Leituras da semana…

Maria Konnikova. What’s Lost as Handwriting Fades. NY Times, 2 jun 2014. Na era tecnológica, onde tudo envolve computadores, smartphones, tablets, será que ainda há espaço para a escrita manual? O artigo fala sobre alguns estudos, entre eles um feito por Karen James e Laura Engelhardt, que demonstram o benefício ao cérebro das crianças de ainda se ensinar a escrita cursiva… Leia.

Sara Bower. The Best Amusement Parks In America. Business Insider, 25 mai 2014.

Usamos muito a classe de antidepressivos na nossa prática. Temos que saber seus efeitos colaterais… Este artigo publicado na JAMA Psychiatry (que por sinal está com acesso livre!!!!) é bem interessante… Blumenthal et al. An Electronic Health Records Study of Long-Term Weight Gain Following Antidepressant Use. JAMA Psychiatry 2014.

Em tempos de copa do mundo (inevitável para quem está aqui no nosso país), um site trouxe as placas da FIFA e dos restaurantes, colocadas nas cidades-sede, e as brincadeiras que as pessoas acabam fazendo com as traduções “bizarras”. Do site Virgula.com.br. 

Neuropalliative Care: Como eu traduzo isso?

Por Maramelia Miranda

Comecei a ler este artigo, achei-o bem interessante, e assim como faço sempre, vou lendo e fazendo a resenha para divulgar aqui. 

Mas… Na hora de passar para o português, a dúvida: Como traduzir esta nova “subespecialidade”, este novo campo de atuação da Neurologia? Seria, por acaso, Cuidados Neuropaliativos?!  🙂

O artigo, um texto curto (3 páginas), está publicado ASAP esta semana na Neurology – AQUI. Acesso free, livre! Corram para baixar!!!! 

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Número de hospitais nos EUA com equipe de Cuidados Paliativos. Fonte: capsules.jaiserhealthnews.org.

Robinson & Barrett discutem no texto sobre a especialidade já consolidada nos EUA, a Medicina Paliativa, e uma nova visão de mercado da conjunção desta área médica com a nossa especialidade, uma vez que tratamos de muitos casos com sequelas sérias, cuidamos de muitos pacientes com doenças degenerativas e incuráveis bastante sérias, onde este assunto quase sempre vem à tona.

O trato dos pacientes, de suas famílias, saber como abordar temas tão delicados, como perceber as expectativas de todos, algumas reais, outras totalmente irreais, sobretudo em um país com uma cultura latina, religiosa tão forte, como é o nosso… Em um país onde não há a prática de retirada de cuidados, diferentemente de outros locais…

Este é um tema, uma área que deveria fazer, necessariamente, parte da formação dos nossos residentes em Neurologia, e diria também (por que não?!), dos residentes da Neurocirurgia… Na UNIFESP, os residentes da Neuroclínica passam em rodízio com o grupo de Cuidados Paliativos. Certíssimo. Tem que ser.

Leiam o texto. Vale a leitura.

LINKS

Robinson & Barret. Emerging Subspecialties in Neurology: Neuropalliative care. Neurology 2014.

Estudo STASH aposenta de vez a sinvastatina: Entenda tudo aqui!!!

Por Daniel Bezerra e Maramelia Miranda

O Estudo STASH foi desenhado para avaliar uma tese recorrente no Neurointensivismo: As estatinas funcionam para prevenir vasoespasmo em hemorragia subaracnoidea, ou para melhorar desfechos clínicos?

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O estudo multicêntrico, duplo-cego, prospectivo, envolvendo 803 pacientes em 9 países, teve financiamento público (nada de indústria), e testou placebo versus sinvastatina 40mg ao dia, nos casos de HSA randomizados até 96 horas do icto.

O desfecho medido foi a escala de Rankin modificada em 6 meses, tendo sido favorável (mRS 0-2) em 271 casos do grupo ativo versus 289 do placebo (cerca de 70% dos casos). Houve 37 (10%) mortes no grupo da sinvastatina e 35 (9%) no placebo (p=0,59).

Conclusão dos autores: O STASH trial não detectou benefício no uso de sinvastatina nos desfechos a curto ou longo prazo em pacientes com HSA. 

Conclusão nossa: Mais uma batalha pedida. Esqueçam a estatina na HSA. O que podemos fazer para os nossos casinhos de vasoespasmo e HSA!?

LINKS

Kirkpatrick et al, for STASH Trial. Simvastatin in aneurysmal subarachnoid haemorrhage (STASH): a multicentre randomised phase 3 trial. Lancet Neurology 2014.

MacDonald RL. Are statins to be STASHed in subarachnoid haemorrhage? Lancet Neurology 2014.

 

European Stroke Conference: Racha em 2015!

 Por Maramelia Miranda

É o seguinte: A partir do próximo ano, teremos duas conferências européias de AVC: Uma em Vienna, outra em Glasgow.

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Opa! Alguém está confuso aí? Explico.

A European Stroke Conference era um meeting único, até este ano, em Nice, quando houve uma discussão sobre os direitos da conferência, questionamentos políticos, entre outros mais, e o que estava até então evitável, aconteceu: literalmente um racha do evento!

A partir do próximo ano, teremos dois eventos… A European Stroke Organisation Conference – ESO Conference 2015, que será a conferência oficial da European Stroke Organisation (ESO), e a European Stroke Conference 2015, que será organizada pelo Michael Hennerici e pela European Stroke Research Foundation, que detém os “direitos” deste nome e da conferência e sua organização há anos e anos… Desde 1990.

O mais engraçado (ou trágico, conforme avaliem a bizarra situation!) são os sites das respectivas conferências, falando nas “razões para comparecer a ESTA ou AQUELA conference”…

Naveguem nos sites – AQUI e AQUI, e terão uma ideia do que aconteceu em Nice este ano. Leiam especificamente as “cartas” tentando explicar o que houve! 

Não estava lá esse ano. Lamentei quando soube. Perdem todos. Só estou curiosa para saber uma coisa: Quem “vencerá” esta guerra? Porque se já estava difícil ir a uma conferêrncia européia todo ano, imaginem duas!!! Impossible, my dear!

Eu já fiz a minha escolha. E vocês? Coloquei uma pesquisinha a seguir, para saber o que vcs acham… 

 

Hidrocefalia de Pressão Normal: Acetazolamida funciona?!

Não sei, talvez funcione um pouco.

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É o que tentou responder um grupo de neurologistas da Universidade de Miami e da Cornell University. Este estudo piloto com apenas 8 casos de HPN, avaliando marcadores de neuroimagem após o tratamento com doses baixas de acetazolamida (125–375 mg/dia), droga comumente usada em hipertensão intracraniana idiopática (HII), ou pseudotumor cerebrii, foi publicado na edição mais recente da Neurology. O mesmo grupo já havia apresentado os resultados preliminares no congresso da AAN em 2012.

Alperin e colaboradores estudaram os volumes de hiperintensidades da substância branca global e periventriculares dos pacientes randomizados, e alterações da marcha (pela escala de Boon). Dos 8 casos incluídos no estudo, 5 responderam positivamente, com melhora média de 4 pontos na escala de Boon e redução significante do volume da hiperintensidade da substância branca periventricular (−6.1 ± 1.9 mL, p = 0,002), após o tratamento. Um dos casos não teve melhora, e outros 2 pioraram e foram encaminhados para cirurgia. Não houve redução significativa do volume da HSBP nos casos operados. 

Conclusão dos autores: Baixas doses de acetazolamida podem reduzir a hiperintensidades de substância branca periventriculares da HPN e melhorar sintomas de marcha em casos de HPN idiopática. Adicionalmente, advogam que a volumetria das hiperintensidades da substância branca periventriculares, feitas pela RM, é um potencial marcador radiológico de desfechos dos casos de HPN, que podem ser utilizados em estudos futuros.

LINKS

Relken et al. Apresentação do piloto do trabalho na AAN 2012.

Alperin et al. Low-dose acetazolamide reverses periventricular white matter hyperintensities in iNPH. Neurology 2014.

ARUBA Trial: O que é melhor nas MAVs assintomáticas?

Por Maramelia Miranda (Atualizado em Fev 2016)

Ainda é o tratamento clínico.

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Esta foi a conclusão dos resultados do estudo ARUBA, até o momento o maior estudo prospectivo e controlado a analisar as intervenções possíveis hoje (tratamento médico, cirúrgico, endovascular e radiocirúrgico) para este tipo de lesão vascular.

+++ Estudo ARUBA em 2016: Não tratar MAVs assintomáticas

O ARUBA foi inicialmente apresentado no congresso europeu do ano passado, e noticiamos os seus iniciais resultados aqui no nosso Blog. Na época, muitas críticas de neurocirurgiões e intervencionistas a respeito do seguimento curto destes pacientes e sobre a possibilidade dos casos mais jovens terem maior risco de sangramento futuro, com desfechos desfavoráveis médio ou longo prazo. Agora os dados foram discutidos em Nice, no European Stroke Conference deste ano, ocorrido semana passada, e publicados na edição de fevereiro de 2014 da revista Lancet.

Dos 223 pacientes incluídos no trial, com uma média de seguimento de 33 meses, 114 casos foram tratados com intervenções e 109 conservadoramente (medicações para sintomas clínicos).

10·1% dos pacientes do grupo clínico atingiram o end-point primário de morte ou AVC; no grupo submetido às intervenções, 30·7% (não à toa o NIH mandou interromper o estudo antes do n calculado e planejado…).

O risco do desfecho analisado (morte ou AVC) foi significativamente maior no grupo de tratamento invasivo (HR 0·27, 95% CI 0,14-0,54). O número de AVCs (45 vs 12, p<0,0001) e déficits neurológicos não relacionados ao AVC (14 vs 1, p=0,0008) foi bem menor no grupo submetido ao tratamento clínico.

Os neurocirurgiões vasculares irão detestar; os neurorradiologistas intervencionistas, pior ainda… Mas é a tal história… Estatística é estatística. Evidência é evidência. E quando um trial é financiado pelo NIH e NINDS, realmente ficamos rendidos sob o contexto de uma confiável imparcialidade científica, nem sempre vista em estudos financiados pela indústria.

Para quem quiser conferir o estudo inteirinho, mais links abaixo.

LINKS

Mohr et al. Medical management with or without interventional therapy for unruptured brain arteriovenous malformations (ARUBA): a multicentre, non-blinded, randomised trial. Lancet 2014.

Novos dados do Estudo ARUBA apresentados em 2016 – Estudo ARUBA em 2016: Não tratar MAVs assintomáticas

tags: MAV, malformação arteriovenosa, tratamento cirúrgico, embolização, radiocirurgia, neurointervenção, MAV incidental, assintomático.

Custo-efetividade da neuroimagem no AIT: Boa discussão!

Imaginem só: O doente chega ao PA ou pronto-socorro com sintomas clássicos de AIT (Ataque Isquêmico Transitório): início súbito, déficit focal, duração de minutos, reversão completa, exame neurológico normal na admissão. Você pede ou, se estiver na retaguarda neurológica daquele lugar, orienta o colega emergencista a fazer uma tomografia, mas já sabe: aquela TC de crânio não vai dar nada!

É exatamente isso! É isso o que acontece nos casos de AIT na emergência. O que fazer então, para reduzir este custo absolutamente fútil nas contas da saúde de um sistema?

Sidorov, Feng e Selim respondem à pergunta em um interessante artigo publicado na revista de acesso livre Cerebrovascular diseases Extra deste mês.

Estudo

Retrospectivo, os neurologistas avaliaram prontuários e contas médicas de 82 casos de AIT atendidos no PS do Beth Israel Deaconess Medical Center em dois anos (2009 a 2011). Os autores dividiram os pacientes vistos em dois grupos: os que fizeram TC + angioTC do crânio e pescoço (grupo 1); e os que fizeram RM crânio e um estudo de vasos (AngioRM ou AngioTC) adicional (grupo 2).

Usaram como desfechos do estudo a necessidade de ajuste terapêutico do tratamento preventivo e procedimento de revascularização indicada (endarterectomia ou angioplastia / stenting), e realizaram análises de custo-efetividade e custo-minimização dos procedimentos realizados.

Resultados

Todos os casos fizeram TC na entrada, e 59 deles prosseguiram para RM. Os pacientes dos grupos 1 (n=23) e 2 (n=59) foram semelhantes em características clínicas, demográficas, etiologia do evento, ajustes de tratamento e indicação de procedimentos de revascularização. 

Todas as TCs de crânio vieram sem alterações agudas (como esperado!!!). 44% dos casos que foram para RM tiveram AVCi pequenos agudos. O custo médio da neuroimagem na população estudada foi estatisticamente diferente (P< 0,01)

  • Nos casos que fizeram TC + AngioTC = USD 1.460
  • Casos com TC + RM + AngioRM = USD 1.569
  • Casos com TC + AngioTC + RM =USD 2.090

Os autores concluem polidamente que “estudos clínicos prospectivos são necessários para confirmar os achados de sua pesquisa”. Para o bom entendedor, para quem pensa no custo da saúde e no futuro deste mercado a longo prazo, refletindo preventivamente para que os nossos filhos e netos possam um dia pagar seus próprios planos de saúde sem depender exclusivamente de planos corporativos… A mensagem está claríssima.

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TC de crânio no AIT: Fútil?! Vamos fazer Neurologia Inteligente!

LINKS

Sidorov et al. Cost-Minimization Analysis of Computed Tomography versus Magnetic Resonance Imaging in the Evaluation of Patients with Transient Ischemic Attacks at a Large Academic Center. Cerebrovascular Diseases Extra 2014.

 

Células-tronco em Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)

Um grupo de pesquisadores americanos publicou no mês passado, na Annals of Neurology, os resultados finais da primeira pesquisa americana de fase 1 aprovada pelo FDA, testanto transplantes de células-tronco para a ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica. São descritos 6 pacientes com ELA que receberam injeções intramedulares de células-tronco em diferentes sítios da medula. Trata-se de um trial de segurança para avaliar esta potencial terapia, no manejo de uma doença ainda sem tratamento específico eficaz. Não li o paper. Vou tentar conseguir o artigo na íntegra.

Uma boa notícia. Quem sabe… Um possível futuro para o tratamento de muitas das doenças neurológicas degenerativas. Lembrando sempre que pesquisadores brasileiros já estudam este tipo de tratamento em alguns subtipos da doença há alguns anos.

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