, para casos com risco cardiovascular, devamos pedir. Como, e quando pedir? E como interpretar seus resultados?

 

LINKS

An Update on Lipoprotein(a): The Latest on Testing, Treatment, and Guideline  Recommendations. JACC 2023

Lipoprotein(a) in atherosclerotic cardiovascular disease and aortic stenosis: a European Atherosclerosis Society consensus statement. EHJ 2022

Lipoprotein / Lp(a) Tool Kit – AHA

Current management of the patient with high lipoprotein(a) – Review article 2022

Donanemab em DCL e Alzheimer inicial: Resultados publicados na AAIC 2023

Por Maramélia Miranda **. 

Tags: anticorpo anti-amilóide; anticorpo monoclonal; alzheimer; tratamento; donanemab; lecanemab; aducanumab; amilóide cerebral; PET amilóide, estudo TRAILBLAZER AD2, CLARITY AD.

 

Primeiro, veio o aducanumab. Resultados controversos, aprovação às pressas pelo FDA em 2021, com a polêmica de pedido de demissão coletiva de comitê diretivo dos órgãos reguladores americanos, depois da aprovação a toque de caixa da droga, por causa dos resultados conflitantes de estudos fase 2 e 3.

Segundo, o lecanemabe, resultados do estudo CLARITY AD apresentados e publicados em 2022, testado em declínio cognitivo leve (DCL) e demência por Doença de Alzheimer (DA) leve, mostrando lentificação do declínio cognitivo e funcional em cerca de 27% – medidos pela escala CDR (soma de caixas, CDR-SB), além de redução de beta-amiloide no PET e outras melhorias e escalas diferentes. Correria e zumzumzum, resultados modestos também comentados, a questão da segurança, com os eventos de ARIA e desfechos fatais em alguns casos tratados, mas o FDA aprova a droga em janeiro de 2023.

Agora, estudo apresentado com grande expectativa na conferência AAIC 2023 em Amsterdan, esta semana, com publicação concomitante na JAMA, temos o terceiro: Donanemab, outro anticorpo monoclonal antiamilóide, testado no trial fase 3 TRAILBLAZER AD 2, em um total de 1736 pacientes com DCL ou DA inicial, que tinham que ter deposição de tau e beta-amilóide nos PETs basais. O desfecho primário foi uma escala diferente do CLARITY AD, a integrated AD Rating Scale (iADRS), escala cognitiva e funcional com 144 pontos, onde menores escores indicam maior comprometimento. De forma diferente, no TRAILBLAZER, os pesquisadores fizeram PET amilóide e PET tau, e dividiram os sujeitos estudados em população geral e população com depósitos no PET tau classificados como baixo/médio, e fizeram as análises do impacto do tratamento nestes dois grupos. Outra coisa diferente do estudo foi que, atingindo-se uma redução de beta-amilóide pré-planejada pelo PET amilóide, os participantes do grupo ativo de tratamento pararam de receber as infusões EV mensais da droga do estudo, e recebiam placebo. Isso ocorreu em 54% dos pacientes tratados com o anticorpo.

Após 76 semanas, a queda na pontuação da iADRS foi uma média de 3.25 ([95% CI, 1.88-4.62]; P < .001) pontos menor no grupo de tratamento, nos pacientes com depósito de tau baixo e médio, e de média de 2.92 na população geral ([95% CI, 1.51-4.33]; P < .001), significando uma lentificação da progressão da doença de 35% e 22%, respectivamente.

Na escala CDR-SB, após o período de follow-up, a progressão/pontuação foi menor em 0.67 pontos ([95% CI, −0.95 to −0.40]; P < .001) no grupo com depósito de tau baixo e médio, e de 0.7 menor [95% CI, −0.95 to −0.45]; P < .001) no grupo total. Houve 3 mortes no grupo ativo, e uma no grupo placebo, e 24% dos pacientes tratados com o donanemab tiveram alterações de imagem como edema e efusões, sendo 1/4 destes com sintomas. 

Em resumo, o uso de donanemab EV em infusões mensais por um período limitado, até o clareamento dos depósitos no PET amiloide, após 76 semanas de seguimento, mostrou um impacto na progressão da doença DCL e DA inicial, de forma significativa e mais proeminente naqueles com PET tau com menor deposição, e quase sem diferenças nos portadores de PET tau com alta deposição (resultados de análise post-hoc).

Este estudo abre um horizonte para: 1) Tentar implementar esta classe de drogas na prática clínica, considerando o alto custo do medicamento, mas com uma previsibilidade de período mais curto, limite de tempo; 2) Fortalece a teoria tauísta, a partir do momento em que demonstra maior benefício da droga aos portadores de menor depósito de tau cerebral; 3) Complica um pouco mais a seleção e critérios para indicar a droga aos pacientes, uma vez que seleciona os pacientes com dois tipos de PET – amiloide e tau.

Enfim.

Esperança. Para os pacientes e suas famílias.

E bronca. Para familiares, governos, gestores de saúde, fontes pagadoras e seguradoras de saúde. Custo será alto, e a logística de indicar, selecionar, seguir a médio e longo prazo, será custosa também.

Vamos ver no que vai dar.

 

LINKS

1. Budd Haeberlein et al. Two randomized phase 3 studies of aducanumab in early Alzheimer’s disease. J Prev Alzheimers Dis. 2022

2. Rabinovici  GD. Controversy and progress in Alzheimer’s disease: FDA approval of aducanumab. N Engl J Med. 2021

3. van Dyck et al. Lecanemab in early Alzheimer’s disease. N Engl J Med. 2023

4. Sims et al. Donanemab in early symptomatic Alzheimer disease: the TRAILBLAZER-ALZ 2 randomized clinical trial. JAMA 2023.