LEITURAS DA SEMANA

José Genoino recebe alta médica após 27 dias no Sírio. Você, eu e os brasileiros pagadores de impostos, devemos estar cientes: a conta do Sírio-Libanês deve chegar a R$ 1 milhão. E será apresentada à Câmara dos Deputados para reembolso do paciente. Do Site Ucho.Info.

Artigo de revisão da série incrível Continuum (este capítulo está free na Internet!!!), da Academia Americana de Neurologia:: Diagnosis and Differential Diagnosis of Multiple Sclerosis.

Abstract do artigo novíssimo sobre o banco de dados do registro SITS, publicado mês passado na JAMA Neurology, concluindo que dar rTPA EV em AVCi de 4.5 a 6h é seguro, com resultados similares aos que tomam o tronmbolítico até 6 horas. Quem tiver acesso aos periódicos da CAPES, pegue o artigo completo lá!

Estudo piloto sobre ablação térmica do tálamo (talamotomia) com Ultrassom transcraniano guiado por ressonância, para o tratamento de tremor essencial refratário, publicado na NEJM. Disponível só para assinantes (Quem tiver este paper na íntegra, mande-me, please!)

images   Tomar café da manhã faz bem. Pular esta refeição levou a 27% maior risco de doença coronariana, num estudo com mais de 26 mil homens saudáveis… Está publicado, na Circulation do mês passado.

Você quer chegar aos 60-70 anos com a velocidade da sua a. cerebral média de 60cm/seg ou de 30-40cm/seg (como habitualmente vemos em idosos)???? Escolha agora, se ainda tiver tempo. Veja isso AQUI —Elevated Aerobic Fitness Sustained Throughout the Adult Lifespan Is Associated With Improved Cerebral Hemodynamics, Stroke 20 ago 2013.

Stroke Imaging Research group: STIR procura centros de Neuroimagem avançada em AVC agudo!

Por Maramelia Miranda

Recentemente, um grupo de especialistas em AVC com interesse específico na Neuroimagem formou um grupo, denominado Stroke Imaging Research (STIR) group, ou simplesmente STIR.

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Na última edição da Stroke, o STIR group fez um chamamento para uma pesquisa que está já em andamento, avaliando como andam os serviços de Neuroimagem em todo o mundo, que recebem e tratam pacientes com AVC na fase aguda. O artigo, denominado “International Survey of Acute Stroke Imaging Capabilities: We Need You!”, literalmente chama os centros interessados a participar da pesquisa atual, e quem sabe, a depender da qualidade e capacidade destes centros respondedores, em possíveis futuros estudos clínicos envolvendo Neuroimagem avançada no AVC agudo.

Por enquanto, apenas um centro sul-americano participou da pesquisa, mas certamente muitos dos principais centros médicos acadêmicos e privados brasileiros já trabalham há alguns anos com plena capacidade de realizar os exames corriqueiramente feitos nos EUA e Europa para estes pacientes, como a ressonância magnética (RM) na fase aguda, perfusão por RM ou por tomografia, bem como serviços integrados com a neurorradiologia intervencionista e equipes multidisciplinares com expertise em AVC agudo.

Oportunidade única: Neuros-Brazucas, vamos mostrar realmente o que já temos, o que já fazemos, e o nosso extremo potencial! Participem!

Acesso à pesquisa AQUI –> https://www.surveymonkey.com/s/DQRDYB2.

Deadline para responder o questionário: September 31, 2013.

Aos chefes e/ou respondedores da pesquisa acima: Idealmente, para responder o questionário completo sem falhas, tenham em mãos os nomes dos Neurorradiologistas responsáveis do seu serviço, bem como todos os métodos de neuroimagem disponíveis localmente e telefones / emails para contato de todos…

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Temos que mostrar quem somos!

Polêmica: Quanto custa a hemicraniectomia no infarto maligno da cerebral média?

Por Maramélia Miranda

O tempo passa, e a polêmica volta à tona reiteradamente: Quanto custa? É efetivo? É benéfica a cirurgia descompressiva no infarto hemisférico, no AVC isquêmico maligno da artéria cerebral média (ACM)? Vale a pena fazer?

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Os estudos DECIMAL, DESTINY e o HAMLET, e depois a análise conjunta destes três trials, publicada em 2007, demonstraram claramente que a cirurgia de hemicraniectomia descompressiva no infarto maligno da ACM reduz significativamente a mortalidade dos pacientes afetados, sobretudo nos pacientes mais jovens, e levando a um menor grau de dependência quando em AVCs do hemisfério cerebral direito. Entretanto, a faixa etária acima dos 60 anos também é beneficiada, a despeito das variáveis de idade e comorbidades associadas, conforme novos trabalhos recentemente publicados.

Fazer ou não fazer? 

Que os pacientes operados morrem menos, esta é apenas a hipótese (mais racional) que foi comprovada nos diversos estudos clínicos. A doença é muito grave, e sua história natural é reconhecidamente para a morte secundária à hipertensão intracraniana.

Aqui peço a permissão de vocês, leitores, para pontuar uma reflexão filosófica-teológica-física: aos crentes em algo ou alguém, e aos agnósticos também — não é à toa que Deus ou o que quer em que você acredite, ou, para os ateus/agnósticos, que as leis da física levem à falência total dos mecanismos de compensação pressóricos e circulatórios de um sistema hermeticamente fechado como é o encéfalo e as estruturas presentes dentro da calota craniana. Ou seja, Deus, ou alguém, ou algo, ou a natureza mesmo, algum destes, ou até mesmo todos estes juntos, são sábios ao permitir que uma pessoa com um AVC isquêmico hemisférico morra horas ou dias a seguir do evento. Se sobrevivem, podem ficar muito sequelados, dependendo dos outros para quase tudo das atividades básicas de suas vidas, alguns sem falar nada, afásicos, mudos. Outros demenciados. Alguns incontinentes. A maioria hemiplégicos.

No meio de tudo isso, volta a perguntinha: Vale à pena?

Quanto custa este paciente, do ponto de vista social, econômico? Quanto custa para suas famílias, em relação ao desgaste pessoal, emocional, financeiro, total!!!! De ver, viver aquela situação?

E para o próprio paciente-sobrevivente, quanto custa a perda de boa parte da própria dignidade, e de uma mudança completa de suas relações interpessoais e familiares? Algumas das perguntas podem ser medidas, outras não.

Análise econômica: HAMLET trial

Hofmeijer e colaboradores publicaram este mês na Stroke uma análise de custo-efetividade da doença e de seu tratamento de primeira linha. Analisaram 39 pacientes alocados no estudo HAMLET, que foram randomizados antes das 48 horas, para os dois tipos de tratamento.

Leiam. É interessante. Os autores escreveram o seguinte na discussão final dos resultados (transcrevo literalmente):

“(…) In patients with space-occupying hemispheric infarction, surgical decompression leads to an increase in QALYs. However, this increase comes at the expense of a large increase in costs, with €127 000 per QALY gained in the first 3 years and an estimated €60 000 per QALY gained during the lifetime.”
E no abstract, concluem assim: “Surgical decompression for space-occupying infarction results in an increase in QALYs, but at very high costs.”

Um grupo americano também achou estes mesmos resultados… Respondendo à questão econômica: custa muito caro.

Vejam links abaixo.

LINKS

Hofmeijer et al. Cost-Effectiveness of Surgical Decompression for Space-Occupying Hemispheric Infarction. Stroke 2013.

Akkbar et al. Cost Effectiveness of Decompressive Hemicraniectomy Versus Medical Management in Patients with Malignant Ischemic Stroke. Neurology 2013.

Os mistérios da Amnésia Global Transitória

Por Maramélia Miranda

Vemos regularmente, aqui e ali, casos de Amnésia Global Transitória (AGT) na nossa prática clínica. Costumo falar: nem é raro, nem é frequente, mas “de tempos em tempos, sempre aparece um casinho”.

Capa do livro sobre o tema, do neurologista Britt Daniel. Fonte: site do autor.
Capa do livro sobre o tema, do neurologista Britt Daniel. Fonte: site do autor.

Sintomas inconfundíveis, quadro clínico clássico (veja AQUI os critérios diagnósticos), e quase sempre chegam com a história bonitinha, redonda, como se tivessem realmente “lido o livro” para nos contar.  O paciente, coitado, geralmente assiste a narrativa da família ou testemunha rindo de si mesmo!

Mas a pergunta que até hoje tentamos responder é: de onde vem isso!? Que coisa maluca-cinematográfica-novelesca é essa que deixa o indivíduo sem saber onde foi, o que fez ou o que iria fazer… Muitos dos casos conta que chegou a pegar o carro, dirigir, pagar contas em banco e sacar dinheiro, fazer supermercado, tudo em plena crise de AGT!? E depois não lembra de nada! Que é estranho, isso é!

Teorias

As quatro clássicas teorias de causa epileptogênica, evento pós-estresse / psicogênico, vascular isquêmica e vascular por insuficiência venosa são o atestado maior de que, numa doença com muitas teorias, ninguém sabe realmente de nada!

Atualmente, ganham cada vez mais força na fisiopatologia da AGT: a tese da insuficiência vascular venosa das jugulares, com base nos estudos com ultrassonografia venosa cervical, demonstrando a ocorrência de refluxo venoso jugular bem mais prevalente na população com AGT quando compara-se com controles normais. E a teoria psicogênica, relacionando comorbidades psiquiátricas, estresse e afins com a ocorrência de crises e dos casos raros que recorrem.

Estudos recentes

Barachinni e colaboradores publicaram na Stroke, em 2012, um excelente trabalho com o US venoso cervical e US transcraniano, estudando pontualmente as veias jugulares cervicais e suas válvulas, bem como as veias basais de Rosenthal e veia de Galeno, responsáveis diretas pela drenagem do lobo temporal mesial e hipocampo – local onde são vistos os focos puntiformes de alteração de sinal na ressonância do crânio, em uma parcela dos pacientes (vejam imagem abaixo, de um dos meus recentes casos, e procurem a alteração do hipocampo…).

 Imagem característica de AGT na ressonância: foco puntiforme de restrição à difusão na sequência Difusion-Weighted-Imaging (DWI), localizada estrategicamente no hipocampo esquerdo.

Estranhamente, o grupo italiano não acho nada de errado nas veias intracranianas! Mas confirmaram os achados dos autores e grupos anteriores, de que há, sim, mais casos de insuficiência venosa jugular nos casos de AGT… 

O que fazer, afinal, com os pacientes!?

Continuamos atendendo as AGTs, aos pouquinhos, cada um em seu serviço. Eu conto uma média de 12-15 casos/ano, no serviço onde atuo. Pioneiros e desbravadores da fisiopatologia neurológica começam, timidamente, a pesquisar a tal insuficiência venosa jugular, mas faltam radiologistas/ultrassonografistas treinados e preparados em fazer este difícil exame.

Difícil no nome… US venoso cervical para pesquisa de insuficiência venosa jugular.

Difícil na técnica… Não comprimir as veias, usar muito gel, não dobrar o pescoço dos pacientes, testar em supino e sentado, usar Valsalva, etc…

E a pior parte: Detectamos a insuficiência venosa! E daí?! O que fazer, dizer ou orientar a estes doentes? “Olha, você teve uma AGT, tem uma RM de crânio com um pontinho de infarto no hipocampo, e também possui uma insuficiência venosa jugular.” “Doutora, o que tenho que tomar? Não posso mais transar?!”… Claro que pode fazer tudo, mas que eu tenho vontade de dizer: não sei o que faço com você, ah… Isso tenho. Enquanto minha ignorância não é sanada, dou uma aspirina 100mg ao dia aos meus doentes… E rezo para que alguém me ajude e descubra realmente o que acontece, e o que eu devo fazer!

O nosso colega, Dr. Flávio Carvalho, neurologista da UNIFESP e do HIAE, numa das nossas recentes discussões sobre este tema incrível, falou sabiamente: “O estranho é imaginar que o indivíduo com insuficiência valvar venosa tenha isso todos os dias da vida dele e faça milhares de Valsalvas durante a vida, mas só tenha a repercussão clínica como uma AGT num único dia apenas!? Seria a AGT igual a um acidente de avião (um em um milhão)?”

Ou seja, concordando com ele, tem que ter alguma outra coisa, junto com a insuficiência venosa jugular, para explicar o porque de um evento único, singular, estranho e que quase nunca se repete.

Mistério total. E como dizem nossos amigos yankees e ingleses: “Intriguing disease!”

LEITURINHAS DA SEMANA

Inibidores da ECA (enzima conversora da angiotensina) de ação central podem retardar declínio cognitivo na demência por Doença de Alzheimer, demências vasculares e mistas, afirmam pesquisadores irlandeses, em paper publicado na BMJ de Julho de 2013. Segundo o estudo, provavelmente deve haver um efeito anti-inflamatório central destes anti-hipertensivos, e não tão somente o efeito hipotensor na jogada… Interessante leitura.

Ácido epson-aminocaproico é seguro e pode reduzir taxas de ressangramento até 72 horas da ruptura de um aneurisma cerebral. Artigo novinho da Neurocritical Care, e mais uma evidência pra quem não acredita ainda no Ipsilon (nome da droga – única marca no Brasil), e no que os recentes guidelines de HSA já falam desde o ano retrasado.

ipsilon

Neuroimagem nas demências degenerativas, artigo de revisão de Scott MacGinnis (Cognitive and Behavioral Neurology – MGH) publicado na Seminars in Neurology, free access.

Não adianta mais “uma caminhada, uma esteirinha, 3 vezes por semana”. Tem que ser pelo menos 4 vezes, e tem que suar! Revela um estudo australiano publicado na Stroke de Julho de 2013.

Neurólogos do Brasil: Que tal este dorso para nos inspirar? Vou começar a me despedir do meu sedentarismo HOJE!
Homens: babem. Mulheres: Morram de inveja. Que tal este dorso para nos inspirar? Vou tomar vergonha na cara e tentar abandonar o meu sedentarismo HOJE!

 

Médicos de Portugal revelam: “Se podemos ganhar 5.000 euros [cerca de R$ 15 mil] na Inglaterra, Alemanha, Noruega ou Dinamarca, com condições muito melhores e reconhecimento do diploma para atuar em qualquer lugar, por que viríamos trabalhar no Brasil para ganhar 3.000 euros?, texto da repórter Patrícia Mello, para a Folha.

 

Novas faculdades de Medicina…???

Vejam, leiam dois interessantes artigos da Folha deste domingo, na seção Debates/Tendências…

Mais uma vez, o assunto do momento: Médicos, formação médica, novas políticas do recente governo e Ministérios da Saúde e Educação.

Um dos textos, originalmente AQUI, escrito por uma professora da USP e Mackensie, Maria Paula Dallari Bucci, que já trabalhou no final da década passada, na Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação do governo do PT, ou seja, já esteve lá dentro, e agora vê, de fora, o caos que Mercadante e Padilha estão fazendo (ou querendo fazer…)…

O outro artigo – AQUI, de outro professor da mesma USP, Paulo Carpel Narvai, reflete as necessidades de dar mais acesso à Saúde para os brasileiros mais carentes, argumentando que a criação de novas vagas de Medicina, e maior número de profissionais médicos, pode auxiliar neste trabalho…

Transcrevo o artigo com o qual mais me identifiquei, a seguir.

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“Erro de percurso

A determinação de criar mais 11 mil vagas em cursos de medicina até 2017 é um erro mais grave do que parece. É quase inviável que essas vagas tenham qualidade.

O Brasil já teve algumas faculdades de medicina que eram notórias linhas de produção de médicos despreparados, que descobriam na clínica as falhas de sua formação, resultado, majoritariamente, da falta de treinamento prático e supervisão.

A partir de 2006, com a definição de um novo marco regulatório na educação superior, baseado na avaliação, criou-se fundamento para maior exigência tanto para autorização como para o reconhecimento de cursos, combinada com as disposições jurídicas necessárias para o fechamento daqueles com qualidade insatisfatória, ou pelo menos a redução de suas vagas.

O instrumento de avaliação para autorização de cursos de medicina, contendo as condições mínimas para o seu funcionamento, exige a “disponibilidade de serviços assistenciais, incluindo hospital, ambulatório e centro de saúde”, visando oferecer aos alunos locais de “prática desde os estágios iniciais”.

Essa disposição concretiza objetivo apontado nas Diretrizes Curriculares Nacionais de Medicina, de 2001: “A formação do médico incluirá, como etapa integrante da graduação, estágio curricular”, que deve corresponder a pelo menos 35% da carga horária do curso.

O processo de supervisão de cursos de medicina realizado pela Secretaria de Educação Superior, em 2008, para avaliar as deficiências dos cursos com desempenho insatisfatório no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) revelou que o que mais explicava os resultados negativos era a precariedade do internato, nos dois anos finais do curso, em que se concentra o aprendizado prático. É a fase mais cara e complexa do ensino médico.

Essa experiência embasou um redirecionamento da formação médica de fortalecimento da residência. E hoje esse serviço chegou a locais que até poucos anos atrás eram desassistidos. As iniciativas do programa Mais Médicos desorganizam profundamente a sua evolução.

Também está em risco a possibilidade de racionalização da formação médica baseada em estudo sobre a distribuição geográfica dos médicos no Brasil, que identifique as localidades realmente carentes e oriente a abertura de novos cursos, mediante chamada pública.

O Brasil hoje forma, por ano, cerca de 15 mil médicos. Qual a necessidade e o sentido de quase dobrar o número de ingressantes? E por que fazê-lo em menos de quatro anos?

A criação de 23 novos cursos de medicina, entre 2011 e 2013, somada à anulação dos cortes de vagas efetuados nos processos de supervisão de 2008 retiram toda a credibilidade da promessa de qualidade.

A abertura de mais vagas em cursos de medicina não irá proporcionar a melhoria dos sistemas de saúde locais. Talvez traga algum prestígio às cidades que sediarem esses cursos; há muitos prefeitos que acreditam, de boa-fé, que a presença de uma faculdade de medicina valoriza a cidade e cria um fato que depois justificará romarias a Brasília pedindo hospitais, verbas, pessoal, enfim, toda a estrutura que hoje falta à saúde pública e que faltará também ao curso nascente.

Mas quem certamente ficará satisfeito com a perspectiva das novas vagas são as instituições privadas, cujo retorno financeiro virá não apenas dos cursos de medicina, mas também do ganho marginal com outros cursos da área da saúde que a instituição ofereça. E depois desses desacertos, voltaremos a ouvir as velhas promessas de melhoria da qualidade da educação superior. Esse problema, o país já demonstrou que pode e quer enfrentar.”

Entenda quais comorbidades podem se associar à Hidrocefalia de Pressão Normal

Por Maramelia Miranda

O diagnóstico de Hidrocefalia de Pressão Normal idiopática (HPN) é fácil. Fácil?! Nem tanto. Com os casos de demência chegando cada vez mais nos consultórios neurológicos, atentar para este diagnóstico e, principalmente, evitar o superdiagnóstico desta condição, é fundamental.

A tríade clássica de ataxia, distúrbios esfincterianos e declínio cognitivo rápido nem sempre está presente na HPN. Quando está, pode já ser um sinal de doença mais avançada. Além do que, em se tratando de idosos, sabemos que os sintomas cardinais da HPN (memória, esfincter e marcha) são queixas extremamente frequentes!!!!!!

Senão vejamos:

1 – Quem já não viu distúrbios de marcha em idosos que podem ser simplesmente sinal / sintoma de artrose, doenças do quadril, dores da coluna, estenoses de canal, ou uma instabilidade postural de um quadro de parkinsonismo…? Ou um quadro pseudo-bulbar de uma demência vascular?

2 – O que falar então dos idosos que tem incontinência urinária? No homem, uma causa frequente são os problemas prostáticos; nas mulheres, doenças como infecções urinárias de repetição e/ou déficits da musculatura pélvica…

3 – Finalmente, a queixa de memória, tão frequente nos dias de hoje, associadas com comorbidades psiquiátricas, depressão, ansiedade, passando por perda de memória associada à idade, e chegando finalmente nas demências degenerativas, e aí entrando como diagnóstico principal a demência por Doença de Alzheimer…

Ou seja, podemos ter em nossas mãos um caso de HPN, ou algo misto, ou algo não-HPN…

Malm e colaboradores publicaram uma revisão recentemente, que revisa e comenta exatamente sobre estas doenças todas que podem simular ou estarem presentes concomitantemente nos pacientes com HPN, doença ainda estranha, que perturba e confunde as nossas cabecinhas. O documento recomenda um conjunto de medidas a serem feitas em casos quando há suspeita das comorbidades que podem simular e confundir o diagnóstico de HPN.

Malm et al. Influence of comorbidities in idiopathic normal pressure hydrocephalus — research and clinical care. A report if the ISHCSF task force on comorbities in INPH. Fluids and Barriers of the CNS, 2013.