UIAT score: Mais um para o tratamento de aneurismas intracranianos não-rotos

tags: UIAT score, escore UIAT, ruptura de aneurisma incidental, aneurisma cerebral, aneurismas não-rotos, escore preditor.

Não é novo, foi publicado no ano passado. Além do PHASES, que tem suas falhas, e até mencionamos aqui, este outro, o Unruptured Intracranial Aneurysm Treatment Score, ou UIATS, pode ser mais uma ferramenta para responder as dúvidas dos pacientes quanto a tratar ou não tratar aneurismas incidentais.

Clique abaixo na imagem, para ampliá-la.

uiat-score

LINKS

Etminan et al. The unruptured intracranial aneurysm treatment score A multidisciplinary consensus. Neurology 2015.

Leticia Duarte. Escore PHASES para predição de ruptura de aneurismas incidentais. iNeuro.com.br.

Greving JP, Wermer MJH, Brown Jr RD, Morita A, Juvela S, Yonekura T, Torner JC, et al. Development of the PHASES score for prediction of risk of rupture of intracranial aneurysms: a pooled analysis of six prospective cohort studies. Lancet Neurology 2014.

RESCUE-icp publicado na NEJM

Hipertensão intracraniana refratária em casos de trauma craniano grave. Esta dica de trial publicado veio do nosso colega Dr. George Passos, residente da neurocirurgia da Santa Casa de Ribeirão Preto, neurocirurgião diferenciado, sempre ligadíssimo nos papers e estudos clínicos mais quentes.

Primeira observação minha: A NEJM quer acabar com a Neurotraumatologia mundial. Só pode ser…

DECRA negativo. BEST-TRIP negativo.

Agora, RESCUE-icp negativo. Tá certo. A gente já sabia, os dados já tinham sido apresentados em congressos. Mas tinha que ser de novo na NEJM???!!!! Jesus…

A neurocirurgia tem que benzer essa revista. Por Deus!!!!!

O estudo RESCUE-icp avaliou um grande número de pacientes com TCE grave, que desenvolveram hipertensão intracraniana e não responderam à terapia clínica inicial universalmente preconizada – cabeceira elevada, normoventilação, sedação e analgesia (com ou sem paralisia muscular) e monitorização da PIC com manejo da PPC e PIC com ventriculostomia e osmóticos, incluindo também terapia com hipotermia.O artigo detalha estes tratamentos e os estadios no passo a passo do manejo de hipertensão intracraniana.

A leitura do paper é muito legal. Já vale super a pena pela aula de como tratar hipertensão intracraniana. Tem uma figura muito legal do algoritmo usado no trial. E a terapia médica no grupo controle envolvia o uso de barbiturados apenas em ÚLTIMA ANÁLISE…

Atenção. Letrinhas garrafais de “recadinho” para os amigos neurocirurgiões que ADORAM entrar com tionembutal no minuto zero de tratamento de HIC…

Resultados.

O trial estudou pacientes de 10 a 65 anos com TCE grave, TC crânio anormal e monitor de PIC locada, que evoluiam com PIC > 25mmHhg refratária entre 1 a no máximo 12 horas. Foram randomizados 408 pacientes em 52 centros, sendo 71% dos casos na Grã-Bretanha.
Nos desfechos primário e secundários medidos, cuja variável principal foi a escala funcional Glasgow Outcome Scale (GOS) extendida, a terapia ativa – que consistia em craniectomia descompressiva, podendo ser unilateral (hemicraniectomia) ou bifrontal, resultou em expressiva redução da mortalidade, mas com desvio dos pacientes que não morreram para estágios da e-GOS entre incapacidades mais severas (estado vegetativo ou incapacidades piores – veja tabela abaixo). No final da história, bons desfechos foram similares nos dois grupos de tratamento.


Conclusão

Depois do fiasco do estudo DECRA — que, detalhe, usou apenas craniectomias bifrontais, esse trial seria uma esperancinha no fim do túnel para a craniectomia descompressiva, e acabou morrendo na praia também… Outro detalhe importante é que o cirurgião poderia escolher entre hemicraniectomia ou craniectomia bifrontal, e esta última modalidade foi usada em 63% dos casos.

Falem pra mim!!!!! O estudo DECRA já tinha mostrado que isso não dava certo, e a galera resolve insistir na coisa????

E outra crítica que pode ter melado o estudo foi a possibilidade de poder se fazer craniectomia em fases finais no grupo de tratamento clínico, e isso ocorreu em 37% deste grupo!!!!

Conclusão básica do Abstract do RESCUE-icp:

“At 6 months, decompressive craniectomy in patients with traumatic brain injury and refractory intracranial hypertension resulted in lower mortality and higher rates of vegetative state, lower severe disability, and upper severe disability than medical care. The rates of moderate disability and good recovery were similar in the two groups. “

Ou, traduzindo: Deixa de morrer, e estes que não morrem ficam em estado vegetativo ou altamente dependentes. É mole?!?!?! Não sei se sento e choro, ou se comemoro.
Comemoro porque este campo continua aberto a novos estudos. Realmente, ainda em 2016, acreditem, ninguém sabe bem o que fazer com estes doentes…

LINKS

Hutchinson et al. Trial of Decompressive Craniectomy for Traumatic Intracranial Hypertension. NEJM 2016.

Shutter & Timmons. Intracranial Pressure Rescued by Decompressive Surgery after Traumatic Brain Injury. NEJM 2016.” . Editorial.

Tomografia portátil na ambulância: Estudo negativo!

As ambulâncias com TC portátil, pensadas para o atendimento de vítimas de AVC, ao instituir rapidamente a terapia trombolítica, começaram a ser testadas na Alemanha em 2011. Depois, o grupo de Cleveland começou a estudar também esta solução, com a intenção de reduzir o tempo de início dos sintomas para a administração de rTPA em pacientes elegíveis para este tratamento. Apresentações de ambos os grupos, dos seus dados iniciais, feitas nos congressos, mostraram uma expressiva diminuição dos tempos porta agulha. A lógica é que isso poderia traduzir-se em melhor desfecho clínico aos pacientes…

Captura de Tela 2013-06-02 às 16.44.14

O grupo alemão, agora, publica os resultados a longo prazo do uso dos chamados veículos STEMO (Specialised CT-equipped mobile stroke treatment units).

O artigo, publicado na Lancet Neurology, mostrou que os desfechos clínicos em 3 meses após o AVC foi similar no grupo tratado com uso dos veículos STEMO, comparando-se a terapia convencional feita no hospital – detalhe – com os pacientes levados em sistema pré-hospitalar normal na cidade de Berlim, para a Universidade de Berlim (Charité Campus Benjamin Franklin). O desfecho primário medido foi Rankin modificado de 0 ou 1.

Resultados.

n=305 pacientes que usaram o STEMO; n= 353 no grupo de terapia normal. Não houve diferenças no desfecho primário medido: 53% dos casos que usaram STEMO vs 47% no grupo hospitalar tiveram mRS de 0 ou 1 (p=0,14).

Conclusão

Não houve diferenças… Que tristeza. Terá sido porque em Berlim eles trombolisam muito muito rápido os casos hospitalares? Por que será este achado???

Veja o que os autores escrevem no Abstract:

“We found no signifi cant diff erence between the proportion of patients with a mRS score of 1 or lower receiving STEMO care compared with conventional care. However, our results suggest that pre-hospital start of intravenous thrombolysis might lead to improved functional outcome in patients. This evidence requires substantiation in future large-scale trials. “

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Kunz et al. Functional outcomes of pre-hospital thrombolysis in a mobile stroke treatment unit compared with conventional care: an observational registry study. Lancet Neurology 2016.

Músicas da Semana

Viva o Brasil.Cheio de defeitos e coisas lindas. Mistura de gente, de coisas, de raças, de sons, de jeitos. Coisas lindas, como estas belezuras que são as músicas da Bossa Nova. Em homenagem ao meu país…

Medley de canções de Tom, cantadas por ele e Sinatra. Apenas.

Samba do Avião jazzistico + samba com solo de guitarra de Abe Laboriel. Demais!

 

Consenso de tratamento de Miastenia Gravis

Publicado na Neurology no final do mês passado.

Resumindo, o que diz:::

  • 1 – No tratamento inicial da maioria dos pacientes com MG, não invente. Primeira linha é o velho e bom Mestinon. A dose deve ser ajustada conforme o alívio dos sintomas.
  • 2 – Terapia adicional com corticóides e imunossupressores pode ser necessária quando a droga não consegue segurar os sintomas. Quando não podemos dar CE, ou quando mesmo com estes o paciente piora –> imunossupressores.
  • 3 – Imunossupressores mais usados = azatioprina, tacrolimus, micofenolato, ciclosporina e metrotrexate. Não há quase nada de estudos controlados sobre qual é a melhor terapia, mas aparentemente a primeira linha de tratamento deve ser azatioprina e em segundo lugar ciclosporina. Esta última droga apresenta maiores efeitos adversos e interações com outras drogas.
  • 4 – Casos de MG refratários = Devem ser encaminhados para subespecialistas neuromusculares, e terapias como imuneglobulina EV (IgEV) hiperimune, plasmaférese, ciclofosfamida e rituximabe podem ser usadas. Mais recentemente, alguns estudos tem mostrado benefício do rituximabe, mas ainda não há total consenso sobre esta droga.
  • 5 – Quanto tempo deixar o imunossupressor? X. Não há nada muito definido, mas o bom senso fala que uma vez que o paciente tenha uma melhora, primeiro devemos desmamar o CE, até uma dose mínima suficiente e necessária para deixá-lo bem, estável. Em relação aos imunossupressores, em geral manter por 6m a 2 anos; desmame igual ao CE, com manutenção de dose mínima para deixar o doente estável.
  • 6 – Cuidado nos desmames. Tem que ser beeeeeemmmmmm devagar naqueles casos mais sintomáticos, pois há risco de piora clínica se for um caso muito ativo ou se você desmamar mais rápido.
  • 7 – Efeitos adversos. Não esqueça de monitorar efeitos das drogas esteroidais e da imunossupressão não esteroidal.

LINKS

Sanders et al. International consensus guidance for management of myasthenia gravis. Neurology 2016.

Fechar ou não fechar FOPs em AVCi criptogênico: A saga nunca acaba…

O statement da Academia Americana de Neurologia, publicado há 6 dias, foi atualizado de sua anterior versão de 2004… Fala basicamente dos 3 grandes trials e que só devemos fechar FOPs nos pacientes com AVCi criptogênico se o paciente recorrer em vigência de terapia médica otimizada e regular… E quando indicar, a prótese usada deve ser AMPLATZER.

… E que não adianta anticoagular. A terapia de primeira linha é a velha e boa aspirina mesmo.

A revisão sistemática feita pelos chineses na revista Stroke também mostrou efeito similar da terapia médica versus endovascular… Veja o que os chineses concluem:

“The combined data from recent randomized controlled trials have shown no statistically significant differences between TDC and medical therapy in the prevention of recurrent ischemic stroke. The Amplatzer device closure showed a trend of protective effect in recurrent stroke compared with medical therapy, but this was associated with a significantly increased risk of atrial fibrillation. TDC closure was associated an increased risk of atrial fibrillation but not serious adverse events.”

Mâs…!!!!!!!!! (como dizem nossos amigos gaúchos… 😉

Nenhum dos artigos incluiu os dados de maior follow up do RESPECT… Gente… Tá demorando para publicar isso, eih?!?!?!

Não que eu seja muito fã de fechar tudo de FOP que vejo por aí, mas tem alguns casos em que você fica meio… Sem saída…!!!!!

LINKS

Messe et al. Practice advisory: Recurrent stroke with patent foramen ovale (update of practice parameter). Neurology 2016.

Li et al. Closure Versus Medical Therapy for Preventing Recurrent Stroke in Patients With Patent Foramen Ovale and a History of Cryptogenic Stroke or Transient Ischemic Attack. Stroke 2016. 

Miranda M. Fechamento de Forame Oval Patente: A volta triunfal do RESPECT Trial.

Epilepsia do Lobo Frontal Noturna? Não. Agora é SHE

Conhecida classicamente como epilepsia do lobo frontal noturna, ou epilepsia do lobo frontal noturna autossômica dominante, este é um tipo de epilepsia rara que costuma ocorrer na infância, e apresenta-se com crises motoras distônicas ou movimentos bruscos dos membros, geralmente de duração curta, < 2 minutos, mas ocorrendo com bastante frequência, em determinados pacientes diariamente durante o sono, frequentemente na fase não-REM.

As manifestações clínicas das crises são bem bizarras, com os movimentos dos membros, vocalização, olhar aberto e parado, algumas vezes com contorção intensa do tronco, e o diagnóstico muitas vezes é difícil, podendo simular transtornos de sono, notadamente parassonias como o sonambulismo, ou até mesmo transtorno do movimento, como uma distonia noturna; as alterações eletroencefalográficas podem ocorrer em localização frontais ou extra-frontais, e muitos pacientes apresentam EEG interictal normal, o que dificulta bastante o diagnóstico.

Esta síndrome epiléptica agora foi rebatizada para a singela sigla SHE – Sleep-related Hypermotor Epilepsy. O consenso de especialistas foi publicado em abril deste ano, na revista Neurology, e por se tratar de artigo de revisão emitindo consenso na especialidade, está aberto na íntegra mesmo para não assinantes.

LINK

Tinuper et al. Definition and diagnostic criteria of sleep-related hypermotor epilepsy. Neurology 2016.