Neurologistas em formação: Desenvolvam suas habilidades clínicas!

Por Maramelia Miranda

Um artigo de revisão muuuito bom foi publicado este mês na JNNP. E foi um dos artigos escolhidos pelo editor, Matthew Kiernan, para ficar aberto aos leitores da Internet, e não apenas aos assinantes!!!!!

Nicholl & Appleton. Clinical neurology: why this still matters in the 21st century. JNNP 2015.

Os autores discutem sobre aspectos do que assistimos constantemente na prática da Neurologia, os dois lados: aqueles profissionais que enchem os pacientes de pedidos de exames médicos, porque hoje você consegue ver até a substância negra do doente com Parkinson!!! Vemos microbleeds nos exames de ressonância magnética! Ao contrário, há neurologistas que já conseguem dizer o correto diagnóstico apenas ouvindo a história do paciente. E há neurologistas que não sabem nem pegar num martelo para testar reflexos profundos! Algumas vezes, um monte de exames desnecessários atrasam um diagnóstico que urge em receber o correto tratamento…

No fundo, no fundo, detalhes como uma boa história e detalhamento minucioso dos sintomas, um bom exame neurológico, continuam sendo imbatíveis na construção dos diagnósticos neurológicos…

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Recado: Ouça, ouça, ouça; depois veja, examine, observe… Terceiro: pense, pense, pense. O que pode ser isso?

E por último, após enumerar os diagnósticos diferenciais, aí sim, peça os exames COMPLEMENTARES, que irão auxiliar a montagem do quebra-cabeças que é uma consulta em Neurologia, na parte final da definição das suas hipóteses.

Artigo imperdível. 

Para abrir o artigo direto no seu aparelho (tablet ou celular), podem escanear o code abaixo.

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Fonte da imagem: UCSD.

Classificação Internacional de Cefaleia: Versão em português

Por João José de Carvalho **

Saiu a tradução da Classificação Internacional de Cefaleia (International Headache Classification Disorders – ICHD) – 3a. edição – versão beta, em português. É português de Portugal e, como deve ser, eles chamam enxaqueca (do árabe “sagiga”, mesma origem de “jaqueca” em espanhol) de enxaqueca (e não “migranea”, do inglês arcaico “megrim”, e posteriormente “migraine”) e “cefaleia tensional” de cefaleia do tipo tensão (termo mais apropriado e tradução correta do original para o português).

Quem sabe a Sociedade Brasileira de Cefaleia segue o mesmo caminho na tradução em curso da ICHD3 para o nosso português.

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LINKS

International Headache Society – IHS – Link para as versões traduzidas

ICHD – 3a. Edição – Versão em Português

** Dr. João José de Carvalho é Neurologista do Hospital Geral de Fortaleza.

Cirurgia pós-AVC isquêmico: Quando fazer?

Por Daniel Fialho **

Devemos esperar uma “gestação” para liberar nossos pacientes pós-AVCi para uma cirurgia não-cardíaca (exceto revascularização carotídea) eletiva ???

Hoje, as avaliações neurológicas estão ainda literalmente “em gestação”, reclusas aos grandes centros ou ao ambiente acadêmico, mas, com certeza, tornar-se-ão rotina, como é a avaliação cardíaca.

E vocês, qual o intervalo indicam entre um evento cerebral isquêmico e uma cirurgia eletiva?

Vejam o artigo da JAMA abaixo:

Time Elapsed After Ischemic Stroke and Risk of Adverse Cardiovascular Events and Mortality Following Elective Noncardiac Surgery

Jornal: JAMA

Autores e Local: Jørgensen et al (Copenhagen, Dinamarca)

Abstract

Importance: The timing of surgery in patients with recent ischemic stroke is an important and inadequately addressed issue.

Objective:  To assess the safety and importance of time elapsed between stroke and surgery in the risk of perioperative cardiovascular events and mortality.

Design, Setting, and Participants:  Danish nationwide cohort study (2005-2011) including all patients aged 20 years or older undergoing elective noncardiac surgeries (n=481 183 surgeries).

Exposures:  Time elapsed between stroke and surgery in categories and as a continuous measure.

Main Outcomes and Measures: Risk of major adverse cardiovascular events (MACE; including ischemic stroke, acute myocardial infarction, and cardiovascular mortality) and all-cause mortality up to 30 days after surgery. Odds ratios (ORs) were calculated by multivariable logistic regression models.

Results:  Crude incidence rates of MACE among patients with (n = 7137) and without (n = 474 046) prior stroke were 54.4 (95% CI, 49.1-59.9) vs 4.1 (95% CI, 3.9-4.2) per 1000 patients. Compared with patients without stroke, ORs for MACE were 14.23 (95% CI, 11.61-17.45) for stroke less than 3 months prior to surgery, 4.85 (95% CI, 3.32-7.08) for stroke 3 to less than 6 months prior, 3.04 (95% CI, 2.13-4.34) for stroke 6 to less than 12 months prior, and 2.47 (95% CI, 2.07-2.95) for stroke 12 months or more prior. MACE risks were at least as high for low-risk (OR, 9.96; 95% CI, 5.49-18.07 for stroke <3 months) and intermediate-risk (OR, 17.12; 95% CI, 13.68-21.42 for stroke <3 months) surgery compared with high-risk surgery (OR, 2.97; 95% CI, 0.98-9.01 for stroke <3 months) (P = .003 for interaction). Similar patterns were found for 30-day mortality: ORs were 3.07 (95% CI, 2.30-4.09) for stroke less than 3 months prior, 1.97 (95% CI, 1.22-3.19) for stroke 3 to less than 6 months prior, 1.45 (95% CI, 0.95-2.20) for stroke 6 to less than 12 months prior, and 1.46 (95% CI, 1.21-1.77) for stroke 12 months or more prior to surgery compared with patients without stroke. Cubic regression splines performed on the stroke subgroup supported that risk leveled off after 9 months.

Conclusions and Relevance:  A history of stroke was associated with adverse outcomes following surgery, in particular if time between stroke and surgery was less than 9 months. After 9 months, the associated risk appeared stable yet still increased compared with patients with no stroke. The time dependency of risk may warrant attention in future guidelines.

 

** Daniel Fialho é neurologista, chefe do serviço de Neurologia do Hospital São Francisco, em Concórdia, SC.

Cirurgia em Epilepsia: Artigo de revisão

Epilepsy surgery in children and adults

Autores: Ryvlin, Cross & Rheims.

Revista: Lancet Neurology (artigo de revisão)

Summary: Epilepsy surgery is the most effective way to control seizures in patients with drug-resistant focal epilepsy, often leading to improvements in cognition, behaviour, and quality of life. Risks of serious adverse events and deterioration of clinical status can be minimised in carefully selected patients. Accordingly, guidelines recommend earlier and more systematic assessment of patients’ eligibility for surgery than is seen at present. The effectiveness of surgical treatment depends on epilepsy type, underlying pathology, and accurate localisation of the epileptogenic brain region by various clinical, neuroimaging, and neurophysiological investigations. Substantial progress has been made in the methods of presurgical assessment, particularly in patients with normal features on MRI, but evidence is scarce for the indication and effect of most presurgical investigations, with no biomarker precisely delineating the epileptogenic zone. A priority for the development of epilepsy surgery is the generation of high-level evidence to promote the harmonisation and dissemination of best practices.

Como está o mercado de trabalho dos Neurologistas?

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NÃO SABEMOS!!!!!!!!

A realidade mesmo é que não temos dados concretos a respeito disso.

Dois pesquisadores da UFRJ e UNIFESP estão realizando uma pesquisa online sobre o mercado de trabalho para Neurologistas. A pesquisa ajudará a entender melhor a situação da nossa especialidade. Os dados respondidos são sigilosos, cegos para os investigadores, e não serão identificados. Quem quiser, poderá reenviar o link para outros colegas Neurologistas, disseminando a pesquisa.

Lembrando que o questionário é curto, não consumindo mais do que 5 minutinhos do seu tempo, e que, ao final, você deverá aguardar cerca de 20 segundos a tela de confirmação.

Apenas após esta mensagem suas respostas entrarão na pesquisa.

LINK DA PESQUISA – AQUI

Neuropalliative Care: Como eu traduzo isso?

Por Maramelia Miranda

Comecei a ler este artigo, achei-o bem interessante, e assim como faço sempre, vou lendo e fazendo a resenha para divulgar aqui. 

Mas… Na hora de passar para o português, a dúvida: Como traduzir esta nova “subespecialidade”, este novo campo de atuação da Neurologia? Seria, por acaso, Cuidados Neuropaliativos?!  🙂

O artigo, um texto curto (3 páginas), está publicado ASAP esta semana na Neurology – AQUI. Acesso free, livre! Corram para baixar!!!! 

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Número de hospitais nos EUA com equipe de Cuidados Paliativos. Fonte: capsules.jaiserhealthnews.org.

Robinson & Barrett discutem no texto sobre a especialidade já consolidada nos EUA, a Medicina Paliativa, e uma nova visão de mercado da conjunção desta área médica com a nossa especialidade, uma vez que tratamos de muitos casos com sequelas sérias, cuidamos de muitos pacientes com doenças degenerativas e incuráveis bastante sérias, onde este assunto quase sempre vem à tona.

O trato dos pacientes, de suas famílias, saber como abordar temas tão delicados, como perceber as expectativas de todos, algumas reais, outras totalmente irreais, sobretudo em um país com uma cultura latina, religiosa tão forte, como é o nosso… Em um país onde não há a prática de retirada de cuidados, diferentemente de outros locais…

Este é um tema, uma área que deveria fazer, necessariamente, parte da formação dos nossos residentes em Neurologia, e diria também (por que não?!), dos residentes da Neurocirurgia… Na UNIFESP, os residentes da Neuroclínica passam em rodízio com o grupo de Cuidados Paliativos. Certíssimo. Tem que ser.

Leiam o texto. Vale a leitura.

LINKS

Robinson & Barret. Emerging Subspecialties in Neurology: Neuropalliative care. Neurology 2014.

Hidrocefalia de Pressão Normal: Acetazolamida funciona?!

Não sei, talvez funcione um pouco.

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É o que tentou responder um grupo de neurologistas da Universidade de Miami e da Cornell University. Este estudo piloto com apenas 8 casos de HPN, avaliando marcadores de neuroimagem após o tratamento com doses baixas de acetazolamida (125–375 mg/dia), droga comumente usada em hipertensão intracraniana idiopática (HII), ou pseudotumor cerebrii, foi publicado na edição mais recente da Neurology. O mesmo grupo já havia apresentado os resultados preliminares no congresso da AAN em 2012.

Alperin e colaboradores estudaram os volumes de hiperintensidades da substância branca global e periventriculares dos pacientes randomizados, e alterações da marcha (pela escala de Boon). Dos 8 casos incluídos no estudo, 5 responderam positivamente, com melhora média de 4 pontos na escala de Boon e redução significante do volume da hiperintensidade da substância branca periventricular (−6.1 ± 1.9 mL, p = 0,002), após o tratamento. Um dos casos não teve melhora, e outros 2 pioraram e foram encaminhados para cirurgia. Não houve redução significativa do volume da HSBP nos casos operados. 

Conclusão dos autores: Baixas doses de acetazolamida podem reduzir a hiperintensidades de substância branca periventriculares da HPN e melhorar sintomas de marcha em casos de HPN idiopática. Adicionalmente, advogam que a volumetria das hiperintensidades da substância branca periventriculares, feitas pela RM, é um potencial marcador radiológico de desfechos dos casos de HPN, que podem ser utilizados em estudos futuros.

LINKS

Relken et al. Apresentação do piloto do trabalho na AAN 2012.

Alperin et al. Low-dose acetazolamide reverses periventricular white matter hyperintensities in iNPH. Neurology 2014.

Pregabalina ou Pramipexole para Síndrome das Pernas Irriquietas?

Por Maramelia Miranda

Para quem tem pacientes com Síndrome das Pernas Irriquietas (SPI), uma nova evidência volta a esquentar a discussão sobre o manejo desta interessante doença neurológica.

Richard Allen (Johns Hopkins University) e colaboradores publicaram no mês passado, na NEJM, um estudo multicêntrico, prospectivo e controlado duplo-cego, testando as drogas pregabalina e pramipexole e avaliando a efetividade destes diferentes tratamentos e efeitos colaterais a longo prazo, especificamente a piora clínica com a terapia prolongada (“augmentation”). O trial ocorreu durante um ano, envolveu 4 braços de pacientes (tratamentos com placebo, pregabalina e pramipexole, doses de 300mg/dia e 0,25 ou 0,50mg/dia, respectivamente). O efeito de “augmentation” foi avaliado no final do estudo, entre a semana 40 a 52 do estudo. O trial demonstrou que pacientes tratados com pregabalina tiveram uma significativa melhora na escala “International RLS (Restless Leg Syndrome) Study Group Rating Scale” (escala IRLS), quando comparados com o grupo que recebeu pramipexole. A melhora nos escores médios da escala IRLS foi de 4,5 pontos a favor da pregabalina (P<0.001). As taxas de piora clínica a longo prazo – “augmentation”, foram menores com a pregabalina versus pramipexole na dose maior (0,5mg/dia, 2.1% vs. 7.7%, P=0.001), e semelhantes com a dose de pramipexole de 0,25mg/dia (2.1% vs. 5.3%, P=0.08). Resumo da ópera: Pregabalina foi melhor no controle dos sintomas / desfechos do trial, e melhor em relação às taxas de “augmentation” em relação ao pramipexole 0,5mg ao dia.

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LINKS

Chokroverty S. Therapeutic dilemma for restless legs syndrome. NEJM 2014. Editorial.

Allen et al. Comparison of pregabalin with pramipexole for restless legs syndrome. NEJM 2014.

Fonte da imagem: www.middlesexhospital.org.

Choosing Wisely: Agora é a vez da Sociedade Americana de Cefaleia

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Continuando aquela campanha de divulgação sobre coisas fúteis e sem necessidade que muitos médicos e especialistas fazem na sua prática diária, a American Headache Society (AHS) publicou na revista Headache um artigo com os Top 5 em não-recomendações para o manejo de pacientes com cefaleia. A lista partiu de uma pré-seleção de 11 recomendações, tudo publicado no paper, que está free access na internet, na página da revista.

Vejam abaixo os Top 5 “DON’TS” na área de Cefaleias:::

  • Não prescreva exames de neuroimagem para pacientes com cefaleias estáveis que preenchem critérios para migrânea – enxaqueca.
  • Não faça exame de tomografia do crânio para cefaleia, quando uma ressonância magnética pode ser feita, exceto no contexto de uma emergência (pronto-socorro).
  • Não recomende procedimento de desativação cirúrgica de trigger points de enxaqueca a não ser em casos randomizados para estudos clínicos.
  • Não prescreva opióides ou medicações contendo butalbital como terapia de primeira escolha para transtornos de cefaleia recorrente.
  • Não recomende o uso prolongado e/ou frequente de medicamentos analgésicos para cefaleia.

LINKS

Loder et al. Choosing Wisely in Headache Medicine: The American Headache Society’s List of Five Things Physicians and Patients. Headache 2013.

Manual de Rotinas para Atenção ao AVC

Por Maramelia Miranda

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Para os profissionais da rede pública, para as UBSs, para os hospitais públicos, para as UPAs, para os hospitais privados que já possuem protocolos de AVC e para os que ainda não tem! Para os neurologistas em suas consultas diárias, para os enfermeiros e enfermeiras na atenção básica e intrahospitalar. Para os fisioterapeutas, TOs, técnicos e auxiliares de enfermagem. Para os gestores!!!!

Para quem quer saber mais, ver escalas, fluxogramas, algoritmos de atendimento.

Está tudo escrito, detalhadinho, neste manual desenvolvido pelo Ministério da Saúde, sob a coordenação da Dra. Sheila Martins e com o auxílio de expertises na área. Edição novíssima, de 2013. Para baixar o Manual, CLIQUE AQUI ou na figura acima (capa do Manual). ARQUIVO EM PDF.

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Conhecimento é sempre bom.