Talvez o nosso conhecido Werner Hacke, de Heidelberg , Alemanha, realmente tenha razão… ?! Quem já assistiu alguma aula dele sabe do que estamos falando… Há realmente evidência no benefício de dispositivos, cateteres, filtros, balões, enfim, todas aquelas novas tecnologias, nos procedimentos endovasculares em geral? Será que aqueles filtros de proteção – usados para proteger o cérebro contra microembolizações durante o procedimento da angioplastia das carótidas, são realmente necessários, ou fazem parte da grande indústria que hoje circunda a Neurorradiologia Intervencionista?
O grupo de pesquisadores da Mayo Clinic de Rochester, tentou responder esta lacuna na literatura neurointervencionista. Tallarita e colaboradores estudaram os casos de seu serviço de Neurorradiologia Intervencionista, entre 1999 e 2009, tratados com angioplastia carotídea, revisando retrospectivamente todos os pacientes tratados com os dispositivos de proteção (n=252) ou sem os tais devices (n=105).
Em resumo, para não prolongar a discussão, apesar das críticas válidas, a respeito da metodologia retrospectiva e não controlada, bem como em algumas diferenças clínicas entre os dois grupos, e mesmo considerando a desvantagem da curva de aprendizado, já que os pacientes tratados sem proteção foram predominantemente os primeiros submetidos a este tratamento, no início da década de 2000, não houve diferenças nos end-points primários considerados (AVC, IM e morte cardiovascular): 2% nos pacientes tratados com dispositivos de proteção, versus 4.8% nos casos sem estes dispositivos, com p=0.15. Ocorreu AVC ipsilateral em 3.8% dos casos sem proteção, versus 0.8% no grupo com proteção (p=0.6).
A conclusão? Vejam o abstract AQUI. Quem quiser ler mais, estou à disposição para quem não tem acesso à Stroke.
essa questão me parece estranha, pois vivi a era pré sistemas de proteção e te digo: faz toda diferença. É um caso em que a estatistica precisa se ajustar à realidade e não o contrário.
Na medicina socializada da europa o paciente não tem escolha: é aquele médico e pronto. A conta deles é: não vamos gastar 20 filtros p evitar um AVC, do mesmo jeito que na revisão anexa (inglesa) eles propõem não fazer 17 angioplastias p evitar um avc.
Na nossa medicina, onde o paciente escolhe o médico, ouve outra opinião antes do procedimento e depois dele, especialmente se houve complicação, o médico se resguarda usando tudo ao seu alcançe.
Hoje, as embolias ocorrem na colocação do cateter-guia. Sem filtro,era na dilatação do stent. E não era pouco!!!
Caros:
Discordo absolutamente, totalmente, indubitavelmente, e todos os outros “mentes” que se possam citar de que os filtros não são necessários. Do alto da nossa experiência de mais de 2000 angioplastias de carótidas, eles são na maioria das vezes desnecessários, no entanto quando eles protegem da embolia é porque esta seria de grande monta e portanto com conseqüências graves para o paciente. Num procedimento que nas nossas mãos tem 1,4% de Major Stroke (durante e até 30 dias após o procedimento) 0,4% de Mortalidade e 0,9% de complicações permanentes não neurológicas, portanto um total de complicações de 2,7%, concluimos que temos um número de complicações muito baixo. Em qualquer tratamento que tenha baixo numero de complicações qualquer evento sério implica no tratamento de um grande número de pacientes para beneficiar apenas um (NNT elevado), e por isso os filtros são necessários. Quando se tem uma série pequena, os eventos adversos sem filtro demoram para ocorrer pois trata-se de um procedimento com poucos eventos, mas fatalmente existirão quando o número de pacientes aumenta. Angioplastia de carótida é um procedimento tecnicamente fácil de ser realizado porém com muitas possibilidades de ocorrerem pequenos erros e é aí que ocorrem os problemas, por isso a grande diferença de resultados entre os diversos serviços!!
Envio em anexo uma foto de um filtro cheio de “sujeira”, quem acredita que esse paciente ia sobreviver???
abraços
José Guilherme