Doença de Parkinson pré-clínica: Tremor e rigidez não é tudo

Recado do estudo inglês, um estudo de casos-controles publicado no final do ano passado na Lancet Neurology: Não subestime os neurônios dopaminérgicos degenerados da substância negra nos pacientes com Doença de Parkinson Idiopático (DPI).

Além do tremor, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural típicos da doença, os sintomas pré-clínicos estão cada vez mais reconhecidos, e são considerados importantes, sobretudo no reconhecimento precoce da síndrome e para o desenvolvimento de linhas de pesquisa na área.

A seguir, a listinha do que foi positivo, no paper publicado:

Tremor (RR 13·70, 95% CI 7·82–24·31)

Instabilidade postural (HR 2·19, 1·09–4·16)

Constipação (HR 2·24, 2·04–2·46)

Hipotensão postural (HR 3·23, 1·85–5·52)

Disfunção eréctil (HR 1·30, 1·11–1·51)

Disfunção urinária (HR 1·96, 1·34–2·80)

Tonturas (HR 1·99, 1·67–2·37)

Fadiga (HR 1·56, 1·27–1·91)

Depressão (HR 1·76, 1·41–2·17)

Ansiedade (HR 1·41, 1·09–1·79)

Pra os mais céticos, que não costumam “crer” nestes sintomas pré-clínicos do Parkinson, argumentando que a gente, quando fica velho, invariavelmente vamos ter tudo isso aí em cima – vamos tremer, andar pior, ter intestino preso, problemas de ereção, incontinência por causa do prostatismo, todos ficaremos tontos, cansados, deprimidos e com ansiedade por causa, tudo tudinho, da velhice??!!! O estudo é uma pequena resposta de que, nos idosinhos normais, nos controles, a frequência de surgimento de DPI foi realmente menor.

Mais uma boa publicação dos ingleses e suas estatísticas…

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Meu Deus querido do coração: Protejei os neurônios da minha substância negra…

LINK

Schrag et al. Prediagnostic presentations of Parkinson’s disease in primary care: a case-control study. Lancet Neurology 2015.

Antiagregar ou anticoagular em dissecções arteriais cervicais??? CADISS publicado!

Por Maramelia Miranda

Wow…! Não me diga…

Então, quer dizer que dar antiagregantes ou anticoagulantes a pacientes com dissecção arterial cervical (apenas dissecção extracraniana, quer seja da artéria vertebral ou carotídea)… Não faz diferença?!

Vejam o número: OR 0·346, 95% CI 0,006–4,390; p=0·66.

Tem uns detalhezinhos metodológicos do estudo muito bem observados pela Dra. Gisele Sampaio e outros neurovasculares, durante uma sessão científica realizada por teleconferência ontem: tipo de antiagregação usada no estudo (dupla terapia antiplaquetária era possível) e problemas na confirmação do diagnóstico durante o trial.

ferriswheel

Roda da ciência: E aí?! Vamos então abandonar a anticoagulação em dissecções de carótidas e vertebrais? Para responder, leiam o artiguinho publicado, segundo lugar dos mais lidos na Lancet Neurology…

 

LINK

The CADISS Investigators. Antiplatelet treatment compared with anticoagulation treatment for cervical artery dissection (CADISS): a randomised trial. Lancet Neurology 2015.

CATHARSIS: Aspirina e cilostazol em estenoses intracranianas

Publicado na Cerebrovascular Diseases – última edição.

Interessante. Tentou replicar o TOSS, mas alguns dos resultados foram diferentes.

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Depois detalho o paper.

LINKS

Uchiyama et al. Final Results of Cilostazol-Aspirin Therapy against Recurrent Stroke with Intracranial Artery Stenosis (CATHARSIS). Cerebrovasc Dis Extra 2015.

Kwon et al. Cilostazol prevents the progression of the symptomatic intracranial arterial stenosis: the multicenter double-blind placebo-controlled trial of cilostazol in symptomatic intracranial arterial stenosis. Stroke 2005.

Han et al. Effect of Cilostazol in Acute Lacunar Infarction Based on Pulsatility Index of Transcranial Doppler (ECLIPse): A Multicenter, Randomized, Double-Blind, Placebo-Controlled Trial. Eur Neurol 2013.

O paraíso da Neuromuscular

Confesso meu pecado. Não escrevo quase nada de neuromuscular. Mas convenhamos, é bem específico, e realmente não é nosso dia-a-dia. Hoje vou me redimir. Falando em Neurointensivismo, sempre lembramos das duas principais condições: Guillain-Barré e Miastenia Gravis.

Pensou em alguma coisa bem cabeluda, bem difícil em Neuromuscular?!

Na homepage da Washington University (St Louis) tem.

Não diria tudo, porque sempre alguém vai achar uma raridade da raridade que não encontrará no site, mas quase tudo sobre as principais doenças em Neuromuscular… Aí você irá encontrar…

Site: NM Site da Washington University/Saint Louis (WUSTL) – NEUROMUSCULAR   DISEASE   CENTER

REFLEX-TEST

Divirtam-se, coleguinhas!

Escalas e docs “na mão” para prescrever medicamentos de alto custo

Atenção colegas neuros !!!

Os postos que dispensam as drogas de alto custo aos pacientes estão exigindo cada vez mais algumas escalinhas neurológicas para prescrevermos os medicamentos para EM (esclerose múltipla) e DA (medicações para Alzheimer).

Abaixo, duas das que mais utilizo:

EDSS – Escala Expandida do Estado de Incapacidade – Tem que fazer a cada 3 meses, na renovação do processo dos medicamentos. Ainda vou arrumar uma versão para impressão mais fácil. Por enquanto, ficamos com essa aí.

EDSS

CDR – Clinical Dementia Rating – Recentemente a Secretaria de Saúde de São Paulo tem exigido, além do conhecido e difundido Mini Exame do estado Mental, esta outra escala na prescrição das drogas para DA. Esta versão da CDR está pronta para impressão e preenchimento no consultório ou ambulatório, lembrando que é necessária a assinatura do neurologista e identificação do paciente.

E para prescrever as medicações, os impressos abaixo:

LME – Farmácia de Alto Custo SP – Versão editável do impresso LME. Você digita o nome e dados do seu consultório e do paciente, droga, doses, seu CNS, e depois manda imprimir em PDF o documento. Pronto, está feito!

Link da Secretaria do Estado de SP – Lá você encontra a versão online para fazer a LME.

Lista de exames necessários – Farmácia de Alto Custo SP – Relação completa dos exames necessários na abertura e manutenção dos processos.

Lista de documentos gerais – Farmácia de Alto Custo SP

Check-list – Leia antes de prescrever o Fingolimode para seu paciente

Termo de Consentimento para Imunomoduladores – Farmácia de Alto Custo SP

Termo de Consentimento para inibidores da colinesterase – Doença Alzheimer – Farmácia de Alto Custo – SP

PS. Hoje, 20/02/2015, descobri o site do MS onde podemos ter acesso a todos os termos de consentimento para todas as drogas dispensadas pela farmácia de alto custo, graças à filha do meu paciente, Alessandra, que me mandou um link… Alê, perfeita sua dica!!! Confesso que procuro isso há anos na Internet…

Compartilho com vcs – AQUI. Cliquem nos links onde há o nome da doença, e aí vcs entram numa página onde há o termo de consentimento de cada droga, com a possibilidade de editar, digitar, como quiserem. Atentar que a lista está organizada por letras, portanto pesquise pelo medicamento, letra de início, depois entre na página seguinte, e assim vai (o site não é dos mais amigáveis para navegação…). Mesmo assim, e considerando que não está atualizado, é Maravilhoso!!!!!

Trombectomia no AVCi agudo: Antes e depois de 2015

Por Maramélia Miranda

Sempre falo. Parece um mantra: Estamos sempre atrás dos cardiologistas. Uns 10-20 anos. Foi assim com prevenção secundária, foi assim com o uso de antitrombóticos, foi assim com os stents, foi assim com o desenvolvimento dos novos antiplaquetários, foi assim com trombólise no evento agudo, é assim, está sendo assim com a intervenção endovascular no evento agudo. Historicamente, eles nos conduzem.

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AVC isquêmico. Infarto agudo do miocárdio.

Duas doenças, uma fisiopatologia semelhante: oclusão arterial aguda com infarto do tecido irrigado pela artéria ocluída. Tempo é músculo. Tempo é cérebro.

Neste ponto, temos uma pequena diferença: o miocárdio aguenta a isquemia um tempinho a mais. Nosso cérebro é cruel com os neurologistas: Temos muito pouco tempo. Além destas pouquíssimas horas, se deixar passar e não fizer nada, já infartou tudo. De nada adianta mais esforços. As sequelas estarão instaladas.

Agora, finalmente, depois de anos e anos acreditando, mas sem ter provas, de que talvez a “angioplastia primária” dos cardiologistas tivesse o mesmo efeito se fosse feita no cérebro, finalmente chegamos em 2015 com 4 respostas trazidas pelos estudos controlados e randomizados – MR CLEAN, ESCAPE, SWIFT-PRIME e EXTEND-IA – de que – sim!!!!  Fazer a trombectomia na fase aguda de AVCi nos casos com oclusões proximais, faz diferença. (Veja vídeo com animação de uma trombectomia – AQUI).

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Isso é realmente histórico.

Comparável ao dia em que foi publicado o estudo com rTPA no AVCi agudo na NEJM. Comparável ao estudo NASCET de 1991 em endarterectomia carotídea.

Comparável aos estudos da Cardiologia Intervencionista, que demonstraram a efetividade da angioplastia primária no tratamento do infarto agudo do miocárdio. Antes disso, a terapia de primeira linha era trombolisar. Depois, passou a ser angioplastia primária. Trombólise sozinha é feita em locais onde não se dispõe de Hemodinâmica cardíaca.

Agora, a nossa “angioplastia primária”, ou, me atrevo a dizer , nossa “trombectomia+trombólise primária”, é o estado da arte nos casos com critérios para fazê-la.

Feliz. Estou muito feliz. Todos os neurovasculares, apaixonados por esta área, e loucos de vontade de fazer mais bem, de oferecer sempre algo melhor aos nossos pacientes, todos nós estamos felizes!!!!

O novo desafio a partir de agora: Como implantar, disseminar, executar esta terapia em nosso país, onde a triste realidade é de que – ainda em muitos centros, não dispomos de profissionais capacitados para indicar nem mesmo o rTPA EV sistêmico!?

Como formar mais neurointervencionistas, para que estes possam ir trabalhar, abrir, criar mais centros de referência, onde ainda não há estes profissionais?

Isso vai ter que mudar.

Leia mais…

Acesso aos slides das apresentações, direto da homepage da ISC 2015

LINKS dos Estudos (artigos): MR CLEAN / ESCAPE / SWIFT-PRIME / EXTEND-IA

Mais repercussão: Trombectomia em 2015

 

sheila

“11 de fevereiro de 2015 vai ficar na historia da Neurologia Vascular mundial. Os 3 estudos positivos, somados ao Mr Clean, apresentado em outubro de 2014 no Congresso Mundial de AVC, demonstraram 2,5 vezes mais chance de ficar independente com trombectomia do que com tratamento clinico. É a mudança mais importante na Neurologia Vascular nos últimos 20 anos, desde a demonstração em 1995 de que o rtPA melhorava a evolução de pacientes com AVC, terapia que permaneceu como único tratamento aprovado para o AVC ate o dia 11. A  emoção com os resultados foi tão grande que as apresentações eram interrompidas no meio, por aplausos entusiasmados da platéia que assistiu, ao vivo, esta mudança histórica! Estamos felizes, emocionados e orgulhosos por fazermos parte desta mudança.” (Sheila Martins, neurovascular gaúcha, representante da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares junto à WSO – World Stroke Organisation)

 

gisele

“Agora nos resta aplicar os resultados dos estudos na nossa pratica clinica. Isso implica na construção de novos protocolos em serviços públicos e privados, que garantam que nossos pacientes consigam se beneficiar de tais resultados.” (Gisele Sampaio, neurovascular, docente da Neurologia da UNIFESP e presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares)

Repercussão: Trombectomia em 2015

 

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” Talvez o avanço maior no tratamento do AVC neste século…” (José Guilherme Caldas, diretor da Neurorradiologia Intervencionista do InRad-HC-FMUSP, comentando sobre os trials positivos em trombectomia publicados ontem)

 

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“Em um dia, tivemos mais trials positivos em AVCi agudo do que nos últimos 20 anos.” (Werner Hacke, neurovascular alemão, comentando sobre a série de estudos positivos – ESCAPE, MR CLEAN, EXTEND IA e SWIFT-Prime, apresentados na ISC 2015, em Nashville)

 

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“EXTEND-IA, ESCAPE e SWIFT PRIME positivos!!! NNT de 3-7!!!! Agora temos 4 trials positivos para trombectomia!!! ” (Octávio Marques Pontes-Neto, neurovascular da FMUSP-Ribeirão Preto, idem)

 

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“Acho que o emocionante foi ontem (i.e., 11 fev 2015). Agora só virão pequenas notícias.” (Gabriel de Freitas, neurovascular do Rio de Janeiro, comentando hoje – 12 fev, e referindo-se aos Highlights que ainda podem vir e às apresentações do dia 11 fev 2015, do congresso americano de AVC 2015).

 

flavio

“Incrível! Vocês precisavam ter visto! Três trials positivos apresentados em seguida e todos aplaudindo!!!”(Flávio Carvalho, neurovascular da UNIFESP e Hospital Albert Einstein, em mensagem enviada logo após a apresentação dos estudos em Nashville, na ISC 2015)

 

mara

“Será antes e depois de 11 de fevereiro de 2015.” (eu, Maramelia Miranda, neurovascular da UNIFESP, conversando online com José Guilherme Caldas, neurorradiologista do InRAD-FMUSP, sobre o impacto que estes estudos terão na prática neurovascular a partir de agora)

ESCAPE Trial (Swift e EXTEND): Neurointervenção 3x funciona em AVCi agudo!

Por Flavio Carvalho e Maramelia Miranda

Direto de Nashville – International Stroke Conference 2015!!!!!

O ESCAPE Trial foi apresentado hoje, com acesso online simultâneo na homepage da NEJM… Covidien (patrocinadora do trial) comemorando… A apresentação do primeiro slide no centro de convenções, aplaudida.

A seguir, foram apresentados os estudos EXTEND IA e Swift Prime, todos POSITIVOS para a terapia endovascular em agudos com AVCi. Depois mais resultados do MR CLEAN que havia sido apresentado no ano passado. A reação da plateia, cansada de anos e anos com estudos negativos na área, foi eufórica, com aplausos, e mais aplausos…

neuroradiol

Portanto, nós neurologistas também ficamos muito felizes com novas evidências, mais uma opção do que fazer para os nossos pacientes!!!!!!!

Vejam os detalhes do ESCAPE, e abaixo os links dos outros 3 estudos de neurointervenção:::::: (corram, não sei quanto tempo os papers vão ficar com acesso free na revista)

Goyal et al, from ESCAPE Trial Investigators. Randomized Assessment of Rapid Endovascular Treatment of Ischemic Stroke. NEJM 11 feb 2014.

BACKGROUND. Among patients with a proximal vessel occlusion in the anterior circulation, 60 to 80% of patients die within 90 days after stroke onset or do not regain functional independence despite alteplase treatment. We evaluated rapid endovascular treatment in addition to standard care in patients with acute ischemic stroke with a small infarct core, a proximal intracranial arterial occlusion, and moderate-to-good collateral circulation.

METHODS. We randomly assigned participants to receive standard care (control group) or standard care plus endovascular treatment with the use of available thrombectomy devices (intervention group). Patients with a proximal intracranial occlusion in the anterior circulation were included up to 12 hours after symptom onset. Patients with a large infarct core or poor collateral circulation on computed tomography (CT) and CT angiography were excluded. Workflow times were measured against predetermined targets. The primary outcome was the score on the modified Rankin scale (range, 0 [no symptoms] to 6 [death]) at 90 days. A proportional odds model was used to calculate the common odds ratio as a measure of the likelihood that the intervention would lead to lower scores on the modified Rankin scale than would control care (shift analysis).

RESULTS. The trial was stopped early because of efficacy. At 22 centers worldwide, 316 participants were enrolled, of whom 238 received intravenous alteplase (120 in the intervention group and 118 in the control group). In the intervention group, the median time from study CT of the head to first reperfusion was 84 minutes. The rate of functional independence (90-day modified Rankin score of 0 to 2) was increased with the intervention (53.0%, vs. 29.3% in the control group; P<0.001). The primary outcome favored the intervention (common odds ratio, 2.6; 95% confidence interval, 1.7 to 3.8; P<0.001), and the intervention was associated with reduced mortality (10.4%, vs. 19.0% in the control group; P=0.04). Symptomatic intracerebral hemorrhage occurred in 3.6% of participants in intervention group and 2.7% of participants in control group (P=0.75).

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CONCLUSIONS. Among patients with acute ischemic stroke with a proximal vessel occlusion, a small infarct core, and moderate-to-good collateral circulation, rapid endovascular treatment improved functional outcomes and reduced mortality. (Funded by Covidien and others; ESCAPE ClinicalTrials.gov number, NCT01778335.)

 

LINKS dos Estudos (artigos)

MR CLEAN

ESCAPE

SWIFT-PRIME

EXTEND-IA