Por Maramelia Miranda ** . Atualizado em Fevereiro de 2025.
Tags: AVC hemorrágico; trombose venosa; trombose venosa cerebral; trombofilia; tratamento da trombose venosa cerebral; COVID e trombose venosa; tratamento.
O que é a Trombose Venosa Cerebral?
Trombose venosa cerebral (TVC) é um tipo mais raro de AVC que acontece quando coágulos de sangue ficam parados nas veias cerebrais, chamadas de seios venosos cerebrais. Estas veias são muito importantes, pois drenam todo o sangue do cérebro.
Portanto, os coágulos causam a obstrução desta drenagem e iniciam uma cascata de eventos, podendo acarretar o inchaço do cérebro ou de partes do cérebro, dores de cabeça persistentes, alteração da visão, sonolência, alteração da consciência e até mesmo hemorragias intracranianas e coma.
A TVC pode ocorrer em adultos, crianças e até em bebês, sob determinadas condições clínicas.
Quais são as principais causas da Trombose Venosa Cerebral?
Essa doença é um tipo mais raro de AVC. Na população pediátrica, é mais comum observar TVC em recém-nascidos ou bebês nos primeiros meses de vida.
Em crianças e adolescentes até 18 anos, a incidência de TVC é maior, em torno de 3 a cada 300.000 pessoas/ano.
Os fatores de risco para se desenvolver uma TVC são diferentes em adultos e crianças. Nas crianças, incluem:
- Problemas de coagulação
- Anemia ou doença falciforme
- Anemia hemolítica auto-imune
- Beta-talassemia maior
- Doenças cardíacas congênitas ou adquiridas
- Infecções e/ou desidratação extrema
- Traumas do crânio
Nos adultos, os fatores de risco são um pouco diferentes:
- Gestação e período puerperal (pós-parto)
- Obesidade
- Problemas de coagulação; tendência a trombose (trombofilias), como síndrome anticorpo antifosfolípide, deficiência de proteína C ou S, de anti trombina III, de anticoagulante lúpico ou mutações como do Fator V de Leiden ou do gene da protrombina.
- Câncer
- Uso de anticoncepcionais ou terapias hormonais
- Infecções em geral, sobretudo bacterianas na face, região dos olhos e seios paranasais; em 2020, na pandemia do covo coronarírus, há diversos relatos de casos de pacientes com COVID-19 que desenvolveram trombose venosa profunda, embolia pulmonar e alguns raros casos de trombose venosa cerebral
- Doenças do colágeno, como Lupus, Behcet
- Doenças intestinais, como doença de Crohn ou retocolite ulcerativa
Sintomas da Trombose Venosa Cerebral
Os sintomas da TVC podem variar de acordo com a quantidade de seios venosos comprometidos, extensão dos coágulos e com o tempo de início da trombose.
O sintoma principal é a DOR DE CABEÇA. Deixei em caixa alta, pois devemos saber que qualquer dor de cabeça diferente, nova, fora do habitual, mais frequente, que vem vários dias, que não passa, deve ser pesquisada. Principais sintomas de TVC:
- Dor de cabeça persistente, nova, diferente, que piora com o passar dos dias
- Borramento ou embaçamento visual
- Sonolência e alteração da consciência
- Perda de força em algum lado do corpo
- Crises epilépticas (convulsões)
- Confusão mental, lentificação do pensamento, até o coma
Quais exames complementares são necessários para fazer o diagnóstico da Trombose Venosa Cerebral?
Primeiro, é importante saber que o surgimento de qualquer dor de cabeça diferente ou nova implica buscar o atendimento profissional, com neurologista ou em serviço médico, e fazer a investigação correta.
Na suspeita de TVC, o paciente deve realizar diversos exames, como a avaliação neurológica, exame de fundo de olho e alguns exames complementares, como:
- Tomografia do crânio (ver figura acima)
- Angiotomografia venosa do crânio
- Exame de liquor cefalorraquiano (em alguns casos)
- Exame oftalmológico (em pacientes com sintomas visuais)
- Ressonância magnética do crânio com angiorressonância
- Exames de sangue, especialmente pesquisando trombofilias (tendência de trombose no sangue), neoplasias ocultas e doenças reumatológicas
- Angiografia cerebral digital (em alguns casos)
Qual o tratamento da Trombose Venosa Cerebral?
Temos disponíveis hoje 3 possíveis tratamentos, que podem ser feitos de forma isolada ou juntos:
- Tratamento médico (clínico, com medicamentos; e cuidados em UTI)
- Tratamento endovascular
- Tratamento com neurocirurgia
O tratamento principal da TVC é médico (clínico), iniciando o quanto antes a anticoagulação, preferencialmente a enoxaparina subcutânea em dose plena, no hospital. Em alguns dias com esta terapia, usualmente o indivíduo afetado já percebe a melhora do sintoma de dor de cabeça, que é o sintoma mais incapacitante e mais frequente nas fases iniciais da doença. Costuma-se internar o paciente de fase aguda em ambiente de UTI, nos primeiros dias, para melhor vigilância clínica. A demora em se identificar e tratar a TVC pode levar à piora do quadro clínico e dos sintomas, e o surgimento de complicações e formas graves da doença. Daí a importância do reconhecimento e imediato tratamento diante de uma suspeita.
Além da anticoagulação, são medidas importantes manter uma boa hidratação do paciente (por via oral ou venosa), identificar e tratar infecções, se estiverem presentes; dar medicamentos para convulsões, quando estas ocorrem; para alguns tipos de casos de TVC com hematomas intracranianos ou refratariedade aos tratamentos convencionais, cirurgia pode ser necessária. Em casos muito extensos e graves, com muito edema cerebral, a indicação de neurocirurgia pode ser necessária, como descompressão do estado de hipertensão intracraniana.
Outro tratamento possível é tratamento endovascular, através de cateterismo das veias intracranianas, com o uso de trombolíticos ou a retirada direta do trombo por este tipo de procedimento. O tratamento endovascular tem sido utilizado em parte dos casos, sobretudo os mais graves, com trombose de veias mais profundas, ou em pacientes que se apresentam com coma ou naqueles sem melhora com o tratamento convencional médico (anticoagulação).
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** Dra. Maramélia Miranda é neurologista clínica e neurologista vascular. Fez residência e pós-graduação em Neurologia pela UNIFESP-EPM, e é especializada em AVC, neurointensivismo e Doppler Transcraniano, e editora do blog iNeuro.com.br.