Trombose Venosa Cerebral

Por Maramelia Miranda ** . Atualizado em Julho de 2020.

Tags: AVC hemorrágico; trombose venosa; trombose venosa cerebral; trombofilia; tratamento da trombose venosa cerebral; COVID e trombose venosa; tratamento.

O que é a Trombose Venosa Cerebral?

Trombose venosa cerebral (TVC) é uma doença neurológica, um tipo mais raro de AVC (ou doença vascular cerebral) que acontece quando coágulos de sangue ficam parados obstruindo as veias cerebrais, chamadas de seios venosos cerebrais. Estas veias são muito importantes, pois drenam todo o sangue do cérebro. Portanto, a obstrução desta drenagem pelos coágulos nos seios venosos inicia uma cascata de eventos intracranianos, podendo acarretar o inchaço do cérebro ou de partes do cérebro, dores de cabeça persistentes, alteração da visão, sonolência, alteração da consciência e até mesmo hemorragias intracranianas e coma.

A TVC pode ocorrer em adultos, crianças e até em bebês, sob determinadas condições clínicas.

Quais são as principais causas da Trombose Venosa Cerebral?

Essa doença é um tipo mais raro de AVC, que afeta cerca de 5 pessoas, a cada um milhão de pessoas/ano. Na população pediátrica, é mais comum observar TVC em recém-nascidos no primeiro mês de vida. Em crianças e adolescentes até 18 anos, a incidência de TVC é maior, em torno de 3 a cada 300.000 pessoas/ano.

Os fatores de risco para se desenvolver uma TVC são diferentes em adultos e crianças. Nestas, incluem:

  • Problemas de coagulação
  • Anemia ou doença falciforme
  • Anemia hemolítica auto-imune
  • Beta-talassemia maior
  • Doenças cardíacas congênitas ou adquiridas
  • Infecções e/ou desidratação extrema
  • Traumas do crânio

Nos adultos, os fatores de risco são um pouco diferentes:

  • Gestação e período puerperal (pós-parto)
  • Obesidade
  • Problemas de coagulação; tendência a trombose (trombofilias), como síndrome anticorpo antifosfolípide, deficiência de proteína C ou S, de anti trombina III, de anticoagulante lúpico ou mutações como do Fator V de Leiden ou do gene da protrombina.
  • Câncer
  • Infecções em geral, sobretudo bacterianas na face, região dos olhos e seios paranasais; em 2020, na pandemia do covo coronarírus, há diversos relatos de casos de pacientes com COVID-19 que desenvolveram trombose venosa profunda, embolia pulmonar e alguns raros casos de trombose venosa cerebral
  • Doenças do colágeno, como Lupus, Behcet
  • Doenças intestinais, como doença de Crohn ou retocolite ulcerativa

Sintomas da Trombose Venosa Cerebral

Os sintomas da TVC podem variar de acordo com a quantidade de seios venosos e de coágulos comprometendo a circulação venosa intracraniana, e com o tempo de início da trombose. Inegavelmente, o sintoma principal é a DOR DE CABEÇA. Deixei em caixa alta, pois devemos saber que qualquer dor de cabeça diferente, mais frequente, que vem vários dias, que não passa, deve ser pesquisada. Principais sintomas de TVC:

  • Dor de cabeça
  • Borramento, ou embaçamento visual
  • Sonolência e alteração da consciência
  • Perda de força em algum lado do corpo
  • Crises epilépticas (convulsões)
  • Confusão mental, lentificação do pensamento, até o coma

Quais exames complementares são necessários para fazer o diagnóstico da Trombose Venosa Cerebral?

Primeiro, é importante saber que o surgimento de qualquer dor de cabeça diferente ou nova implica em logo procurar um neurologista ou serviço médico, e fazer a investigação correta.

Na suspeita de TVC, o paciente deve ser internado e realizar diversos exames clínicos, como avaliação neurológica, exame de fundo de olho e alguns exames complementares, como:

  • Tomografia do crânio (ver figura acima)
  • Angiotomografia venosa
  • Exame de liquor cefalorraquiano (em alguns casos)
  • Exame oftalmológico (em pacientes com sintomas visuais)
  • Ressonância magnética do crânio com angiorressonância
  • Exames de sangue, especialmente pesquisando trombofilias (tendência de trombose no sangue), neoplasias ocultas e doenças reumatológicas
  • Angiografia cerebral digital

Qual o tratamento da Trombose Venosa Cerebral?

O tratamento principal da TVC envolve iniciar imediatamente a anticoagulação, idealmente por via endovenosa ou subcutânea, no hospital. Em alguns dias com esta terapia, usualmente o indivíduo afetado já percebe a melhora do sintoma de cefaleia, o principal e mais frequente sintoma nas fases iniciais da doença.

A demora em se identificar e tratar a TVC pode levar à piora do quadro clínico e dos sintomas, e o surgimento de complicações e formas graves da doença. Daí a importância do reconhecimento e imediato tratamento diante de uma suspeita.

Adicionalmente, junto com a terapia da anticoagulação, são importantes manter uma boa hidratação do paciente (por via oral ou venosa), identificar e tratar infecções, se estiverem presentes; dar medicamentos para convulsões, quando estas ocorrem; para alguns tipos de casos de TVC com hematomas intracranianos ou refratariedade aos tratamentos convencionais, cirurgia pode ser necessária.

Nos últimos anos, o tratamento endovascular, através da realização de cateterismo das veias intracranianas e retirada do trombo por este tipo de procedimento, tem sido utilizado em casos mais graves, com trombose de veias mais profunda e naqueles pacientes que tem quadros de coma ou não melhora com o tratamento convencional com os anticoagulantes.

 

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Guidelines mais recentes e recomendações sobre Trombose Venosa Cerebral

Guideline europeu sobre Trombose Venosa Cerebral

Ferro et al. European Stroke Organization guideline for the diagnosis and treatment of cerebral venous thrombosis – endorsed by the European Academy of Neurology. Eur J Neurology 2017.

Saposnik et al. Diagnosis and Management of Cerebral Venous Thrombosis. A Statement for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke 2011.

 

** Dra. Maramélia Miranda é neurologista clínica e neurologista vascular. Fez residência e pós-graduação em Neurologia pela UNIFESP-EPM, e é especializada em AVC, neurointensivismo e Doppler Transcraniano, e editora do blog iNeuro.com.br.