Resveratrol para Alzheimer: Funciona!?

Um estudo multicêntrico americano, randomizado e controlado, duplo-cego, de fase 2 (desenhado para demonstrar segurança da terapia ativa), foi publicado recentemente na revista Neurology, levantando mais uma vez a bola do resveratrol, molécula presente em alguns alimentos e no vinho tinto (oba!), na terapia de demências como a demência por Doença de Alzheimer (DA).

Atenção, pessoal. O paper está com acesso aberto na revista!!! Corram e baixem de lá…

Estudo

Turner e col avaliaram 119 pacientes com o diagnóstico de provável demência por DA, em uso regular de anticolinesteráricos ou memantina,  com MME entre 14-26, e escore de Hachinsky < 5; o estudo constou de uso de placebo ou resveratrol 500 mg em doses escalonadas, com incrementos a cada 13 semanas chegando à dose final de 1000mg duas vezes ao dia. Os pacientes estudados foram avaliados com estudo de ressonância magnética e dosagens laboratoriais dos biomarcadores no sangue e liquor cefalorraquiano (LCR).

Outras causas de demência foram excluídas da amostra, bem como pacientes com microhemorragias na RM e diabetes em tratamento. Os desfechos primários medidos foram a volumetria do cérebro total do hipocampo e córtex etorrinal, e mudanças da volumetria dos ventrículos, todos através do estudo de RM; e trajetória dos níveis plasmáticos de Ab40 e Ab42, e dos níveis no LCR de Ab40, Ab42, Tau e fosfo-tau 181.

Resultados

Eventos adversos ocorreram de forma semelhante nos grupos ativo e placebo (355 vs 302 eventos adversos, respectivamente). Os efeitos adversos mais observados foram diarréia, náusea e perda de peso.

O grupo placebo ganhou mais peso durante o estudo (follow-up de 1 ano), enquanto o grupo ativo do estudo perdeu peso (0.92kg, +4.9 kg (média e DP, p = 0.038)… Ohhhh!!!!!!! (gostei!). Resultado dentro do esperado para o efeito sobre o peso já previamente observado em outros estudos com resveratrol.

Os níveis liquóricos e séricos de Ab40 Ab40 tiveram um declínio mais rápido no grupo placebo. Entretanto, a terapia com resveratrol correlacionou-se com maior perda volumétrica cerebral (ops!!!!! não gostei…), achado cuja etiologia ainda não está muito clara, mas que não teve correlação com declínio cognitivo.

O estudo, que não tem poder estatístico para fazer comparações de desfechos clínicos, mostrou que não houve diferenças nos escores de Mini-Mental,  “Alzheimer’s Disease Assessment Scale–cognitive” (ADAScog), “Clinical Dementia Rating–sum of boxes” (CDR-SOB) e inventário neuropsiquiátrico (“Neuropsychiatric Inventory” – NPI. Mas na escala “Activities of Daily Living Scale” (ADCS-ADL) o declínio foi menor no grupo ativo (p=0.03).

Conclusões

Resumindo a ópera:

— Resveratrol foi seguro e bem tolerado; e penetrou a barreira hematoencefálica para causar seus efeitos no SNC; 🙂

— Resveratrol levou a maior perda de peso;  🙂  🙂  🙂

— Resveratrol aumentou a velocidade de perda volumétrica cerebral;  🙁

— resveratrol mudou a trajetória dos biomarcadores de DA, no sentido de reduzir a queda da proteína beta amilóide no sangue e LCR ao longo de 12 meses de tratamento.  🙂  🙂  🙂

Retirado do paper original:::

“Conclusions: Resveratrol was safe and well-tolerated. Resveratrol and its major metabolites penetrated the blood–brain barrier to have CNS effects. Further studies are required to interpret the biomarker changes associated with resveratrol treatment. Classification of evidence: This study provides Class II evidence that for patients with AD resveratrol is safe, well-tolerated, and alters some AD biomarker trajectories. The study is rated Class II because more than 2 primary outcomes were designated.”

LINKS

Turner et al. A randomized, double-blind, placebo-controlled trial of resveratrol for Alzheimer disease. Neurology 2015.

Ma et al. Resveratrol as a therapeutic agent for Alzheimer’s disease. Biomed Res Int 2014.


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