Stroke Riskometer App

** Por Norberto Cabral e Maramelia Miranda

Atenção neuros!!!!! A seguir uma das megatendências tecnológicas em Saúde: mHealth – Mobile Health.

Anotem.

Publicado ASAP na Stroke de Junho de 2015, o artigo do grupo que está envolvido no desenvolvimento deste app, apresentando esta nova estratégia preventiva em AVC, o Stroke Riskometer App.

STROKE RISKOMETER APP

Contabilizando cerca de quase 2 bilhões de pessoas no mundo com acesso à tecnologia dos smartphones, o potencial desta ferramenta em estratégias preventivas é enorme. Os dados presentes neste novíssimo aplicativo foram baseados em variáveis comprovadamente preditoras de risco do estudo INTERSTROKE, e a fase atual é de término de tradução do aplicativo para mais 13 línguas do globo além do inglês, para que se torne mais acessível a todos.

Aos colegas curiosos em testar o aplicativo, podem entrar na plataforma, preencher os dados com seus riscos pessoais, e ao final da inclusão das suas informações, serão convidados a participar do mega estudo do app… E assim poderão fazer parte da população do estudo RIBURST – Reducing the International Burden of Stroke Using Mobile Technology. Incrível!?

Não… Apenas tecnologia “mobile” a serviço da ciencia. Demais!!! Eu já entrei, óbvio! Já estou cadastrada e devidamente incluída no RIBURST!!!

Vejam a minha tela de riscos (abaixo)… Ahrrrr….

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Para baixar o aplicativo:::

— iOS (para iPhones and iPads) – https://itunes.apple.com/us/app/stroke-riskometer/id725335272?ls=1&mt=8

— Android – https://play.google.com/store/apps/details?id=com.autel

Para ver o vídeo curtinho sobre o app, com comentário dos managers do projeto, incluindo Valery Feigin, clique AQUI.

LINKS

Feigin et al, from RIBURST Trial. New Strategy to Reduce the Global Burden of Stroke. Stroke 2015.

Site dos desenvolvedores – Stroke Riskometer

Berkowitz A. Stroke and the noncommunicable diseases: A global burden in need of global advocacy. Neurology 2015.

 

** Dr. Norberto Cabral é da Universidade de Joinville, coordenador do Joinville Stroke Registry e autor de importantes estudos epidemiológicos em AVC do nosso país.

Níveis séricos de Vitamina D ao longo de 10 anos…

Artigo publicado este mês, na Mayo Clinic Proceedings, pegou uma amostra pacientes que fizeram exames de vitamina D, de uma população da Mayo Clinic de Rochester, durante o intervalo de 10 anos (2002 a 2011), demonstrando:

1 – Sim, as pessoas aparentemente estão usando mais Vitamina D, pois a incidência de níveis séricos > 50ng/ml em uma população americana subiu de 9 por 100.000 para 233 por 100.000. Ou seja, multiplicou-se, num período de 10 anos, em mais de 20 vezes!!!!

2 – Dos 20.308 pacientes estudados, 8,4%, 0,6% e 0,2% tinham níveis > que 50, 80 e 100ng/ml de 25-OH vitamina D no sangue, respectivamente;

2 – A ocorrência de hipercalcemia foi rara, tendo ocorrido em 0,2% dos mais de 1874 pacientes com níveis > 50. Hipercalcemia com toxicidade clínica ocorreu em apenas um caso, um paciente tomando 50.000UI ao dia por mais de 3 meses, que tinha nível sérico de 364 ng/ml.

O editorial é do Michael Holick, famoso pesquisador sobre o metabolismo da Vitamina D.

Atenção para o texto do Dr. Holick, que enfatiza a relativa segurança de doses de D diárias de até 20.000UI., segundo os estudos clínicos que temos até o momento. Faço questão de transcrever, em inglês, uma das suas frases no final do texto:::

“The evidence is clear that vitamin D toxicity is one of the rarest medical conditions and is typically due to intentional or inadvertent intake of extremely high doses of vitamin D (usually in the range of >50,000-100,000 IU/d for months to years).”

Portanto, pessoal, não tem problema prescrever 4.000UI, 5000UI, 8.000UI ou até 10.000UI ao dia de vitamina D (colecalciferol)…

+++ Consenso Brasileiro sobre o uso de Vitamina D em Esclerose Múltipla – 2014

Não tem problema em deixar os níveis de D dos pacientes mais altos, entre 50-100ng/ml. Contando que se faça o controle laboratorial e oriente o paciente a reduzir o cálcio da dieta, manter-se bem hidratado e fazer controles com cálcio urinário e PTH, com orientação do próprio neuro ou de colega endocrino.

E, repito as palavras do Holick: “Há evidência clara de que a toxicidade da vitamina D é extremamente rara, e tipicamente decorrente de tomada inadvertida ou intencional de doses extremamente altas de vitamina D (usualmente na faixa de > 50.000-100.000UI/dia por meses a anos)…”

Ou seja, nem o Holick fica dando mais de 50 mil UI de vitamina D por aí… É mole?! Imagina se esse pessoal da Mayo Clinic soubesse que tem gente aqui no Brasil tomando 80 mil de Vitamina D como quem toma água?!?! Por meses e meses a fio????

Abaixo, outro link sobre relação entre reposição de Vitamina D em adolescentes e risco de EM.

LINKS

Dudenkov et al. Changing Incidence of Serum 25-Hydroxyvitamin D Values Above 50 ng/mL: A 10-Year Population-Based Study. Mayo Clinic Proc 2015.

Holick M. Vitamin D Is Not as Toxic as Was Once Thought: A Historical and an Up-to-Date Perspective. Mayo Clin Proc 2015.

Cortese et al. Timing of use of cod liver oil, a vitamin D source, and multiple sclerosis risk: The EnvIMS study. Mult Scler 2015.

Níveis muito altos e muito baixos de Vitamina D aumentam as mortes por infarto e AVC

FINGER Study: Retardando declínio cognitivo

Por Maramelia Miranda

Ah… Tá!

Coisa fácil de fazer…

Finnish Geriatric Intervention Study to Prevent Cognitive Impairment and Disability – FINGER Study.

Na onda dos diversos estudos epidemiológicos que mostram benefício de boa dieta, atividade física e controle de fatores de risco cardiovasculares, finlandeses testaram uma terapia Multitask – TUDO JUNTO, de forma controlada.

Pegaram idosinhos de 60 a 77 anos, com risco aumentado para demência (escala de risco de demência > 6 pontos). Separaram em dois grupos, um com intervenção ativa e outro apenas com aconselhamento. Fizeram testes cognitivos antes e depois da intervenção.

No grupo com intervenção ativa, fizeram os idosos fazerem academia, exercícios aeróbicos regulares, musculação; junto com monitoração de fatores de risco cardiovascular regular; junto com sessões periódicas com nutricionistas para orientar dieta; e mais sessões semanais (3x semana) de atividade intelectual — individuais e em grupo. Não li o paper para ver os detalhes.

Colegas Neurocognitivos!!!! Se quiserem mandar suas resenhas, somos todos ouvidos (olhos)!!!!!! Mandem que publico na hora!

Bingo.

Quem declinou menos em 2 anos? Quem puxou ferro. Quem recebeu o tratamento intensivo Multi-Mega-Power-Blaster.

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A coisa está cada vez mais piorando para o nosso lado…

LINK

Ngandu et al. A 2 year multidomain intervention of diet, exercise, cognitive training, and vascular risk monitoring versus control to prevent cognitive decline in at-risk elderly people (FINGER): a randomised controlled trial. Lancet 2015.

Estudo STASH aposenta de vez a sinvastatina: Entenda tudo aqui!!!

Por Daniel Bezerra e Maramelia Miranda

O Estudo STASH foi desenhado para avaliar uma tese recorrente no Neurointensivismo: As estatinas funcionam para prevenir vasoespasmo em hemorragia subaracnoidea, ou para melhorar desfechos clínicos?

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O estudo multicêntrico, duplo-cego, prospectivo, envolvendo 803 pacientes em 9 países, teve financiamento público (nada de indústria), e testou placebo versus sinvastatina 40mg ao dia, nos casos de HSA randomizados até 96 horas do icto.

O desfecho medido foi a escala de Rankin modificada em 6 meses, tendo sido favorável (mRS 0-2) em 271 casos do grupo ativo versus 289 do placebo (cerca de 70% dos casos). Houve 37 (10%) mortes no grupo da sinvastatina e 35 (9%) no placebo (p=0,59).

Conclusão dos autores: O STASH trial não detectou benefício no uso de sinvastatina nos desfechos a curto ou longo prazo em pacientes com HSA. 

Conclusão nossa: Mais uma batalha pedida. Esqueçam a estatina na HSA. O que podemos fazer para os nossos casinhos de vasoespasmo e HSA!?

LINKS

Kirkpatrick et al, for STASH Trial. Simvastatin in aneurysmal subarachnoid haemorrhage (STASH): a multicentre randomised phase 3 trial. Lancet Neurology 2014.

MacDonald RL. Are statins to be STASHed in subarachnoid haemorrhage? Lancet Neurology 2014.

 

Nova CHANCE para a dupla antiagregação?

tags: CHANCE study, antiagregação dupla, aspirina e clopidogrel, AVC isquêmico, tratamento, clopidogrel, AVCi, risco de sangramento

Por Maramelia Miranda

Foi publicado no dia 26 de junho, na NEJM, o estudo CHANCE – Clopidogrel in High-risk patients with Acute Nondisabling Cerebrovascular Events (CHANCE) study, que avaliou 5170 pacientes chineses com AVC isquêmico minor (pacientes com NIHSS < 3) ou AIT, testando o uso de ataque de clopidogrel (300mg) + dupla antiagregação (aspirina e clopidogrel) na fase aguda (iniciados até 24 horas do ictus até 21 dias), seguidos de clopidogrel versus aspirina por 3 meses.

Os resultados positivos do CHANCE foram bastante comentados na apresentação do estudo em fevereiro deste ano, no Congresso Americano de AVC. Afinal, anteriormente, outros trials falharam em demonstrar este benefício. Wong e colaboradores mostraram que houve uma redução de 3.5% na ocorrência de AVC em 90 dias (NNT – number needed to treat – para prevenção de 1 AVC em 90 dias: 29), no grupo tratado com dupla terapia antiagregante seguida de clopidogrel, versus o tratamento convencional com aspirina. E, melhor, houve taxas similares de sangramentos moderados ou severos.

Endpoint Clopidogrel + Aspirina (%) Aspirina  (%) Hazard Ratio (95% IC) P
AVC (endpoint primário) 8.2 11.7 0.68 (0.57 – 0.81) <.001
AVC / IAM / Morte cardiovascular 8.4 11.9 0.69 (0.58 – 0.82) <.001
AVC hemorrágico 0.3 0.3 1.01 (0.38 – 2.70 ) .98
Sangramento grave 0.2 0.2 0.94 (0.24 – 3.79) .94
Sangramento moderado 0.1 0.2 0.73 (0.16 – 3.26) .68
Sangramento leve 1.2 0.7 1.57 (0.88 – 2.79) .12

O editorial que acompanha o paper salienta que o estudo foi feito com uma população chinesa, o que teoricamente restringe a extrapolação destes resultados para outras populações, mas lembrando que outros estudos são necessários para confirmar estes resultados em pacientes ocidentais.

Divirtam-se com a leitura! Lembrando que o acesso aos artigos da NEJM está LIVRE!

LINKS

Wang et al. Clopidogrel with Aspirin in Acute Minor Stroke or Transient Ischemic Attack. NEJM 2013.

Hankey GJ. Dual Antiplatelet Therapy in Acute Transient Ischemic Attack and Minor Stroke. Editorial. NEJM 2013

Pramipexole como neuroproteção em Parkinson: Funciona?

Por Maramélia Miranda

No final de Maio de 2013, a Lancet Neurology publicou um importante estudo na área de Distúrbios do Movimento. O estudo PROUD – Pramipexole on Underlying Disease study é um estudo do tipo “delayed-start” (não sabe o que é isso? Clique AQUI ou AQUI).

O PROUD avaliou o pramipexole em Doença de Parkinson (DP) precoce, estudando se havia diferença entre começar esta droga precocemente versus mais tardiamente, com a hipótese de que o pramipexole poderia ser neuroprotetor e potencial droga modificadora da progressão da doença, assim como foi a rasagilina no estudo ADAGIO – Attenuation of Disease progression with Azilect Given Once daily, publicado em 2009 na NEJM.

Schapira e colaboradores estudaram dois grupos de pacientes, randomizados prospectivamente para placebo ou início precoce de 1,5mg/dia de pramipexole. O braço “placebo” ficava sem pramipexole por 9 meses (período 1 do estudo), seguido de 6 meses do uso da droga (período 2); o grupo ativo tomou o medicamento pelo total de 15 meses do trial.

Como esperado, o período 1 de placebo versus tratamento ativo confirmou a efetividade do pramipexole no controle dos sintomas motores e melhora na escala de avaliação “Unified Parkinson’s disease rating scale” (UPDRS). Entretanto, estudos com neuroimagem funcional e o desfecho clínico pela UPDRS foram semelhantes ao final do follow-up do trial, sem qualquer evidência de que esta droga tenha sido modificadora de doença. 

Comentários

A mensagem que fica, com base nos resultados neuroprotetores negativos e maior taxa de efeitos colaterais relacionados à droga (no grupo ativo – de início precoce), é de que não vale à pena começar precocemente o pramipexole, na exceção dos casos com proeminentes sintomas motores e funcionalidade já prejudicada. A crítica em relação ao desenho do estudo e o tempo de tratamento (talvez curto) com placebo, antes de introduzir-se a droga, são pontos salientados no editorial escrito por Robert Hauser.

O que sobra para os casos leves e/ou pouco sintomáticos é acreditar nos resultados positivos (e estranhos) dos estudos com inibidores de monoamino-oxidade (seleginina / rasagilina). Além de aguardar os resultados de futuros trials.

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Neuroproteção em Doença de Parkinson: Tema quente. Muito espaço para pesquisas.

 LINKS

Schapira et al. Pramipexole in patients with early Parkinson’s disease (PROUD): a randomised delayed-start trial. Lancet Neurol 2013.

Hauser R. PROUD stands tall: delayed-start studies in Parkinson’s disease. Comment on: Lancet Neurol 2013.

Olanow et al. A Double-Blind, Delayed-Start Trial of Rasagiline in Parkinson’s Disease. NEJM 2009.

D´Agostino R. The Delayed-Start Study Design. NEJM 2009.

ARUBA Trial: O que fazer com MAVs incidentais???

Por Maramélia Miranda

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O estudo ARUBA – A Randomized Trial of Unruptured Brain Arteriovenous Malformations, liderado pelos Drs. J.P.Mohr (Columbia University, NYC) e Christian Stapf (Hôspital Lariboisière, Paris), randomizou prospectivamente pacientes com malformações arteriovenosas (MAVs) assintomáticas (não-rotas) para dois grupos de tratamento:

a) Tratamento clássico atualmente conhecido (tratamento cirúrgico e/ou endovascular e/ou radioterápico da MAV);

b) Tratamento expectante (não fazer nada, e apenas acompanhar).

Previamente planejado para incluir 400 pacientes, o ARUBA foi interrompido precocemente pelo NINDS (agência financiadora do estudo) em 15 de abril deste ano, quando já tinha 223 casos randomizados, devido às altas taxas de eventos no braço de intervenção multidisciplinar (deja vú? SAMMPRIS?), e consequente superioridade do tratamento conservador em relação aos desfechos clínicos primários medidos (morte ou AVC sintomático). 

Os resultados apresentados em Londres no mês passado mostraram que houve morte ou AVC sintomático em 29% dos pacientes no grupo tratado vs 10% no grupo manejado com conduta expectante, num período de 33 meses de seguimento (HR 0.29; IC 95%: 0.15-0.58).

O comitê interino de análise de segurança do trial, entretanto, reitera que o follow-up dos pacientes do estudo continuará, para que se observe se esta disparidade de diferenças dos desfechos clínicos entre os dois grupos de tratamento será mantida ao longo dos anos, uma vez que os pacientes do grupo conservador não receberam nenhuma terapia e possuem, em tese, risco futuro de ter algum evento decorrente da lesão vascular não tratada.

Palavras do Dr. Stapf (Paris): ”We do not know how the medical therapy arm will fare in the coming decades and subjects were young (mean age 40s). The most important result of ARUBA will be how these groups look in 10 years and potentially in 20 years.”

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E aí, colega? O que você faria com um caso como esse, uma MAV que nunca sangrou?

 

LINKS

ARUBA Trial Homepage

Mohr et al. The ARUBA Trial: Current status, future hopes. Stroke 2010.

Pollock et al. The Risk of Stroke or Clinical Impairment After Stereotactic Radiosurgery for ARUBA-Eligible Patients. Stroke 2013.

Fonte da imagem da MAV: radiopaedia.org.

Estudo PHANTOM-S usa tomógrafos portáteis e consegue trombolisar 33% dos AVCis

Por Maramelia Miranda

No dia 30 de maio último, no Congresso Europeu de AVC em Londres, foram apresentados os resultados do estudo “Pre-Hospital Acute Neurological Treatment and Optimization of Medical care in Stroke (PHANTOM-S).

Havíamos comentado sobre este trial alemão há uns 5 meses, lembram?! Quando o grupo publicou os resultados do estudo piloto. Vejam AQUI o artigo dos primeiros casos, publicados em janeiro de 2013 na Neurology, e o editorial comentando a inovativa ideia, AQUI.

Estudo PHANTOM-S

O estudo avaliou o uso de uma unidade móvel (ambulância), denominada de STEMO – STroke Emergency MObile unit, especialmente desenvolvida para o atendimento pré-hospitalar de vítimas de AVC.

Ambulância STEMO usada no estudo alemão, em Berlim.

Cada unidade STEMO possui à bordo, além dos itens convencionais de uma ambulância, um tomógrafo portátil, um neurologista e um técnico de radiologia. Quando há um caso suspeito de AVC, a unidade é usada para captar o paciente “em campo”, que faz a TC imediatamente, dentro da ambulância; as imagens são retransmitidas para um neurorradiologista no hospital, para análise e emissão do laudo. Se há indicação e decisão do uso de rTPA, a trombólise é feita ainda dentro da ambulância. O trial separou os pacientes atendidos na região metropolitana de Berlin em 2 grupos: 1804 pacientes alocados / atendidos com a unidade STEMO versus 2965 casos que foram captados com ambulâncias convencionais.

Resultados

Houve uma redução média de 25 minutos no tempo para a administração do tratamento trombolítico no AVC isquêmico (55min no grupo STEMO vs 77min no grupo controle).

A taxa de indicação de tratamento trombolítico foi de 21% no grupo controle e 33% (número impressionante, se compararmos com as taxas de trombolisados no nosso Brasil, por exemplo).

Sabemos que estudos clássicos nesta área mostram que apenas cerca de 10-15% dos pacientes com AVCi agudo recebem rTPA, justamente por causa da janela de tratamento (4,5h) extremamente curta. A taxa de eventos adversos foi semelhante nos dois grupos de tratamento.

Impressões

A taxa de trombolisados (21%) de um sistema organizado de atendimento pré-hospitalar que possui centros de AVC de excelência, como são os de Berlin, impressionam. Já ficaria feliz em ter as taxas de trombólise do grupo controle deles… 🙂

O modelo de tratamento pré-hospitalar com ambulâncias especializadas com tomógrafo portátil e neurologista à bordo é realmente bastante inovador. O que antes pensávamos ser algo distante – a “la StarTrek”, parece que vai chegar antes do que nossos pensamentos esperavam.

Não teria muita segurança em dizer se a redução em 25 minutos no tempo médio de administração do rTPA fez muita diferença, sobretudo em centros de AVC organizados, como são a maioria de Berlin. Certamente os resultados do uso desta tecnologia seria muito mais impactante em locais menos desenvolvidos no tratamento do AVC.

Minhas leituras do PHANTOM-S: primeiro, não é nada muito complexo de ser feito. O sistema de saúde britânico (NHS) já aplicou em agências de fomento um projeto semelhante para iniciar no Reino Unido…

Segundo, penso cada vez mais no que poderíamos fazer com soluções de eHealth, teleHealth, mHealth, etc… Para melhorar o atendimento aos nossos pacientes…

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Ambulâncias futurísticas, tomógrafos portáteis… O futuro ao nosso alcance.

LINKS

New Stroke Treatments. In: JEMS Connect.

Weber et al, for the STEMO-Consortium. Prehospital thrombolysis in acute stroke: Results of the PHANTOM-S pilot study. Neurology 2013;80:163-168.

Schwamm & Starkman. Have CT—will travel: To boldly go where no scan has gone before. Neurology 2013;80:130-131.

 

Stenting carotídeo, e logo após angioplastia com balão, aumenta o risco de AVC: Entenda!

Por Maramelia Miranda                                               English version

Mais uma análise do estudo CREST (Carotid Revascularization Endarterectomy vs Stenting Trial) foi apresentada no congresso SCAI – Society for Cardiovascular Angiography and Intervention (SCAI) 2013 Scientific Sessions, ocorrido este ano em Orlando, FL.

Dr Mahmoud Malas e colaboradores concluiram que, do ponto de vista técnico, alguns detalhes podem fazer a diferença nos desfechos dos pacientes tratados com angioplastia e stenting.

O Estudo

Segundo Malas, muitos neurointervencionistas costumam utilizar o artifício de angioplastia com balão logo após a liberação do stent, com base justamente em estudos anteriores que associaram esta técnica com menores taxas de reestenose. O racional do estudo apresentado no SCIA foi a hipótese de que provavelmente esta estratégia poderia, em tese, causar embolização distal no momento do balonamento.

Os autores, portanto, analisaram o uso desta técnica e os desfechos de reestenose e AVC periprocedimento, usando o banco de dados do estudo CREST. Compararam os dois grupos distintos (pacientes submetidos a angioplastia com balão apenas antes da colocação do stent vs pacientes que tiveram balonamento pós-stenting), analisando taxa de reestenose 2 anos após o procedimento.

Resultados

Um total de 69 pacientes tiveram ATC pré-stenting, 344 foram angioplastados apenas após a liberação do stent, e 687 foram angioplastados pré e pós colocação do stent carotídeo.

Houve 20 AVCs peri-procedimento – 19 no grupo que teve ATC pós-stenting, e apenas 1 caso no grupo com ATC apenas pré-stenting (5.5% vs 1.5%, respectivamente; p=0.26). A taxa de reestenose em 2 anos foi de 10.3% no grupo com ATC pré-stenting vs 3.7% no grupo submetido a ATC pós-stenting (p=0.02).

A conclusão principal da análise apresentada foi de que realizar angioplastia com balão após a liberação do stent carotídeo reduz significativamente o risco de desenvolvimento de reestenose, mas parece aumentar o risco de AVC periprocedimento em até 4 vezes  (HR 3.7; 95% IC 0.5-27.9).

Balonar pós-stenting carotídeo: Fazer ou não fazer?

LINKS

Malas M, Voeks J, Llinas R, et al. Angioplasty following carotid stent deployment reduces the risk of restenosis and may or may not increase the risk of procedure-related stroke. Society for Cardiovascular Angiography and Interventions 2013 Scientific Sessions; May 9, 2013; Orlando, FL.

Why Calls for More Routine Carotid Stenting Are Currently Inappropriate: An International, Multispecialty, Expert Review and Position Statement. Stroke 2013;44:1186-1190.

Fonte da imagem: www.vascularweb.org.

Terapia combinada com rTPA e SOLITAIRE: Melhor do que o IMS-III

Por Maramelia Miranda

Tags: rTPA endovenoso, tratamento AVCi agudo, trombólise, trombolítico, trombectomia, SOLITAIRE.

Foram apresentados esta semana, em San Diego, no 65th Congresso Americano de Neurologia, os resultados de um estudo de registro com o uso do tratamento combinado rTPA + device SOLITAIRE para casos de AVCi agudo.

Alguém percebeu a semelhança??? Sim. O estudo aí em cima avaliou exatamente a terapia testada no IMS-III, aqueeeeeele… Aquele que comparou rTPA EV isolado versus rTPA EV + trombectomia mecânica no AVCI agudo, que foi interrompido prematuramente por futilidade, e cujos resultados foram negativos, deixando todos nós bem desanimados no final do ano passado…

Lembrando que o IMS foi controlado, e este aí é um registro…

Registro NASA

O North American SOLITAIRE Acute Stroke (NASA) Registry – ou mais simplesmente – Registro NASA, analisou pacientes tratados com rTPA endovenoso combinado à terapia endovascular, usando apenas o dispositivo de trombectomia mecânica SOLITAIRE-SR.

Foram analisados 156 pacientes com AVCi agudo e escala do NIH média de 19 pontos.

Os dados apresentados (clicar na tabela) sugerem melhores desfechos clínicos do que os historicamente observados com rTPA ou terapia combinada (dados do IMS-III).

mTICI = Modified Thrombosis in Cerebral Infarction.

Lembrem-se: É um estudo de registro!

Por fim, mais um recadinho: nada de euforia…

Registro é registro. Estudo de registro é a observação clínica de uma experiência em um grupo de pacientes. É complicado comparar resultados de um registro com estudos anteriores. Essa conversa de comparar resultados de registros com séries “históricas” já deu, não concordam?!

E aqui pra nós, sabemos bem que a turma da Neurorradiologia Intervencionista adora fazer isso… Mas ao mesmo tempo, já fazendo justiça a eles (meus amigos neurointerventionalistas, eu amo vocês! Os comentários são feitos com muito carinho), nem devemos culpá-los tanto assim, afinal, primeiro eles costumam mesmo ver as suas experiências pessoais com os dispositivos, se boas ou más, para depois testá-los de forma controlada. Daí a necessidade de um trial randomizado, avaliando se estes resultados se replicam no contexto de um estudo controlado. Se parar pra pensar, é a mesma coisa que nós, clínicos, fazemos, quando vemos o efeito de um medicamento sendo benéfico e depois indo atrás para testá-lo em grande escala e de forma estatisticamente confiável. A diferença é que nós trabalhamos com comprimidos e drogas, eles com os devices…

Por fim, lembremos, por exemplo, que em relação a trombólise intraarterial / macânica, até agora, só temos de estudos controlados o PROACT II e o IMS III, ou tem algum outro? Ajudem-me, e perdoem-me se estou errada, pois só me lembro destes dois…

Finalmente… A pergunta.

Quando será que teremos os resultados do estudo controlado com rTPA + SOLITAIRE?????

Fontes: American Academy of Neurology (AAN) 65th Annual Meeting. Emerging Science Abstract 011. Presented March 20, 2013.

Figura: Covidien website.