Estudo ARUBA: Não tratar MAVs assintomáticas com intervenções

Por Maramélia Miranda

Os dados de maior follow-up do estudo ARUBA – A Randomized Trial of Unruptured Brain Arteriovenous Malformations, único estudo clínico prospectivo controlado até o momento a se estudar qual o melhor tratamento para MAVs assintomáticas, foram apresentados no ISC 2016, em Los Angeles, esta semana.

Estes dados merecem um destaque pois, semelhante à sua primeira publicação (2014, Lancet), os pesquisadores confirmaram que realmente, intervir em casos assintomáticos aumenta em muito o risco de AVC, morte e novos déficits neurológicos.

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Os slides da apresentação estão disponíveis para quem quiser ver (abaixo).

E VEJAM.

São números realmente convincentes. A controvérsia com a Neurocirurgia e Neurorradio Intervencionista continuará… A redução de risco de AVC com o tratamento médico é de impressionantes 78%… !!!!!!

Number Needed do HARM – 5 !!!!!!

Aumento de risco de morte e AVC – 4,5 x mais !!! Com grande predomínio de eventos de AVC.

Aumento de risco de novos déficits funcionais – 2,5 x mais !!!

Comentários

O ARUBA foi um estudo que teve financiamento público, do NINDS, agência de fomento de pesquisas americana. Não há, a meu ver, conflitos de interesse por nenhum tipo de tratamento que envolva procedimentos, próteses, materiais ou reservas de mercado de um ou outro especialista. O resultado do estudo, até o momento, foi a favor de tratamento clínico (expectante). Ou seja, é melhor não fazer nada com estes casos, e apenas acompanhar…

Vários centros de neurocirurgia vascular demonstraram e ainda alardeiam por aí severas críticas ao ARUBA, mas a verdade é uma só. Esta é a evidência científica mais forte, maus robusta, sobre qual é a terapia de primeira linha a ser escolhida, de uma forma geral, inicial, para as MAVs assintomáticas (que nunca sangraram)… Respeitadas particularidades de cada caso.

A partir destes novos dados, fica cada vez mais claro que em MAVs assintomáticas, a recomendação é seguimento clínico sem intervenções. E intervenções, sejam elas embolizar, radiocirurgia ou neurocirurgias, deverão ser feitas, a princípio, dentro de protocolos de pesquisa. Assim funciona a Medicina Baseada em Evidências. Não é achismo, anedotismo ou “eu faço, eu garanto, eu assumo”.

É buscar uma estimativa de melhor terapia médica, com base em estudos clínicos e estatística, para tentar aproximar o quanto podemos uma ciência que não é exata, a Medicina, em dados um pouco mais precisos…

Resta aos neurocirurgiões desenharem, fazerem, executarem, e logo!!! – um estudo clínico prospectivo, testando a hipótese que vários expertises em Neurocirurgia Vascular, em MAVs, conseguiram demonstrar / replicar, em séries de registro e estudos retrospectivos: de que as MAVs assintomáticas dos tipos I e II devem ser tratadas exclusivamente com Neurocirurgia.

Que venha o estudo BARBADOS!!!

LINKS

Mohr et al. Medical management with or without interventional therapy for unruptured brain arteriovenous malformations (ARUBA): a multicentre, non-blinded, randomised trial. Lancet 2014. Estudo publicado em 2014.

Mohr JP et al. Viewpoints on the ARUBA Trial. AJNR 2014. Opinião e discussão dos autores do estudo sobre o mesmo e sobre as críticas dos neurocirurgiões.

Hanjani S. ARUBA Results Are Not Applicable to All Patients With Arteriovenous Malformation. Stroke 2014. 

Mohr JP. Results of ARUBA Are Applicable to Most Patients With Nonruptured Arteriovenous Malformations. Stroke 2014. 

Molina & Seilin. Unruptured Brain Arteriovenous Malformations: Keep Calm or Dance in a Minefield. Stroke 2014.

Dados do ARUBA trial em 2016. SLIDES AQUI. Resumo dos dados novos do estudo – AQUI.

 

Tags: estudo ARUBA, ARUBA 2016, ARUBA trial, MAV, malformação arteriovenosa, estudo clínico, neurocirurgia, tratamento, malformação arteriovenosa, tratamento cirúrgico, embolização, radiocirurgia, neurointervenção, MAV incidental, assintomático.

Plasma Fresco vs Concentrado Protrombínico em hemorragia intracraniana: Adivinha quem ganha?

Esse estudo é covardia… Assim não vale. Não pode ser… 🙂

Colocar o concentrado de complexo protrombínico (CCP) pra brigar com o coitadinho do plasma fresco congelado (PFC)… Em casos de AVC hemorrágico por distúrbio de coagulação…

Coidadinho do PFC…

Agora falando sério.

Realmente, não havia estudo controlado. Os alemães, que de bobos não tem nada, resolveram fazer.

E, óbvio, foi positivo.

Steiner T et al. Randomized Trial on Normalization of International Normalized Ratio Using Prothrombin Complex or Fresh Frozen Plasma in Vitamin-k Related Intracranial Bleeding. ISC 2016. Resumo da ópera em um slide AQUI.

 

CLEAR-3: Trombólise intraventricular pode auxiliar nos hemoventrículos

Um post exclusivamente para este trial, tão aguardado por anos e anos, é bem merecido.

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O CLEAR-III avaliou o uso de rTPA em doses baixas, administrado dentro do ventrículo, por meio de derivação venticular externa (DVE), em pacientes com AVCh com pequeno componente parenquimatoso e/ou hemoventrículo associado, ou apenas em casos de hemoventrículo puro.

E foi negativo. 🙁

Negativo para o desfecho primário, que era status funcional pela escala modificada de Rankin.

Mas vejam só, quando se avalia a mortalidade, um desfecho secundário, houve um decréscimo de 10% desta variável em relação ao grupo placebo. E quando se avaliou subgrupos específicos, os pacientes com maior quantidade de sangue intraventricular foram os que mais se beneficiaram da terapia trombolítica.

O estudo de fase 3 foi apresentado pelo Dr. Daniel Hanley, ontem em Los Angeles.

Hanley DF et al. Clot Lysis: Evaluating Accelerated Resolution of Intraventricular Hemorrhage (CLEAR III) Results. ISC 2016.

ACT I, IRIS e mais resultados do CREST na NEJM

Artiguinhos publicados no mesmo dia da apresentação em LA. Todos na NEJM…. Acesso Free. Temática importante. Com editoriais.

Rosenfield et al. Randomized Trial of Stent versus Surgery for Asymptomatic Carotid Stenosis. NEJM 2016.

Spence & Naylor. Endarterectomy, Stenting, or Neither for Asymptomatic Carotid-Artery Stenosis. NEJM 2016 – Editorial.

Brott et al. Long-Term Results of Stenting versus Endarterectomy for Carotid-Artery Stenosis. NEJM 2016.

Kernan et al. Pioglitazone after Ischemic Stroke or Transient Ischemic Attack. NEJM 2016.

Semenkovich CF. Insulin Resistance and a Long, Strange Trip. NEJM 2016. Editorial.

IRIS, FIND-AF, GAMES e ACT-I: Resultados apresentados no ICS 2016

IRIS – Testou pioglitazona em pacientes com AVCi ou AIT e resistência à insulina. Acompanhou os pacientes por 5 anos. Foi positivo, com redução de desfecho combinado de IAM e AVC de 24% no grupo ativo, p=0,007.

FIND-AF – Testou monitorização prolongada para diagnosticar FA em 0, 3, 6 e 9 meses após um AVCi

ACT-I – Avaliou endarterectomia versus angioplastia com stent em doença carotídea assintomática. Foi igual.

GAMES – Testou a gliburida endovenosa como terapia clínica preventiva de edema, em AVCi hemisférico, que não teve terapia de trombectomia. Foi interrompido no ano passado, e publicaram os resultados agora. A droga teve uma tendência de reduzir mortalidade global, e reduiu mortalidade por causa neurológica…

breakingnews

Amanhã tem mais… CLEAR 3, ARUBA, CREST e muito mais!!!!!

 

ARUBA, ACT-I, CLEAR-III, IRIS, e outros mais… Tudo esta semana!

Atenção neuros-navegantes-vasculares, pois o congresso americano de AVC – o ISC 2016, começará amanhã, e promete emoçõeszinhas, não tão fortes como as do ano passado, com os estudos de trombectomia, mas bastante coisa bem aguardada pela comunidade neurológica, entre eles:

ACT-I – Resultados da comparação de endarterectomia e angioplastia em pacientes com doença carotídea assintomática.

CLEAR-III – Resposta sobre o tratamento com trombólise intraventricular em hemoventrículo.

ARUBA – Resultados de maior follow-up dos pacientes randomizados no estudo ARUBA, com MAVs assintomáticas.

IRIS – Uso de pioglitazona em intolerância à glicose em pacientes com AVC.

ISC 2016: Aguardando as notícias de LA!

Stent-Retrievers para AVCi agudo: Ainda precisamos de metanálises??!!!

Mais uma publicada. Só tem que tomar cuidado para não ficar igual à história do FOP, com 17 metanálises… 🙂

Artigo desta metanálise, free no site da revista.

LINKS

Touma et al. Stent Retrievers for the Treatment of Acute Ischemic StrokeA Systematic Review and Meta-analysis of Randomized Clinical Trials. JAMA Neurology 2016.

Cavernomas: Como tratar?

A metanálise recentemente publicada na Lancet Neurology avaliou 1620 pacientes em séries retrospectivas previamente publicadas, e a evolução dos pacientes estudados. Analisando as 7 séries de pacientes, houve um risco de hemorragia intracraniana no follow-up de 5 anos de:::

— 3,8% em casos com cavernomas extra-tronco cerebral sem apresentação inicial de hemorragia ou déficit neurológico;

— 8% de risco nos casos de cavernomas de tronco com a mesma apresentação (sem hematomas ou déficits);

— 18,4% de risco de hemorragia em casos extra-tronco que haviam sangrado antes, ou apresentado sinal focal;

— 30,8% de risco de sangramento em 5 anos, nos casos de tronco com déficit ou sangramento prévios.

Ou seja, vai piorando — nesta ordem… Resumindo a ópera, a localização, e modo de apresentação iniciais, são fatores independentes relacionados ao prognóstico de sangramento intracerebral nos pacientes com cavernomas.

O artigo está free no site da Lancet Neurology. O editorial também…

Bem interessante. Para nos ajudar no manejo dos casos sintomáticos e assintomáticos.

LINKS

Horne et al. Clinical course of untreated cerebral cavernous malformations: a meta-analysis of individual patient data. Lancet Neurology 2016.

Algra & Rinkel. Prognosis of cerebral cavernomas: on to treatment decisions. Lancet Neurology 2016. Editorial.

Estudo SPRINT: Publicado!

Não foi financiado pela indústria. Foi pelo NIH.

O estudo havia parado o recrutamento em setembro passado. Aguardavam-se notícias.

Agora, em Orlando, no big-cardio-congresso da AHA, saiu.

O trial, com mais de 9000 pacientes hipertensos, demonstrou que os pacientes submetidos aos alvos mais estritos de PA (PAS< 120mmHg) tiveram um risco relativo reduzido em 25% de end-points combinados – IM, síndrome coronariana aguda, AVC, IC descompensada e morte cardiovascular; tiveram 27% menor risco de mortalidade global, e 43% menor risco de morte cardiovascular.

Uhhhhhhh… Estudo publicado na NEJM. Com direito a TRÊS EDITORIAIS. É mole?!?!?!?!

Daqui a pouco posto os links. Sugiro estas leiturinhas… Muito boas.

Moral da história: Tem que ser 12 por 8!!!!!!! Ou menos… 

LINKS

The SPRINT Research Group. A Randomized Trial of Intensive versus Standard Blood-Pressure Control. NEJM 2015.

Editorial 1 – 

Editorial 2 – 

Editorial 3 –

Beba com moderação. Trabalhe menos. E tenha menos AVC.

Dois estudos, um coreano publicado na Neurology, e outro com mais de 603 mil sujeitos avaliados, na Lancet, apontam que ingerir bebida alcóolica em moderada quantidade (3 a 4 drinks por dia – 30-40g de etanol), e trabalhar em horários considerados normais (35-40h/semana), correlacionaram-se com menor risco de AVC.

Tomar “um drinkizinho” por dia pode fazer bem…

LINKS e ABSTRACTS

Lee et al. Moderate alcohol intake reduces risk of ischemic stroke in Korea. Neurology 2015.

Objective: We undertook a population-based, case-control study to examine a dose-response relationship between alcohol intake and risk of ischemic stroke in Koreans who had different alcoholic beverage type preferences than Western populations and to examine the effect modifications by sex and ischemic stroke subtypes.

Methods: Cases (n = 1,848) were recruited from patients aged 20 years or older with first-ever ischemic stroke. Stroke-free controls (n = 3,589) were from the fourth and fifth Korean National Health and Nutrition Examination Survey and were matched to the cases by age (±3 years), sex, and education level. All participants completed an interview using a structured questionnaire about alcohol intake.

Results: Light to moderate alcohol intake, 3 or 4 drinks (1 drink = 10 g ethanol) per day, was significantly associated with a lower odds of ischemic stroke after adjusting for potential confounders (no drinks: reference; <1 drink: odds ratio 0.38, 95% confidence interval 0.32–0.45; 1–2 drinks: 0.45, 0.36–0.57; and 3–4 drinks: 0.54, 0.39–0.74). The threshold of alcohol effect in women was slightly lower than that in men (up to 1–2 drinks in women vs up to 3–4 drinks in men), but this difference was not statistically significant. There was no statistical interaction between alcohol intake and the subtypes of ischemic stroke (p = 0.50). The most frequently used alcoholic beverage was one native to Korea, soju (78% of the cases), a distilled beverage with 20% ethanol by volume.

Conclusions: Our findings suggest that light to moderate distilled alcohol consumption may reduce the risk of ischemic stroke in Koreans.

 

Kivimaki et al. Long working hours and risk of coronary heart disease and stroke: a systematic review and meta-analysis of published and unpublished data for 603 838 individuals. Lancet 2015.

Background. Long working hours might increase the risk of cardiovascular disease, but prospective evidence is scarce, imprecise, and mostly limited to coronary heart disease. We aimed to assess long working hours as a risk factor for incident coronary heart disease and stroke.

Methods. We identified published studies through a systematic review of PubMed and Embase from inception to Aug 20, 2014. We obtained unpublished data for 20 cohort studies from the Individual-Participant-Data Meta-analysis in Working Populations (IPD-Work) Consortium and open-access data archives. We used cumulative random-effects meta-analysis to combine effect estimates from published and unpublished data.

Findings. We included 25 studies from 24 cohorts in Europe, the USA, and Australia. The meta-analysis of coronary heart disease comprised data for 603 838 men and women who were free from coronary heart disease at baseline; the meta-analysis of stroke comprised data for 528 908 men and women who were free from stroke at baseline. Follow-up for coronary heart disease was 5·1 million person-years (mean 8·5 years), in which 4768 events were recorded, and for stroke was 3·8 million person-years (mean 7·2 years), in which 1722 events were recorded. In cumulative meta-analysis adjusted for age, sex, and socioeconomic status, compared with standard hours (35–40 h per week), working long hours (≥55 h per week) was associated with an increase in risk of incident coronary heart disease (relative risk [RR] 1·13, 95% CI 1·02–1·26; p=0·02) and incident stroke (1·33, 1·11–1·61; p=0·002). The excess risk of stroke remained unchanged in analyses that addressed reverse causation, multivariable adjustments for other risk factors, and different methods of stroke ascertainment (range of RR estimates 1·30–1·42). We recorded a dose–response association for stroke, with RR estimates of 1·10 (95% CI 0·94–1·28; p=0·24) for 41–48 working hours, 1·27 (1·03–1·56; p=0·03) for 49–54 working hours, and 1·33 (1·11–1·61; p=0·002) for 55 working hours or more per week compared with standard working hours (ptrend<0·0001).

Interpretation. Employees who work long hours have a higher risk of stroke than those working standard hours; the association with coronary heart disease is weaker. These findings suggest that more attention should be paid to the management of vascular risk factors in individuals who work long hours.