Eddie Vedder – “Hard Sun” (da trilha sonora de “Into The Wild”)
EuroTherm3235: Hipotermia foi ruim no TCE grave
Na verdade, hipotermia com alvos de temperatura entre 32-35 graus foi pior do que não fazê-la. O estudo foi terminado pelas questões de segurança…
Na escala de outcomes de Glasgow extendida, um dos desfechos medidos do estudo, o desfecho favorável (GOS-E entre 5-8) ocorreu em 26% do grupo com hipotermia, e 37% nos controles (P=0.03)…
O artigo e seu editorial estão com acesso livre na homepage da NEJM.
LINKS
Andrews et al. Hypothermia for Intracranial Hypertension after Traumatic Brain Injury. NEJM 2015.
Robertson & Ropper. Getting Warmer on Critical Care for Head Injury. NEJM 2015. Editorial sobre os resultados do EuroTherm3235.
Emoção pura. É de arrepiar…
Anteontem foi o dia em que Doc Brown e Marty MacFly, da ficção De volta para o futuro II, viajariam 30 anos para o futuro… Era 1989, e o filme virou um clássico da nossa geração…
2015. Estamos aqui. 26 anos depois de assistir ao filme, we-are-in-the-future… Erraram algumas coisas, acertaram outras… Ainda não temos carros voadores, mas os elétricos estão por aí. Smartphones, Internet, filmes 3D, videoconferências, foram algumas dos acertos.
Aos fãs, aos que não conhecem, assistam abaixo os atores “chegando” em 2015, no programa de Jimmy Kimmel. É de arrepiar.
Fechamento de Forame Oval Patente: A volta triunfal do RESPECT Trial
Por Sheila Martins ** e Maramelia Miranda
Ops!!!!! Ops!!!!! Ops!!!!!
Meia-volta-volver!!!!!!!!!
Análises de follow-up médio de 5 anos do estudo RESPECT – Randomized Evaluation of Recurrent Stroke Comparing PFO Closure to Established Current Standard of Care Treatment, apresentadas em recente congresso de hemodinâmica da Cardiologia, o TCT 2015 – Transcatheter Cardiovascular Therapeutics (TCT) 2015, ocorrido em San Francisco na semana passada, mostraram que houve uma redução significativa de AVCi na população que teve seu FOP fechado, em torno de 54% de redução nos casos de AVCi criptogênico.
Pra quem não lembra, o RESPECT e o PC Trial foram negativos na terapia endovascular (fechamento transcutâneo de FOPs), resultados publicados em 2013 que reduziram bastante a indicação desta terapia, no mundo todo.
Resultados
Não houve diferenças em relação aos grupos clínico e intervencionista em relação ao desfecho de AVC geral (all-case strokes). Porém, em relação aos AVCs criptogênicos, houve 10 AVCs no grupo ativo, versus 19 no grupo de tratamento médico (HR 0.46, P=0.04). E quando pegaram apenas os pacientes < 60 anos (mais jovens), a redução de risco de qualquer AVC foi de 52% (P =0.035) – a favor do fechamento do FOP, e de 75% para AVCi criptogênico nos pacientes que tinham aneurisma de septo interatrial ou shunts “substanciais” (P=0.007).
Resumo da ópera…
Veja bem…
Agora vai ficar difícil argumentar TOTALMENTE CONTRA o fechamento de FOPs por aí.
Esqueçam aquela historinha de que não manda fechar nada de ninguém… Aos céticos defensores ferrenhos de terapia clínica, que nunca mandavam nenhum caso serem fechados… Revejam seus conceitos…
Com estes números, há de se rever algumas condutas… Atenção que devemos analisar os casos, e mais ainda agora cresce a importância de graduar bem os shunts, com Doppler Transcraniano, ver direitinho a anatomia do forame, com ecocardio bem feito, tudo certinho.
Atenção. Paper ainda não publicado. Vamos atualizando assim que alguma coisa sair.
LINKS
Messe & Kent. Still No Closure on the Question of PFO Closure. NEJM 2013.
** Dra. Sheila é neurologista vascular, representante da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares junto à WSO – World Stroke Organisation.
Eu quero!!!!!!!
Lumify. Conecta no seu smartphone, baixa o App, e pronto. US na sua mão.
Finalmente. Chegou o que esperávamos. Será que a Philips não desenvolve um preset-zinho para DTC, eih?!?!?!?!?! Hummmm……
Eu quero. Eu quero. Eu quero!!!!!!!
PET com amilóide x Biomarcadores no LCR: Quem ganhou no diagnóstico de DA????
Publicado ASAP em 30 de setembro, este artigo comparou os dois métodos, biomarcadores no LCR e a imagem do PET com amilóide, no diagnóstico de DA precoce, em população com declínio cognitivo leve que desenvolveu a doença.
Depois adiciono mais informações do paper. O artigo está com acesso aberto na homepage da Neurology.
Por enquanto fiquem com a conclusão do abstract.
Conclusions: Amyloid PET and CSF biomarkers can identify early AD with high accuracy. There were no differences between the best CSF and PET measures and no improvement when combining them. Regional PET measures were not better than assessing the global Ab deposition. The results were replicated in an independent cohort using another CSF assay and PET tracer. The choice between CSF and amyloid PET biomarkers for identifying early AD can be based on availability, costs, and doctor/patient preferences since both have equally high diagnostic accuracy.
LINK
Fonte da imagem: www.mayoclinic.org
Escore ASPECTS para AVC isquêmico agudo
Vejam só.
Chega um caso de suspeita de AVC no hospital. Tem uma hora do início dos sintomas – território anterior – afasia grave e paresia direita leve; o emergencista pede a TC de crânio de urgência, e sai um resultado normal. Portanto, provável AVCI, e elegível para trombólise.
O neuro é acionado (à distância, realidade da maioria dos serviços hospitalares do país, onde não há neurologista de plantão).
No caminho para o hospital, o neuro liga para o Radiologista do hospital e temos o seguinte diálogo:
“E aí?! A TC do paciente xxx tem alguma coisa?” Sinais precoces de infarto extenso? Hiperdensidade da cerebral média? Hipodensidade de cápsula, insular?”
“Não. Está normal.”
“Então é um ASPECTS de 10? Porque eu já vou ligar para o neurorradio pra ir passando o caso…”
“Que?! ASPECTS??”
Pois bem.
Sabemos que isso é uma (triste) realidade. Tem hora que a gente pergunta o NIH, e não sabem falar. E agora, considerando as novas recomendações de AVCI agudo, teremos também que perguntar o ASPECTS, e os radios, neuros, todos temos que saber direitinho como é isso. Escore ASPECTS. Este escore entra na decisão clínica de mandar ou não um paciente para trombectomia. Em casos de AVCI com tempo < 6h dos sintomas e circulação anterior.
Escore ASPECTS
Varia de zero a 10, sendo 10 o escore “normal” – ou seja, nenhuma hipodensidade nas regiões determinadas para graduar o ASPECTS. E zero, o pior escore deles, ou seja, hipodensidade em todas as “regiões” da TC avaliadas.
Regiões (total de 10 regiões):
C: Caudado
L: Lentiforme
I: Ínsula
IC: Cápsula interna
M1 a 6: Cerebral média em cortes mais inferior (M1-3) e superior (M4-6)
>>> Para cada região com integridade / normalidade do parênquima, visualizada na TC da fase aguda, conta-se um ponto. Se há hipodensidade na região, perde-se, portanto, o ponto naquela região…
>>> Portanto, ASPECTS de 7 = houve 3 regiões com alguma hipodensidade; ASPECTS de 6, houve 4 regiões com hipodensidade; ASPECTS de 9, este caso teve apenas um local com hipodensidade.
Ações
É preciso divulgar, disseminar, implantar este escore, gravar nas nossas cabecinhas este escore, e sobretudo tentar implementar este tipo de leitura em laudos estruturados, pré-determinados, nos serviços de emergência hospitalares do país, principalmente quando se está atendendo um AVC isquêmico com menos de 6 horas dos sintomas. Onde um escore ruim contraindica a realização de terapia de reperfusão…
Recado para que os neuros disseminem esta informação nos seus serviços.
Resveratrol para Alzheimer: Funciona!?
Um estudo multicêntrico americano, randomizado e controlado, duplo-cego, de fase 2 (desenhado para demonstrar segurança da terapia ativa), foi publicado recentemente na revista Neurology, levantando mais uma vez a bola do resveratrol, molécula presente em alguns alimentos e no vinho tinto (oba!), na terapia de demências como a demência por Doença de Alzheimer (DA).
Atenção, pessoal. O paper está com acesso aberto na revista!!! Corram e baixem de lá…
Estudo
Turner e col avaliaram 119 pacientes com o diagnóstico de provável demência por DA, em uso regular de anticolinesteráricos ou memantina, com MME entre 14-26, e escore de Hachinsky < 5; o estudo constou de uso de placebo ou resveratrol 500 mg em doses escalonadas, com incrementos a cada 13 semanas chegando à dose final de 1000mg duas vezes ao dia. Os pacientes estudados foram avaliados com estudo de ressonância magnética e dosagens laboratoriais dos biomarcadores no sangue e liquor cefalorraquiano (LCR).
Outras causas de demência foram excluídas da amostra, bem como pacientes com microhemorragias na RM e diabetes em tratamento. Os desfechos primários medidos foram a volumetria do cérebro total do hipocampo e córtex etorrinal, e mudanças da volumetria dos ventrículos, todos através do estudo de RM; e trajetória dos níveis plasmáticos de Ab40 e Ab42, e dos níveis no LCR de Ab40, Ab42, Tau e fosfo-tau 181.
Resultados
Eventos adversos ocorreram de forma semelhante nos grupos ativo e placebo (355 vs 302 eventos adversos, respectivamente). Os efeitos adversos mais observados foram diarréia, náusea e perda de peso.
O grupo placebo ganhou mais peso durante o estudo (follow-up de 1 ano), enquanto o grupo ativo do estudo perdeu peso (0.92kg, +4.9 kg (média e DP, p = 0.038)… Ohhhh!!!!!!! (gostei!). Resultado dentro do esperado para o efeito sobre o peso já previamente observado em outros estudos com resveratrol.
Os níveis liquóricos e séricos de Ab40 Ab40 tiveram um declínio mais rápido no grupo placebo. Entretanto, a terapia com resveratrol correlacionou-se com maior perda volumétrica cerebral (ops!!!!! não gostei…), achado cuja etiologia ainda não está muito clara, mas que não teve correlação com declínio cognitivo.
O estudo, que não tem poder estatístico para fazer comparações de desfechos clínicos, mostrou que não houve diferenças nos escores de Mini-Mental, “Alzheimer’s Disease Assessment Scale–cognitive” (ADAScog), “Clinical Dementia Rating–sum of boxes” (CDR-SOB) e inventário neuropsiquiátrico (“Neuropsychiatric Inventory” – NPI. Mas na escala “Activities of Daily Living Scale” (ADCS-ADL) o declínio foi menor no grupo ativo (p=0.03).
Conclusões
Resumindo a ópera:
— Resveratrol foi seguro e bem tolerado; e penetrou a barreira hematoencefálica para causar seus efeitos no SNC; 🙂
— Resveratrol levou a maior perda de peso; 🙂 🙂 🙂
— Resveratrol aumentou a velocidade de perda volumétrica cerebral; 🙁
— resveratrol mudou a trajetória dos biomarcadores de DA, no sentido de reduzir a queda da proteína beta amilóide no sangue e LCR ao longo de 12 meses de tratamento. 🙂 🙂 🙂
Retirado do paper original:::
“Conclusions: Resveratrol was safe and well-tolerated. Resveratrol and its major metabolites penetrated the blood–brain barrier to have CNS effects. Further studies are required to interpret the biomarker changes associated with resveratrol treatment. Classification of evidence: This study provides Class II evidence that for patients with AD resveratrol is safe, well-tolerated, and alters some AD biomarker trajectories. The study is rated Class II because more than 2 primary outcomes were designated.”
LINKS
Ma et al. Resveratrol as a therapeutic agent for Alzheimer’s disease. Biomed Res Int 2014.
Leituras. Músicas da semana.
Guia prático… Se você… Por acaso… Pegar por aí, algum dia desses, uma paralisia isolada de nervo hipoglosso… Guia de anatomia-radiológica AQUI.
Stowell & Akerman. Better Value in Health Care Requires Focusing on Outcomes. Da HBR.
Meyer C. Measuring Quality of Care for the Sickest Patients. Idem. Um papo rápido sobre métrica em paliação.
Recession’s sharp bite: The shrinking of a once-vibrant economy is shocking ordinary folk as well as number-crunchers. Da The Economist. Leitura da revista inglesa sobre nossa crise.
E pra fechar a semana, digo, pra começar bem o final de semana ensolarado e caloroso que vem por aí, um Jazzista dos bons. Pat Metheny no seu último premiado álbum, e tocando com Tom Jobim na década de 90, no Carnegie Hall…
Cardiomiopatia de Takotsubo
Registro internacional (centros da Europa e EUA), com 1750 casos de Takotsubo, são descritos neste artigo publicado na NEJM, mostrando as características clínicas, tratamentos realizados e desfechos dos pacientes.
Imagem: Radiologyassistant.com.
LINK
Templin et al. Clinical features and outcomes of Takotsubo (Stress) cardiomiopathy. NEJM 2015.