Guideline para reabilitação em AVC – 2016

O mundo ideal não é igual em qualquer lugar.

A reabilitação nos EUA pode parecer um sonho, modelos de reabilitação intensiva intrahospitalar, nursing homes, rehab hospitals, altas de hospitais gerais para hospitais de reabilitação… Essas coisas que sempre sonhamos mas não temos nem um tiquinho aqui no Brasil…

Introduzindo assim, explico que esta diretriz realmente… Não pode ser aplicada para nossa realidade como um todo! 

Pra começar, a importância do artigo é grande. É a primeira diretriz em reabilitação no AVC da AHA (American Heart Association) e ASA (American Stroke Association). Demorou, eih?!

Quando forem ler, podem até pular a parte que fala das recomendações de terapia de reabilitação intensiva na fase aguda… Dos modelos tal e qual eles tem lá, e nós… pobres brasileiros mortais, não temos… 🙁

Li aquilo e pensei: Doce ilusão para nós, brasucas! Não sonhe, Maramélia. Conto nos dedos onde temos um time de reabilitação estruturado e organizado assim no Brasil. Joinville (S. José), Sarah, Lucy Montoro, alguns centros privados. Mais algum????

Voltando ao mundo real, vi que alguns itens das recomendações são bastante importantes, como, por exemplo, a referência de que mobilização precoce nas primeiras horas do AVC é deletério (resultado do estudo publicado no ano passado, não lembro o nome dele, daqui a pouco resgato e modifico…)… As recomendações de manejo nos membros paréticos, muito interessantes… Principalmente aos nossos pacientes ralam bastante para ter acesso aos serviços de Fisiatria e Reabilitação no nosso país.

Há recomendações específicas para manejar e tratar ombro doloroso! Isso é uma glória! Não vou ter que ler e estudar os papers todos para pegar as melhores dicas de tratamento… Está tudo lá, resumido.

Quantas vezes você mandou o paciente com AVC para passar com Fisiatra por causa disso e ele voltou sem conseguir a consulta??? Eu? Váaaaarias.

Há recomendações do manejo de distúrbios esfincterianos, negligência, apraxia, transtorno cognitivo, ataxia, disartria, afasia, etc… Bem completo o guideline… Mencionam uso de drogas para memória e fala, como donepezila, rivastigmina, fluoxetina para melhora motora, e reforçam a ação deletéria do metilfenidato e moldafinila, importante alerta aos que gostam de usar estes agentes nos casos com extrema apatia — atenção, galera::: ritalina, não.

Enfim, uma boa pedida para leitura.

LINKS

Winstein et al. Guidelines for Adult Stroke Rehabilitation and Recovery. A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke 2016.

Escore ICH no Hematoma Intraparenquimatoso

Simples, fácil de fazer.

E pra que serve? Mais uma escala burra para decorar? Mais um indicador fútil para registrar?

Naaaãoooooooooo!!!!!!!

ICH escore-Lembrança-NICU

Quando tiver diante de um paciente com AVCh hipertensivo, por exemplo, o subtipo mais frequente de hemorragia intracerebral, muitas famílias irão te perguntar:

“E qual é o prognóstico, doutor?!”

Esta escalinha, chamada de escore ICH (intracranial hemorrhage), ou ICH score, que já foi validada em vários centros diferentes da escala publicada originalmente por Hemphill e colaboradores, realmente funciona.

De acordo com a pontuação, há uma estimativa da de mortalidade em 30 dias…

Pra calcular o volume do hematoma em ml, tem que usar a regrinha ABC/2 na tomografia de crânio. Daqui a pouco posto aqui como é fácil.

LINKS

Hemphill et al. The ICH Score. A Simple, Reliable Grading Scale for Intracerebral Hemorrhage. Stroke 2001.

Estudo ARUBA: Não tratar MAVs assintomáticas com intervenções

Por Maramélia Miranda

Os dados de maior follow-up do estudo ARUBA – A Randomized Trial of Unruptured Brain Arteriovenous Malformations, único estudo clínico prospectivo controlado até o momento a se estudar qual o melhor tratamento para MAVs assintomáticas, foram apresentados no ISC 2016, em Los Angeles, esta semana.

Estes dados merecem um destaque pois, semelhante à sua primeira publicação (2014, Lancet), os pesquisadores confirmaram que realmente, intervir em casos assintomáticos aumenta em muito o risco de AVC, morte e novos déficits neurológicos.

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Os slides da apresentação estão disponíveis para quem quiser ver (abaixo).

E VEJAM.

São números realmente convincentes. A controvérsia com a Neurocirurgia e Neurorradio Intervencionista continuará… A redução de risco de AVC com o tratamento médico é de impressionantes 78%… !!!!!!

Number Needed do HARM – 5 !!!!!!

Aumento de risco de morte e AVC – 4,5 x mais !!! Com grande predomínio de eventos de AVC.

Aumento de risco de novos déficits funcionais – 2,5 x mais !!!

Comentários

O ARUBA foi um estudo que teve financiamento público, do NINDS, agência de fomento de pesquisas americana. Não há, a meu ver, conflitos de interesse por nenhum tipo de tratamento que envolva procedimentos, próteses, materiais ou reservas de mercado de um ou outro especialista. O resultado do estudo, até o momento, foi a favor de tratamento clínico (expectante). Ou seja, é melhor não fazer nada com estes casos, e apenas acompanhar…

Vários centros de neurocirurgia vascular demonstraram e ainda alardeiam por aí severas críticas ao ARUBA, mas a verdade é uma só. Esta é a evidência científica mais forte, maus robusta, sobre qual é a terapia de primeira linha a ser escolhida, de uma forma geral, inicial, para as MAVs assintomáticas (que nunca sangraram)… Respeitadas particularidades de cada caso.

A partir destes novos dados, fica cada vez mais claro que em MAVs assintomáticas, a recomendação é seguimento clínico sem intervenções. E intervenções, sejam elas embolizar, radiocirurgia ou neurocirurgias, deverão ser feitas, a princípio, dentro de protocolos de pesquisa. Assim funciona a Medicina Baseada em Evidências. Não é achismo, anedotismo ou “eu faço, eu garanto, eu assumo”.

É buscar uma estimativa de melhor terapia médica, com base em estudos clínicos e estatística, para tentar aproximar o quanto podemos uma ciência que não é exata, a Medicina, em dados um pouco mais precisos…

Resta aos neurocirurgiões desenharem, fazerem, executarem, e logo!!! – um estudo clínico prospectivo, testando a hipótese que vários expertises em Neurocirurgia Vascular, em MAVs, conseguiram demonstrar / replicar, em séries de registro e estudos retrospectivos: de que as MAVs assintomáticas dos tipos I e II devem ser tratadas exclusivamente com Neurocirurgia.

Que venha o estudo BARBADOS!!!

LINKS

Mohr et al. Medical management with or without interventional therapy for unruptured brain arteriovenous malformations (ARUBA): a multicentre, non-blinded, randomised trial. Lancet 2014. Estudo publicado em 2014.

Mohr JP et al. Viewpoints on the ARUBA Trial. AJNR 2014. Opinião e discussão dos autores do estudo sobre o mesmo e sobre as críticas dos neurocirurgiões.

Hanjani S. ARUBA Results Are Not Applicable to All Patients With Arteriovenous Malformation. Stroke 2014. 

Mohr JP. Results of ARUBA Are Applicable to Most Patients With Nonruptured Arteriovenous Malformations. Stroke 2014. 

Molina & Seilin. Unruptured Brain Arteriovenous Malformations: Keep Calm or Dance in a Minefield. Stroke 2014.

Dados do ARUBA trial em 2016. SLIDES AQUI. Resumo dos dados novos do estudo – AQUI.

 

Tags: estudo ARUBA, ARUBA 2016, ARUBA trial, MAV, malformação arteriovenosa, estudo clínico, neurocirurgia, tratamento, malformação arteriovenosa, tratamento cirúrgico, embolização, radiocirurgia, neurointervenção, MAV incidental, assintomático.

Plasma Fresco vs Concentrado Protrombínico em hemorragia intracraniana: Adivinha quem ganha?

Esse estudo é covardia… Assim não vale. Não pode ser… 🙂

Colocar o concentrado de complexo protrombínico (CCP) pra brigar com o coitadinho do plasma fresco congelado (PFC)… Em casos de AVC hemorrágico por distúrbio de coagulação…

Coidadinho do PFC…

Agora falando sério.

Realmente, não havia estudo controlado. Os alemães, que de bobos não tem nada, resolveram fazer.

E, óbvio, foi positivo.

Steiner T et al. Randomized Trial on Normalization of International Normalized Ratio Using Prothrombin Complex or Fresh Frozen Plasma in Vitamin-k Related Intracranial Bleeding. ISC 2016. Resumo da ópera em um slide AQUI.

 

CLEAR-3: Trombólise intraventricular pode auxiliar nos hemoventrículos

Um post exclusivamente para este trial, tão aguardado por anos e anos, é bem merecido.

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O CLEAR-III avaliou o uso de rTPA em doses baixas, administrado dentro do ventrículo, por meio de derivação venticular externa (DVE), em pacientes com AVCh com pequeno componente parenquimatoso e/ou hemoventrículo associado, ou apenas em casos de hemoventrículo puro.

E foi negativo. 🙁

Negativo para o desfecho primário, que era status funcional pela escala modificada de Rankin.

Mas vejam só, quando se avalia a mortalidade, um desfecho secundário, houve um decréscimo de 10% desta variável em relação ao grupo placebo. E quando se avaliou subgrupos específicos, os pacientes com maior quantidade de sangue intraventricular foram os que mais se beneficiaram da terapia trombolítica.

O estudo de fase 3 foi apresentado pelo Dr. Daniel Hanley, ontem em Los Angeles.

Hanley DF et al. Clot Lysis: Evaluating Accelerated Resolution of Intraventricular Hemorrhage (CLEAR III) Results. ISC 2016.

ACT I, IRIS e mais resultados do CREST na NEJM

Artiguinhos publicados no mesmo dia da apresentação em LA. Todos na NEJM…. Acesso Free. Temática importante. Com editoriais.

Rosenfield et al. Randomized Trial of Stent versus Surgery for Asymptomatic Carotid Stenosis. NEJM 2016.

Spence & Naylor. Endarterectomy, Stenting, or Neither for Asymptomatic Carotid-Artery Stenosis. NEJM 2016 – Editorial.

Brott et al. Long-Term Results of Stenting versus Endarterectomy for Carotid-Artery Stenosis. NEJM 2016.

Kernan et al. Pioglitazone after Ischemic Stroke or Transient Ischemic Attack. NEJM 2016.

Semenkovich CF. Insulin Resistance and a Long, Strange Trip. NEJM 2016. Editorial.

IRIS, FIND-AF, GAMES e ACT-I: Resultados apresentados no ICS 2016

IRIS – Testou pioglitazona em pacientes com AVCi ou AIT e resistência à insulina. Acompanhou os pacientes por 5 anos. Foi positivo, com redução de desfecho combinado de IAM e AVC de 24% no grupo ativo, p=0,007.

FIND-AF – Testou monitorização prolongada para diagnosticar FA em 0, 3, 6 e 9 meses após um AVCi

ACT-I – Avaliou endarterectomia versus angioplastia com stent em doença carotídea assintomática. Foi igual.

GAMES – Testou a gliburida endovenosa como terapia clínica preventiva de edema, em AVCi hemisférico, que não teve terapia de trombectomia. Foi interrompido no ano passado, e publicaram os resultados agora. A droga teve uma tendência de reduzir mortalidade global, e reduiu mortalidade por causa neurológica…

breakingnews

Amanhã tem mais… CLEAR 3, ARUBA, CREST e muito mais!!!!!

 

ARUBA, ACT-I, CLEAR-III, IRIS, e outros mais… Tudo esta semana!

Atenção neuros-navegantes-vasculares, pois o congresso americano de AVC – o ISC 2016, começará amanhã, e promete emoçõeszinhas, não tão fortes como as do ano passado, com os estudos de trombectomia, mas bastante coisa bem aguardada pela comunidade neurológica, entre eles:

ACT-I – Resultados da comparação de endarterectomia e angioplastia em pacientes com doença carotídea assintomática.

CLEAR-III – Resposta sobre o tratamento com trombólise intraventricular em hemoventrículo.

ARUBA – Resultados de maior follow-up dos pacientes randomizados no estudo ARUBA, com MAVs assintomáticas.

IRIS – Uso de pioglitazona em intolerância à glicose em pacientes com AVC.

ISC 2016: Aguardando as notícias de LA!

Stent-Retrievers para AVCi agudo: Ainda precisamos de metanálises??!!!

Mais uma publicada. Só tem que tomar cuidado para não ficar igual à história do FOP, com 17 metanálises… 🙂

Artigo desta metanálise, free no site da revista.

LINKS

Touma et al. Stent Retrievers for the Treatment of Acute Ischemic StrokeA Systematic Review and Meta-analysis of Randomized Clinical Trials. JAMA Neurology 2016.

Cavernomas: Como tratar?

A metanálise recentemente publicada na Lancet Neurology avaliou 1620 pacientes em séries retrospectivas previamente publicadas, e a evolução dos pacientes estudados. Analisando as 7 séries de pacientes, houve um risco de hemorragia intracraniana no follow-up de 5 anos de:::

— 3,8% em casos com cavernomas extra-tronco cerebral sem apresentação inicial de hemorragia ou déficit neurológico;

— 8% de risco nos casos de cavernomas de tronco com a mesma apresentação (sem hematomas ou déficits);

— 18,4% de risco de hemorragia em casos extra-tronco que haviam sangrado antes, ou apresentado sinal focal;

— 30,8% de risco de sangramento em 5 anos, nos casos de tronco com déficit ou sangramento prévios.

Ou seja, vai piorando — nesta ordem… Resumindo a ópera, a localização, e modo de apresentação iniciais, são fatores independentes relacionados ao prognóstico de sangramento intracerebral nos pacientes com cavernomas.

O artigo está free no site da Lancet Neurology. O editorial também…

Bem interessante. Para nos ajudar no manejo dos casos sintomáticos e assintomáticos.

LINKS

Horne et al. Clinical course of untreated cerebral cavernous malformations: a meta-analysis of individual patient data. Lancet Neurology 2016.

Algra & Rinkel. Prognosis of cerebral cavernomas: on to treatment decisions. Lancet Neurology 2016. Editorial.