Dor, sede, ansiedade, dispneia e sono: 5 coisas além da monitoração multimodal em UTI…

Por João Roberto Domingues **

Em um ambiente em que estamos cada vez mais imersos na tecnologia e monitorização multimodal, um interessante artigo publicado na Intensive Care Medicine deste mês vem resgatar os cinco principais sintomas relatados por pacientes internados em UTI:

1) Dor: mais do que avaliar um simples “sim” ou “não”, é importante checar a intensidade da dor. Não esquecer que um dos eventos mais relatados geradores de dor é a mudança de decúbito. Nesta avaliação, podemos otimizar as doses e horários dos analgésicos que também influenciam em um menor tempo de pacientes em ventilação mecânica e permanência na UTI;

2) Sede: um dos mais prevalentes e intensos sintomas observados na UTI, e ainda assim pouco valorizado. Devemos ter uma especial atenção a pacientes recebendo doses maiores de morfina (acima de 50mg por dia) e de furosemida (mais do que 60mg por dia); 

3) Ansiedade: avaliada inclusive por cartões de desenhos, pode ser manejada por alterações no ambiente, como música, acompanhamento de familiares ou profissional, e uso de sedativos;

4) Dispnéia: mais da metade dos pacientes em ventilação mecânica não totalmente sedados queixam-se de dispnéia. Este sintoma também pode ser avaliado através de escalas visuais, e deve ser acompanhado por uma fisioterapeuta experiente;

5) Insônia ou sono não reparador: frequentemente relacionado ao delirium, é um sintoma que pode ser corrigido por um melhor controle do ruído do ambiente, inclusive dos alarmes dos monitores, da luz, dos horários das coletas dos exames da rotina, Rx e administração de medicamentos, além da correta administração de sedativos ou indutores de sono.

Os autores concluem que a má avaliação e condução destes sintomas levam o paciente à um maior sofrimento, falência no desmame da ventilação mecânica e delirium.

ICU

Que tal olhar e conversar mais com os pacientes?

LINK

Chanques, Nelson & Puntillo. Five patient symptoms that you should evaluate every day. Intensive Care Med 2015.

** Dr. João Domingues é neurologista e neurointensivista dos Hospitais Santa Paula e Samaritano, ambos em São Paulo.

Large Hemispheric Infarct: Evidence-based Guideline publicado!

Por Maramelia Miranda

Saiu “online first” no último dia 21 (semana passada), na revista Neurocritical Care.

O artigo é um resumo das principais evidências existentes hoje no manejo neurointensivo do infarto hemisférico maligno da artéria cerebral média.

Assim que terminar a leitura postarei os highlights do documento.

LINK

Torbey et al. Evidence-Based Guidelines for the Management of Large Hemispheric Infarction. Neurocritical Care 2015.

Estudo STASH aposenta de vez a sinvastatina: Entenda tudo aqui!!!

Por Daniel Bezerra e Maramelia Miranda

O Estudo STASH foi desenhado para avaliar uma tese recorrente no Neurointensivismo: As estatinas funcionam para prevenir vasoespasmo em hemorragia subaracnoidea, ou para melhorar desfechos clínicos?

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O estudo multicêntrico, duplo-cego, prospectivo, envolvendo 803 pacientes em 9 países, teve financiamento público (nada de indústria), e testou placebo versus sinvastatina 40mg ao dia, nos casos de HSA randomizados até 96 horas do icto.

O desfecho medido foi a escala de Rankin modificada em 6 meses, tendo sido favorável (mRS 0-2) em 271 casos do grupo ativo versus 289 do placebo (cerca de 70% dos casos). Houve 37 (10%) mortes no grupo da sinvastatina e 35 (9%) no placebo (p=0,59).

Conclusão dos autores: O STASH trial não detectou benefício no uso de sinvastatina nos desfechos a curto ou longo prazo em pacientes com HSA. 

Conclusão nossa: Mais uma batalha pedida. Esqueçam a estatina na HSA. O que podemos fazer para os nossos casinhos de vasoespasmo e HSA!?

LINKS

Kirkpatrick et al, for STASH Trial. Simvastatin in aneurysmal subarachnoid haemorrhage (STASH): a multicentre randomised phase 3 trial. Lancet Neurology 2014.

MacDonald RL. Are statins to be STASHed in subarachnoid haemorrhage? Lancet Neurology 2014.

 

Hemicraniectomia descompressiva para AVC maligno da Cerebral Média: O que fazer em mais idosos?

Por Maramelia Miranda

Eu adoro filosofar, vocês sabem…

E quando um artigo destes é publicado, sempre estes meus pensamentos voltam.

Volta aquela eterna discussão até onde ir com a evidência científica, do custo-benefício de uma terapia, de quais as nossas filosofias e visões do que é vida, e aquilo que muito se discute: da dignidade da vida… O que é prática médica, o que é bom senso, como aliar estas duas coisinhas… 

Hoje cedo, as colegas neurologistas antenadíssimas – Gisele Sampaio (SP / UNIFESP) e Letícia Rebello (Hospital de Base / DF) me escreveram falando do artigo publicado na NEJM esta madrugada, com os resultados do Destiny II, que avaliou a hemicraniectomia descompressiva no AVCi maligno da artéria cerebral média. Os resultados deste trial foram apresentados primariamente no ano passado em congresso, e estávamos aguardando esta publicação havia uns meses…

Estudo

O Destiny II avaliou a terapia de hemicraniectomia descompressiva no AVCi maligno da artéria cerebral média, em maiores de 60 anos. A hipótese é que tal terapia traria os benefícios demonstrados nos trials anteriores sobre este tema (HAMLET, DESTINY e DECIMAL) e na análise combinada dos 3 trials., testados nos mais jovens (< 60 anos).

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O grupo alemão, que inclui nomes conhecidos como Eric Jüttler, Andreas Unterberg, Julian Bösel, Johannes Woitzik e Werner Hacke, avaliou pacientes com mais de 61 anos (idades entre 61-82 anos) para os braços de terapia conservadora versus hemicraniectomia descompressiva. O desfecho primário avaliado foi sobrevivência sem incapacidade severa (Rankin 0 a 4). A terapia testada (cirúrgica) foi benéfica para este outcome:  o grupo submetido à hemicraniectomia teve 38% dos casos sem incapacidade severa, vs 18% nos controles (OR 2.91; 95% CI, 1.06 – 7.49; P=0.04). A mortalidade foi menor no grupo cirúrgico (33% vs. 70%).

Ninguém (nenhum dos grupos de tratamento) teve um Rankin de 0 a 2. Apenas 7% dos pacientes do grupo cirúrgico e 3% do grupo controle ficaram com Rankin de 3. Dos pacientes operados, 60% tiveram Rankin 4 ou 5, e 28% do grupo controle tiveram este desfecho funcional.

Conclusões

Cada um que tire as suas. Eu tenho a minha (quem me conhece sabe qual é!  🙂 ).

Prefiro terminar este post com uma frase muito interessante dos autores do artigo, extraída do texto da discussão do paper: 

Destiny II main sentence

sentence destinyQueria descobrir quem foi autor desta frase. Resumiu tudo.

LINKS

Juttler et al. Hemicraniectomy in Older Patients with Extensive Middle-Cerebral-Artery Stroke. NEJM 2014.

Ropper A. Hemicraniectomy — To Halve or Halve Not. NEJM 2014 (Editorial).

 

Infarto hemisférico cerebelar: O que fazer?

O paciente é um homem de 31 anos, com história de IAM e 2 stents coronarianos prévios que vinha usando aas e clopidogrel irregularmente. Teve um icto com alteração de marcha, náuseas e vômitos, chegou ao hospital sem uma história clara do início dos sintomas (acordou com as alterações) e, por causa disso, não foi trombolisado. Evoluiu com rebaixamento, coma, sendo entubado. Uma nova TC de crânio foi feita.

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Você é chamado para avaliar o caso na UTI. O doente está entubado, sedado, PA normal, pupilas mióticas, sem drogas vasoativas. Já se passaram umas 36 horas da chegada ao hospital.

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Vamos ver o que vai dar…

Gangorra da ciência: Hipotermia pós-PCR está em PCR…

Ãh…?! O que?!

É isso mesmo… Hipotermia pós-PCR questionada.

Um estudo multicêntrico publicado esta semana na NEJM, com mais de 900 casos de pacientes pós-PCR, testando alvos diferentes de temperatura usadas para controle de febre – 33°C versus 36°C (ou seja, hipotermia versus “quase” normotermia), mostrou desfechos semelhantes (mortalidade e bom prognóstico neurológico) nos dois grupos de pacientes avaliados.

Detalhe: os estudos randomizados originais (n=352) – aqueles que tornaram a hipotermia uma terapia de primeira linha para pacientes pós-PCR avaliaram, no total, menos da metade dos pacientes do que os casos avaliados neste novo estudo (n=939).

Leiam e façam suas conclusões.

LINKS

Nielsen et al. Targeted Temperature Management at 33°C versus 36°C after Cardiac Arrest. NEJM 2013.

Rittenberger & Callaway. Temperature Management and Modern Post–Cardiac Arrest Care. Editorial. NEJM 2013.

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E agora? Para onde iremos?

Convulsões na HSA: Profilaxia polêmica

Por Maramelia Miranda

A pergunta é: quando prescrever, ou devemos prescrever? Anticonvulsivantes profiláticos?… Na fase aguda de um paciente com Hemorragia Subaracnoidea – HSA por ruptura de aneurisma cerebral?

Vejamos o que dizem recentes recomendações sobre este assunto (todos os links abaixo — com artigos livres/free na Internet):

Índice

Neurocritical Care Society (diretriz publicada em 2011):

“O uso rotineiro de profilaxia anticonvulsivante com fenitoína não é recomendado após uma HSA (low quality evidence; strong recommendation).

O uso rotineiro de outros agentes profiláticos anticonvulsivantes pode ser considerado (very low quality evidence; weak recommendation).

Se a terapia anticonvulsivante profilática é usada, um período curto (3-7 dias) desta terapia é recomendado (low quality evidence; weak recommendation).

Em pacientes que apresentam convulsões após HSA, os anticonvulsivantes devem ser continuados por período conforme a prática clínica local (low quality evidence; weak recommendation).

EEG contínuo pode ser considerado em casos de HSA de alto grau, quando estes não melhoram, e em casos que apresentam deterioração neurológica de etiologia incerta (low quality evidence; strong recommendation).”

Índiceasa

American Stroke Association (diretriz publicada em 2012):

“O uso profilático de anticonvulsivantes pode ser considerado no período imediato pós-hemorragia (Class IIb; level of evidence B).

O uso rotineiro a longo-prazo de anticonvulsivantes não é recomendado (Class III; level of evidence B), mas pode ser considerado para pacientes com fatores de risco conhecidos para convulsões mais tardias, como convulsões no início do evento, hematomas intracranianos, hipertensão intratável, infartos cerebrais ou aneurismas da artéria cerebral média (Class IIb; level of evidence B).”

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Finalmente, para o desempate (em homenagem ao dia de hoje, voto de Celso de Mello no STF…), a sociedade europeia – European Stroke Organization / ESO – publicou este ano seu documento, e diz o seguinte sobre crises convulsivas na HSA:

“O tratamento anticonvulsivante deve ser administrado em pacientes com convulsões clinicamente aparentes (GCP – good clinical practice).

Não há evidências que suportem o uso profilático de drogas antiepilépticas (Class IV, Level C).”

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 Convulsões na HSA: Polêmica entre americanos x americanos x europeus.

 

 

STICH II trial: Novas evidências no tratamento dos hematomas intracranianos

Por Maramelia Miranda

Mais um importante estudo na área de Hematoma Intraparenquimatoso espontâneo (HIP) foi publicado recentemente na revista Lancet (atenção, gente, Lancet não é pra qualquer um… Sintam só a importância do trial…).

David Mendelow e colaboradores, grupo que estuda o tratamento cirúrgico do HIP há alguns aninhos (lembrem-se do STICH), apresentaram os dados do trial em Londres na semana passada, desta vez analisando especificamente as hemorragias lobares sem inundação intraventricular, com volumes de hematomas de 10 a 100ml.

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O STICH II trial, estudo multicêntrico, prospectivo e randomizado 1:1, realizado em 27 países, em um total de 78 centros de pesquisa, comparou os tratamentos clínico (conservador) versus cirurgia precoce em pacientes com HIP supratentoriais lobares.

O Estudo

O tratamento cirúrgico avaliado foi a intervenção (em geral, craniotomia) nas primeiras 12 horas da randomização (vejam o protocolo AQUI), e o desfecho primário avaliado foi clínico, com uso da escala de desfecho de Glasgow (Glasgow Outcome Scale-Extended – GOSE), sendo os pacientes categorizados como com desfechos favorável ou desfavorável, medidos após 6 meses.  Foram randomizados um total de 601 pacientes (307 no grupo cirúrgico e 294 no tratamento conservador; destes, foram incluídos na análise 297 e 286 de cada grupo de tratamento, respectivamente.

Não houve diferença significativa entre os dois grupos de tratamento no desfecho clínico primário avaliado pelo trial – desfechos desfavoráveis ocorreram em 59% dos pacientes operados, versus 62%tratados clínicamente (p=0.367). Entretanto, embora discreta, houve uma pequena vantagem da cirurgia em relação à sobrevivência (?).

Mensagem que fica…

Estudando, lendo, analisando ainda… Em breve… 

LINKS

Mendelow et al. Early surgery versus initial conservative treatment in patients with spontaneous supratentorial lobar intracerebral haematomas (STICH II): a randomised trial. Lancet 2013. 

Gautschi & Schaller. Surgery or conservative treatment for cerebral hemorrhage? Lancet 2013.

 Homepage do STICH II trial.

INTERACT2 mostra leve benefício do tratamento agressivo da pressão arterial na fase aguda do Hematoma Intracraniano Espontâneo

Por Maramelia Miranda

tags: hematoma intracraniano, AVCH, AVC hemorrágico, tratamento, pressão arterial na fase aguda.

Hoje foram apresentados em Londres, com concomitante publicação online do artigo na íntegra (AQUI – site da NEJM), os resultados do estudo INTERACT 2, que avaliou a redução intensiva da pressão arterial na fase aguda do AVCH – Hemorragia intracerebral (HIC) espontânea.

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Estudo

Foram estudados um total de 2839 pacientes com HIC que chegavam ao hospital até 6 horas após o início dos sintomas. O alvo de tratamento do grupo ativo do estudo era reduzir agressivamente a PA sistólica (PAS) para < 140 mm Hg na primeira hora após o início dos antihipertensivos EV. O grupo controle recebia tratamento conforme as diretrizes atuais (alvo de PAS <180 mm Hg). O desfecho primário avaliado foi morte ou incapacidade severa, medido pelo escore de Rankin modificado (mRS) em 90 dias. O estudo teve financiamento público (agência de saúde australiana – National Health and Medical Research Council of Australia), e os antihipertensivos utilizados eram escolhidos conforme o julgamento clínico e disponibilidade do serviço.

Resultados

Dos 2794 pacientes que completaram a avaliação de desfecho planejada, 719 (52.0%) dos tratados agressivamente tiveram incapacidade severa, ou seja, mRS de 3-6, versus 785 pacientes so grupo controle (55.6%) (OR para o tratamento intensivo: 0.87; 95% CI, 0.75-1.01; p=0.06). Uma análise complementar mostrou melhores desfechos (menores mRS) no grupo de tratamento intensivo da PA (OR para maior incapacidade: 0.87; 95% CI, 0.77-1.00; p=0.04). A mortalidade e ocorrência de eventos adversos sérios foi semelhante nos dois grupos de tratamento.

Impressões

Os autores concluem o seguinte no texto publicado:

“In patients with intracerebral hemorrhage, intensive lowering of blood pressure did not result in a significant reduction in the rate of the primary outcome of death or severe disability. An ordinal analysis of modified Rankin scores indicated improved functional outcomes with intensive lowering of blood pressure.”

Confesso que esperava que tivesse sido negativo… Não estou de todo errada. Mostrou um desfecho primário não significante, mas com forte tendência de ser melhor (p=0,06).

Com certeza vão ainda discutir bastante estes números e a análise “complementar” – chamada pelo estudo como “ordinal”… Isso vai dar muito “pano pra a manga”… O site do estudo disponibilizou links com a apresentação oficial realizada hoje (vejam abaixo)… Bom material para nós atualizarmos nossos slides :). E a Jennifer Frontera assina um editorial analisando o trabalho – acesse AQUI.

E vocês? O que acharam?

LINKS

Anderson et al. Rapid Blood-Pressure Lowering in Patients with Acute Intracerebral Hemorrhage. NEJM 2013.

INTERACT2 results revealed!. Site oficial do estudo.

Frontera J. Blood Pressure in Intracerebral Hemorrhage — How Low Should We Go? NEJM – related editorial.

Outros estudos apresentados na sessão Ongoing Clinical Trials – ESC London 2013

Monitorar PIC em TCE grave: novo estudo mostra benefício

Por Maramélia Miranda

tags:: pressão intracraniana, estudos clínicos, monitorização, terapia intensiva neurológica, tratamento, traumatismo craniano


Embora amplamente utilizada na prática de terapia intensiva neurológica, não há uma evidência robusta do benefício da monitorização da pressão intracraniana (PIC) como coadjuvante para o tratamento de hipertensão intracraniana (HIC) em pacientes vítimas de trauma cranio-encefálico (TCE) grave. Recentemente, Farahvar e colaboradores estudaram uma coorte prospectiva e multicêntrica de pacientes com TCE grave (banco de dados da “Brain Trauma Foundation New York State”), avaliando a frequência de monitorização da PIC e sua relação com a mortalidade nestes pacientes. O estudo incluiu pacientes com TCE e escala de coma de Glasgow (ECG) < 9, cuja apresentação no hospital tivesse sido com < 24h do trauma. O desfecho clínico avaliado foi mortalidade em 2 semanas. Dos 2134 pacientes com estas características em um período de 9 anos (2000 a 2009) de coleta do banco de dados prospectivo, 1446 receberam terapia anti-HIC nas primeiras 48h de hospitalização (ex.: manitol, derivação ventricular externa, solução salina hipertônica, barbitúricos ou cirurgia descompressiva). Deste grupo selecionado, 1202 (82.9%) tiveram monitor de PIC e 244 pacientes foram tratados ” às cegas” (sem monitorização da PIC).

Resultados. No grupo com PIC monitorada, a mortalidade em 2 semanas foi de 19.6%, contra 33.2% do grupo sem monitorização (p < 0.0001). Estes achados foram corroborados pela regressão logística, que encontrou um impacto da monitorização da PIC com a menor mortalidade em 2 semanas (OR 0.63; 0.41-0.94, p = 0.02). Os grupos avaliados diferiram nas variáveis de idade – mais jovens nos monitorados (38.3 +/- 17.5 anos vs 45.9 +/- 21.8 anos; p =0.0001); e de frequência de anormalidades pupilares – menos presente nos monitorados (23.0 % vs 32.6 %, p = 0.003). Outras variáveis, como menor pontuação na ECG, TC anormal e presença de hipotensão no D1 da hospitalização, também foram indicadores independentes de pior prognóstico.

Problemas. É um estudo bastante significante, afinal, trata-se um número expressivo de pacientes… Mas os autores não obtiveram informações sobre: porcentagem de pacientes que tiveram retirada de cuidados médicos (nos dois grupos, sobretudo no grupo com monitor de PIC); racional para a escolha entre monitorar ou não os pacientes; método (ou variabilidade de método / técnica) da monitorização da PIC, considerando ser um estudo multicêntrico; ou a efetividade atingida de controle da PIC nos pacientes avaliados. Por último, mas não menos importante, o critério em considerar a mortalidade em 2 semanas (tão curto período) como desfecho primário foi escolhido pela informação presente em mais de 85% do banco de dados avaliado, diferentemente da escala de outcomes de Glasgow, usada comumente nos estudos clínicos em Neurotrauma.

Bom, é um assunto “quente”. Certamente irá gerar discussões, sobretudo em se tratando da sua publicação em uma revista de excelente qualidade e fator de impacto (Journal of Neurosurgery).

Deixo aqui a lembrança aos colegas neurointensivistas e neurocirurgiões, mostrando-os o quanto temos de espaço para trabalhar projetos e novas ideias neste campo, nas nossas UTIs e NeuroUTIs. Principalmente em nosso país, onde há locais sem disponibilidade de uso de monitorização de PIC… A faca e o queijo, nas nossas mãos.

LINK – acesso livre à íntegra do artigo:

Farahvar A, Gerber LH, Chiu Y, Carney N, Hartl R, and Ghajar J. Increased mortality in patients with severe traumatic brain injury treated without intracranial pressure monitoring. J Neurosurg 2012;117:729-34.