Craniectomia descompressiva no TCE grave: operar ou não operar?

Já está publicado online na página da New England Journal of Medicine, desde a semana passada, um artigo interessante que promete muitas emoções e controvérsias no meio neurocirúrgico e da Terapia Intensiva Neurológica. O DECRA Trial, um estudo multicêntrico, prospectivo e randomizado, avaliou 155 pacientes admitidos com trauma craniano grave e hipertensão intracraniana, comparando os tratamentos conservador versus a craniectomia descompressiva, na fase aguda e após 6 meses de evolução dos pacientes. Realizado em 15 centros, distribuídos na Austrália, Nova Zelândia e Arábia Saudita, o trial analisou os parâmetros na fase aguda, como tempo de internação, dias de hospitalização, níveis de PIC e PPC, além do desfecho dos pacientes após 6 meses, com a escala extendida de Outcomes de Glasgow.

Pressão intracraniana antes e após os tratamentos conservador e cirúrgico.

A conclusão: em adultos com TCE grave e hipertensão intracraniana refratária, “early bifrontotemporoparietal decompressive craniectomy decreased intracranial pressure and the length of stay in the ICU, but was associated with more unfavorable outcomes.”

Desfechos desfavoráveis ocorreram em 70% dos casos operados, versus 51% nos tratados clinicamente.
Desfechos desfavoráveis ocorreram em 70% dos casos operados, versus 51% nos pacientes tratados clinicamente (p=0.02).

Controverso… Bem controverso. Vale a pena ver o artigo na íntegra, as tabelas de desfechos, o timing da cirurgia, os critérios de HIC utilizados, entre outras variáveis.

Para ver o artigo em PDF, é só clicar AQUI.

Ah! Quase que ia esquecendo: tem também um editorial, sobre o artigo publicado: AQUI.

Como medir a qualidade do atendimento em Centros de AVC

Seu hospital tem a intenção de ser creditado como um Centro de AVC? Quer integrar o grupo de centros no mundo que tem o tratamento estandartizado ao AVC, em consonância com os atuais guidelines de tratamento, constantemente publicados pelas American Heart Association e American Stroke Association?

Então você tem que ler o Guideline sobre Indicadores de Qualidade nos “Stroke Centers”, publicado em Janeiro de 2011. Este documento detalha as variáveis usadas para indicar a qualidade no atendimento ao AVC, desde medidas como a simples anotação da escala do NIH do paciente, na entrada do hospital, até variáveis mais complexas, como taxas de complicações em procedimentos, ressangramentos em situações como ruptura de aneurismas – hemorragia meníngea, ou complicações em terapia endovascular (coiling ou angioplastias), entre outros.

Leitura muito, muito interessante!

Artigo na íntegra – AQUI.

Terapia “bridging” – “Bridging Therapy” – no AVC isquêmico agudo

Após alguns meses de intenso trabalho, sem ter tanto tempo para nosso Blog, volto comentando o editorial da Stroke deste mês, que fala sobre a “bridging therapy” (combinação de tratamento com rTPA EV + trombólise IA) no AVC isquêmico agudo, com base no artigo publicado na mesma revista, pelo grupo de Barcelona (Rubiera e col., 2011), sobre este interessante tema.

Rubiera e colaboradores encontraram taxas de recanalização maiores com a terapia combinada , quando compararam com um grupo controle de não-respondedores ao rTPA EV (45.2% versus 18.1%, P=0.002), bem como maior percentagem de pacientes funcionalmente independentes após 3 meses de follow-up (OR, 3.75; 95% IC, 1.62 to 8.67).

Entretanto, a morbimortalidade no grupo submetido à terapia combinada também foi elevada, com um OR de 1.49; 95% IC, 0.70 a 3.16 para morte; e OR de 2.14; 95% IC, 0.58 a 7.83 para hemorragia intracraniana sintomática.Vale a pena ler!  CLIQUE AQUI para ver o editorial! E quem quiser o artigo na íntegra, pode me escrever!

PS. Prometo não ficar mais tanto tempo longe de vocês!

Atualização sobre a prevenção primária do AVC é publicada na Stroke

Foi publicado no último dia 2 de dezembro, na revista Stroke, da American Heart Association e American Stroke Association, um guideline atualizado sobre a prevenção primária no AVC.

Uma dos principais destaques nesta edição do guideline de prevenção primária é a mudança do título do documento, que anteriormente referia-se à prevenção primária apenas do AVC isquêmico (AVCi), e agora inclui também recomendações para o screening de fatores de risco relacionados às hemorragias intracranianas / HSAs, pesquisa de aneurismas intracranianos não rotos em pacientes assintomáticos, em associação às estratégias de prevenção primária do AVCi. Sabe-se que muitos dos fatores de risco para AVC hemorrágico se superpõem aos fatores de risco para o AVCi. Por este motivo, o novo documento refere-se à “Prevenção Primária do AVC”.

Outro tópico importante que sofreu algumas mudanças de redação nas recomendações foi o manejo das estenoses carotídeas assintomáticas, baseadas sobretudo nos resultados do estudo CREST, sobre endarterectomia versus angioplastia / stenting carotídeo. Com base nos resultados do CREST, agora a recomendação é de maior discussão e individualização da conduta de revascularização carotídea nos pacientes assintomáticos, com tendência à escolha da endarterectomia, em serviços com morbimortalidade deste procedimento abaixo de 3%. Além disso, o guideline inclui os limites de estenoses assintomáticas a partir dos quais estão indicados os procedimentos, com base nos critérios utilizados no CREST.

O texto, assim como acontece com todos os guidelines da AHA e ASA, tem acesso livre na Internet, e para visualizar o guideline em sua versão pdf, acesse aqui.

Boa leitura a todos!

AHA e ASA publicam guideline atualizado de Prevenção Secundária do AVCi

Em 25 de outubro último, a Stroke publicou em sua homepage o consenso atualizado sobre a prevenção secundária de AVC ou AIT, publicação oficial da American Heart Association e American Stroke Association, endossada pela American Academy of Neurology e American Association of Neurological Surgeons.

Mais tarde, após rever o consenso, detalharemos as novidades desta nova atualização…

Para baixar a versão original do guideline 2010 de prevenção secundária de AVC da AHA/ASA, acesse aqui.

Doença coronariana em pacientes com AVCI ou AIT do estudo SPARCL

* Por Daniela Laranja

Amarenco e colaboradores publicaram uma análise post-hoc do estudo SPARCL, em março de 2010, demonstrando benefícios adicionais com o uso de atorvastatina após AVCI ou AIT, em relação ao risco de desenvolvimento de eventos coronarianos.
O SPARCL foi importante em comprovar o benefício do uso de 80 mg de atorvastatina diariamente na prevencão secundária, tanto de eventos cardio como cerebrovasculares, em 4731 pacientes com AVCI ou AIT, mas sem história conhecida de doença arterial coronariana (DAC).

A frequência de eventos coronarianos maiores (morte de etiologia cardíaca, infarto do miocárdio não-fatal, ou procedimento de revascularização cardíaca), ou qualquer evidência clínica de DAC, desfechos secundários avaliados no referido estudo clínico, foi significativamente menor nos pacientes que utilizaram atorvastatina, comparados ao grupo placebo. A frequência de eventos  coronarianos maiores foi de 3,4%  versus 5.1%, e a de evidência clínica de DAC foi de 5,2% versus 8.6%, nos grupos de tratamento versus controles (respectivamente). Durante o decorrer do SPARCL, o risco de AVCI reduziu ao longo do tempo de follow-up de 4.9 anos, enquanto o risco de eventos coronarianos permaneceu estável. Adicionalmente, não houve diferenças entre a ocorrências de DAC clínica ou de eventos coronarianos maiores, nos subgrupos de AVCI por aterosclerose de grandes artérias, AIT, AVCH, doença lacunar ou AVCI indeterminado, indicando que o impacto / risco da doença cardíaca coronariana é semelhante nos pacientes com AVCI ou AIT de origem não carotídea, comparados com os portadores de doença carotídea.

Apesar de ser uma análise post-hoc, com amostra de pacientes insuficientes, e sem poder estatístico para a demonstração do risco de eventos coronarianos maiores nos diferentes subtipos de AVC, e tendo sido esta subclassificação dos AVCs não estandartizada / adjudicada pelo comitê central do SPARCL, a publicação conclui que a doença cardíaca coronária é substancialmente reduzida em pacientes com AVCI ou AIT que usaram atorvastatina 80mg ao dia, independente do subtipo de AVC.

Artigo na íntegra:

http://stroke.ahajournals.org/cgi/reprint/41/3/426

* Daniela Laranja é neurologista vascular e neurossonologista, na Neurologia Vascular da UNIFESP/EPM.

Aspirina na prevenção primária em diabéticos: Necessária?

Um novo consenso da American Heart Association, sobre o uso de aspirina na prevenção primária de doenças cardiovasculares, em diabéticos, recomenda que baixas doses de AAS em pacientes com diabetes é “razoável” naqueles sem história de doença vascular, mas que tem um risco de eventos cardiovasculares aumentado nos próximos 10 anos.

Estas novas recomendações – feitas em conjunto com o American College of Cardiology e a American Diabetes Association, chamam atenção para um critério mais estreito no uso de aspirina em diabéticos. Apenas homens acima de 50 anos e mulheres acima dos 60 anos com um ou mais fatores de risco adicionais, além do diabetes, seriam a população que se beneficiaria do uso. Anteriormente, qualquer diabético acima dos 40 anos teria indicação de usas AAS em baixas doses. Agora, as recomendações são mais conservadoras e cuidadosas no seu uso indiscriminado, com base em novos estudos de prevenção recentemente publicados.

O novo statement recomenda, portanto, o AAS em baixas doses (75 a 162mg/dia)para adultos com DM e sem história de DCV, mas que estão com risco aumentado, baseado em variáveis como idade e no mínimo um fator de risco adicional, como tabagismo, dislipidemia, hipertensão, história familiar de DCV, e albuminúria. Classe desta recomendação: IIa, com nível de evidência BA aspirina não está recomendada para diabéticos de alto risco com risco adicional de sangramento, bem como para indivíduos com baixo risco de eventos CV. Para estes, o oso do AAS “pode ser considerado” até que futuras pesquisas estejam disponíveis.

Referências:

Pignone M, Alberts MJ, Colwell JA, et al. Aspirin for primary prevention of cardiovascular disease in people with diabetes. Circulation 2010;  Diabetes Care 2010; 33:1395-1402. 

Antithrombotic Trialists’ (ATT) Collaboration. Aspirin in the primary and secondary prevention of vascular disease: collaborative meta-analysis of individual participant data from randomised trials. Lancet 2009; 373:1849-1860. 

Angiotomografia e o padrão das placas ateroscleróticas nas coronárias

AngioTomografia das coronárias pode identificar quais são as características de placas coronárias intermediárias estão associadas a maior risco de isquemia, sem a necessidade de realizar imagem com perfusão.

No encontro anual da Society of Nuclear Medicine, Dr. Haim Shmilovich (Cedars-Sinai Medical Center, Los Angeles, CA) apresentou os resultados de seu estudo, uma análise retrospectiva de 34 pacientes com doença coronária, cujas placas estenóticas tinham entre 70 a 89% de obstrução luminal. Os pacientes foram avaliados com AngioTC coronária e Imagem de perfusão miocárdica após 6 meses. Placas contendo determinadas características na AngioTC, especialmente centro lípidico, foram mais comumente relacionadas à isquemia do que as placas sem estas características. Um exemplo apresentado foi de um paciente com 81% de estenose sem isquemia, e outro caso com 70% de estenose com isquemia. “Ischemia is not just a matter of the severity of the blockage in the coronary artery but the composition of the plaque,” palavras do Shmilovich. “Nós tendemos a analisar a severidade das estenoses, e não avaliar apenas os números. Agora nós entendemos que a composição da placa também importa”.

Se estes resultados iniciais se confirmarem em estudos maiores, os pacientes com placas com estas características na AngioTCC devem ser encaminhados para intervenção sem a necessidade de confirmação de teste isquêmico positivo”In the future, it might imply better management of the patient.”

E qual é o perfil de placa “ruim”? Centro lipídico com áreas de hipoatenuação na AngioTCC, calcificações puntiformes com padrão “spotty” – menores de 3mm em extensão e ocupando menos de 180 graus no eixo axial da circunferência do vaso. Outro aspecto é a remodelação positiva, definida como: “a maximal outer vessel diameter along the plaque exceeding the diameter of the proximal reference vessel segment by at least 5%”.

A presença de isquemia regional foi mais prevalente em placas com core lipídico (80% vs 21%, p=0.001) depois de ajustar par a severidade da estenose e outras características da placa, mas uma relação similar não foi encontrada com as calcificações  “spotty”ou a remodelação positiva.

The first

 

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