European Stroke Conference: Racha em 2015!

 Por Maramelia Miranda

É o seguinte: A partir do próximo ano, teremos duas conferências européias de AVC: Uma em Vienna, outra em Glasgow.

confused baby

Opa! Alguém está confuso aí? Explico.

A European Stroke Conference era um meeting único, até este ano, em Nice, quando houve uma discussão sobre os direitos da conferência, questionamentos políticos, entre outros mais, e o que estava até então evitável, aconteceu: literalmente um racha do evento!

A partir do próximo ano, teremos dois eventos… A European Stroke Organisation Conference – ESO Conference 2015, que será a conferência oficial da European Stroke Organisation (ESO), e a European Stroke Conference 2015, que será organizada pelo Michael Hennerici e pela European Stroke Research Foundation, que detém os “direitos” deste nome e da conferência e sua organização há anos e anos… Desde 1990.

O mais engraçado (ou trágico, conforme avaliem a bizarra situation!) são os sites das respectivas conferências, falando nas “razões para comparecer a ESTA ou AQUELA conference”…

Naveguem nos sites – AQUI e AQUI, e terão uma ideia do que aconteceu em Nice este ano. Leiam especificamente as “cartas” tentando explicar o que houve! 

Não estava lá esse ano. Lamentei quando soube. Perdem todos. Só estou curiosa para saber uma coisa: Quem “vencerá” esta guerra? Porque se já estava difícil ir a uma conferêrncia européia todo ano, imaginem duas!!! Impossible, my dear!

Eu já fiz a minha escolha. E vocês? Coloquei uma pesquisinha a seguir, para saber o que vcs acham… 

 

Hidrocefalia de Pressão Normal: Acetazolamida funciona?!

Não sei, talvez funcione um pouco.

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É o que tentou responder um grupo de neurologistas da Universidade de Miami e da Cornell University. Este estudo piloto com apenas 8 casos de HPN, avaliando marcadores de neuroimagem após o tratamento com doses baixas de acetazolamida (125–375 mg/dia), droga comumente usada em hipertensão intracraniana idiopática (HII), ou pseudotumor cerebrii, foi publicado na edição mais recente da Neurology. O mesmo grupo já havia apresentado os resultados preliminares no congresso da AAN em 2012.

Alperin e colaboradores estudaram os volumes de hiperintensidades da substância branca global e periventriculares dos pacientes randomizados, e alterações da marcha (pela escala de Boon). Dos 8 casos incluídos no estudo, 5 responderam positivamente, com melhora média de 4 pontos na escala de Boon e redução significante do volume da hiperintensidade da substância branca periventricular (−6.1 ± 1.9 mL, p = 0,002), após o tratamento. Um dos casos não teve melhora, e outros 2 pioraram e foram encaminhados para cirurgia. Não houve redução significativa do volume da HSBP nos casos operados. 

Conclusão dos autores: Baixas doses de acetazolamida podem reduzir a hiperintensidades de substância branca periventriculares da HPN e melhorar sintomas de marcha em casos de HPN idiopática. Adicionalmente, advogam que a volumetria das hiperintensidades da substância branca periventriculares, feitas pela RM, é um potencial marcador radiológico de desfechos dos casos de HPN, que podem ser utilizados em estudos futuros.

LINKS

Relken et al. Apresentação do piloto do trabalho na AAN 2012.

Alperin et al. Low-dose acetazolamide reverses periventricular white matter hyperintensities in iNPH. Neurology 2014.

Células-tronco em Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)

Um grupo de pesquisadores americanos publicou no mês passado, na Annals of Neurology, os resultados finais da primeira pesquisa americana de fase 1 aprovada pelo FDA, testanto transplantes de células-tronco para a ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica. São descritos 6 pacientes com ELA que receberam injeções intramedulares de células-tronco em diferentes sítios da medula. Trata-se de um trial de segurança para avaliar esta potencial terapia, no manejo de uma doença ainda sem tratamento específico eficaz. Não li o paper. Vou tentar conseguir o artigo na íntegra.

Uma boa notícia. Quem sabe… Um possível futuro para o tratamento de muitas das doenças neurológicas degenerativas. Lembrando sempre que pesquisadores brasileiros já estudam este tipo de tratamento em alguns subtipos da doença há alguns anos.

LINKS

Leiturinhas da semana…

Chataway J et al. Effect of high-dose simvastatin on brain atrophy and disability in secondary progressive multiple sclerosis (MS-STAT): A randomised, placebo-controlled, phase 2 trial. Lancet 2014. EM secundáriamente progressiva é fogo! Sabendo que quase nada funciona para esta variante da doença, qualquer coisa é lucro… Está FREE no site da LANCET.

January et al. 2014 AHA/ACC/HRS Guideline for the Management of Patients With Atrial Fibrillation: Executive Summary: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society. Circulation 2014. Publicado em 28 março.

Lammeren et al. Time Dependent Changes in Atherosclerotic Plaque Composition in Patients Undergoing Carotid Surgery. Circulation 2014. Paper interessante. Mostra a patologia da placa carotídea ao longo de 8 anos, e como tem mudado (provavelmente com o avanço do controle dos fatores de risco e tratamento clínico).

Edição da Neurology com todos os Abstracts dos trabalhos aceitos no próximo congresso da AAN (Philadelphia 2014)… Um pequeno resumo do que estão pesquisando os neurologistas americanos e do resto do planeta.

de Souza et al. Biological markers of Alzheimer’s disease. Arq Neuropsiquiatr 2014. Artigo de revisão. Muito bom.

How French are you? Você fala francês? Morou na França? É habitué de Paris ou passa férias na riviera anualmente? Faça um teste…

Pregabalina ou Pramipexole para Síndrome das Pernas Irriquietas?

Por Maramelia Miranda

Para quem tem pacientes com Síndrome das Pernas Irriquietas (SPI), uma nova evidência volta a esquentar a discussão sobre o manejo desta interessante doença neurológica.

Richard Allen (Johns Hopkins University) e colaboradores publicaram no mês passado, na NEJM, um estudo multicêntrico, prospectivo e controlado duplo-cego, testando as drogas pregabalina e pramipexole e avaliando a efetividade destes diferentes tratamentos e efeitos colaterais a longo prazo, especificamente a piora clínica com a terapia prolongada (“augmentation”). O trial ocorreu durante um ano, envolveu 4 braços de pacientes (tratamentos com placebo, pregabalina e pramipexole, doses de 300mg/dia e 0,25 ou 0,50mg/dia, respectivamente). O efeito de “augmentation” foi avaliado no final do estudo, entre a semana 40 a 52 do estudo. O trial demonstrou que pacientes tratados com pregabalina tiveram uma significativa melhora na escala “International RLS (Restless Leg Syndrome) Study Group Rating Scale” (escala IRLS), quando comparados com o grupo que recebeu pramipexole. A melhora nos escores médios da escala IRLS foi de 4,5 pontos a favor da pregabalina (P<0.001). As taxas de piora clínica a longo prazo – “augmentation”, foram menores com a pregabalina versus pramipexole na dose maior (0,5mg/dia, 2.1% vs. 7.7%, P=0.001), e semelhantes com a dose de pramipexole de 0,25mg/dia (2.1% vs. 5.3%, P=0.08). Resumo da ópera: Pregabalina foi melhor no controle dos sintomas / desfechos do trial, e melhor em relação às taxas de “augmentation” em relação ao pramipexole 0,5mg ao dia.

RLS imaging

LINKS

Chokroverty S. Therapeutic dilemma for restless legs syndrome. NEJM 2014. Editorial.

Allen et al. Comparison of pregabalin with pramipexole for restless legs syndrome. NEJM 2014.

Fonte da imagem: www.middlesexhospital.org.

Trombólise no AVCi: Joinville ensina como fazer

Por Maramélia Miranda

Parabéns!!!!!!!

Colegas de Joinville, todos vocês, sem citar nominalmente nenhum, para não ser injusta e esquecer alguém… PARABÉNS A TODOS.

Vejam lá, colegas neuros, no artigo publicado na Cerebrovascular Diseases Extra (dezembro de 2013), que está FREE para acesso na Internet, como fazer Neurologia Vascular: organização, trabalho de equipe, registrar os casos, criar seus banco de dados, unir os times, manter a “chama” acesa a todo o tempo, e assim fazer o que há de melhor, dentro de todas as limitações que o sistema de saúde brasileiro tem, e ultrapassar todas estas barreiras para mostrar que podemos, sim, tratar os nossos pacientes como são tratados os casos de AVCi agudo em países mais desenvolvidos.

Apenas quero lembrar de uma coisa: Não estamos falando de São Paulo, Rio, Recife, grandes metrópoles com centros altamente tecnológicos, não estou falando de aparelhos de última geração, muito menos de ressonâncias magnéticas, estudos de perfusão, neuroimagem avançada, NADA DISSO!!!!! Basta ter um centro hospitalar com TC de crânio 24h, ter o trombolítico, ter o médico / neuro para indicar a trombólise, e a equipe para seguir os casos depois (médicos, fisios, TOs, fonos, enfermeiros, estatísticos).

O grupo catarinense prova, mais uma vez, que menos é mais, que o simples, para ser atingido, exige apenas a vontade das pessoas, o trabalho em equipe, o material humano disponível, e a disposição dos coordenadores em manter seu time sempre motivado, manter esta proatividade a longo prazo. “O rTpa é seguro, deve ser oferecido com equidade e todos temos uma curva de aprendizado”, comenta o Prof. Norberto Cabral, um dos autores do estudo populacional. 

Joinville, com cerca de 500-600.000 habitantes, com apenas 3 hospitais gerais e dois deles centros dedicados e com expertise em AVC, consegue trombolisar 6% de todos os seus casos de AVCi.

Incidência de trombólise endovenosa no AVCi, na cidade de Joiville, de 2005 a 2011. (Uso da imagem autorizada pelos autores)
Incidência de trombólise endovenosa no AVCi, na cidade de Joiville, de 2005 a 2011. (Uso da imagem autorizada pelos autores)

Mais que isso, as taxas de trombólise aumentaram de 1.4 em 2005, para 9.8 (7.3-12.9) por 100.000 habitantes em 2011 (p < 0.0001). 

Para os que ainda são céticos e medrosos em relação aos sangramentos, a série catarinense mostrou 6.4% (14/220) de hemorragia intracraniana sintomática. 

Boa leitura de Carnaval!!!!