Stroke Imaging Research group: STIR procura centros de Neuroimagem avançada em AVC agudo!

Por Maramelia Miranda

Recentemente, um grupo de especialistas em AVC com interesse específico na Neuroimagem formou um grupo, denominado Stroke Imaging Research (STIR) group, ou simplesmente STIR.

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Na última edição da Stroke, o STIR group fez um chamamento para uma pesquisa que está já em andamento, avaliando como andam os serviços de Neuroimagem em todo o mundo, que recebem e tratam pacientes com AVC na fase aguda. O artigo, denominado “International Survey of Acute Stroke Imaging Capabilities: We Need You!”, literalmente chama os centros interessados a participar da pesquisa atual, e quem sabe, a depender da qualidade e capacidade destes centros respondedores, em possíveis futuros estudos clínicos envolvendo Neuroimagem avançada no AVC agudo.

Por enquanto, apenas um centro sul-americano participou da pesquisa, mas certamente muitos dos principais centros médicos acadêmicos e privados brasileiros já trabalham há alguns anos com plena capacidade de realizar os exames corriqueiramente feitos nos EUA e Europa para estes pacientes, como a ressonância magnética (RM) na fase aguda, perfusão por RM ou por tomografia, bem como serviços integrados com a neurorradiologia intervencionista e equipes multidisciplinares com expertise em AVC agudo.

Oportunidade única: Neuros-Brazucas, vamos mostrar realmente o que já temos, o que já fazemos, e o nosso extremo potencial! Participem!

Acesso à pesquisa AQUI –> //www.surveymonkey.com/s/DQRDYB2.

Deadline para responder o questionário: September 31, 2013.

Aos chefes e/ou respondedores da pesquisa acima: Idealmente, para responder o questionário completo sem falhas, tenham em mãos os nomes dos Neurorradiologistas responsáveis do seu serviço, bem como todos os métodos de neuroimagem disponíveis localmente e telefones / emails para contato de todos…

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Temos que mostrar quem somos!

Uso de antitrombóticos e procedimentos cirúrgicos: Quando e como parar ou voltar?

tags: AAS, extração dentária, varfarina, marevan, coumadin, parada de antiagregantes, anticoagulantes.

Por Maramelia Miranda

É um deja vú reincidente: “Doutor, preciso fazer um tratamento dentário. Como faço com o AAS (ou clopidogrel? ou warfarina?)???”

Recente publicação da American Academy of Neurology traz recomendações sobre a conduta no manejo de antitrombóticos em pacientes com doença cerebrovascular que precisam realizar procedimentos cirúrgicos. Apesar de não haver muitos estudos clínicos de boa qualidade científica, em geral, as recomendações principais baseadas nas evidências encontradas são:

  • A aspirina deve ser mantida em procedimentos dentários (Nível A), e sua manutenção pode ser segura em alguns outros tipos de procedimentos cirúrgicos menores, como anestesia ocular invasiva, cirurgia de catarata, cirurgias dermatológicas, biópsia de próstata transretal guiada por US, procedimentos epidurais e cirurgia de túnel do carpo (Níveis B e C). 

  • Quanto à warfarina, os pacientes devem continuar o seu uso em procedimentos dentários (Nível A), e em pequenos procedimentos dermatológicos (Nível B). Há maior dúvida em casos de ENMG, procedimentos prostáticos, hérnia inguinal e cirurgias vasculares periféricas pequenas (a diretriz refere-se como “…should possibly continue warfarin” – Nível C). Em casos de polipectomias por colonoscopia, provavelmente a manutenção da warfatina aumenta o risco de sangramento (Nível C).
  • Há pouca evidência a favor ou contra o uso de terapia de ponte (bridging) com heparina, quando queremos retirar ou voltar com a warfarina (Nível U). 

  • A terapia de ponte com heparina parece aumentar o risco de sangramento, quando comparada com a simples manutenção da warfarina (Nível B).

  • Deve ser informado ao paciente e familiares sobre o risco aumentado de risco de AVC isquêmico em casos de parada do antitrombótico, particularmente por período ≥7 dias (Nível B).

Guideline na íntegra: Armstrong MJ, Gronseth G, Anderson DC, et al. Summary of evidence-based guideline: Periprocedural management of antithrombotic medications in patients with ischemic cerebrovascular disease: Report of the Guideline Development Subcommittee of the American Academy of Neurology. Neurology 2013;80:2065-2069.

 

Nova CHANCE para a dupla antiagregação?

tags: CHANCE study, antiagregação dupla, aspirina e clopidogrel, AVC isquêmico, tratamento, clopidogrel, AVCi, risco de sangramento

Por Maramelia Miranda

Foi publicado no dia 26 de junho, na NEJM, o estudo CHANCE – Clopidogrel in High-risk patients with Acute Nondisabling Cerebrovascular Events (CHANCE) study, que avaliou 5170 pacientes chineses com AVC isquêmico minor (pacientes com NIHSS < 3) ou AIT, testando o uso de ataque de clopidogrel (300mg) + dupla antiagregação (aspirina e clopidogrel) na fase aguda (iniciados até 24 horas do ictus até 21 dias), seguidos de clopidogrel versus aspirina por 3 meses.

Os resultados positivos do CHANCE foram bastante comentados na apresentação do estudo em fevereiro deste ano, no Congresso Americano de AVC. Afinal, anteriormente, outros trials falharam em demonstrar este benefício. Wong e colaboradores mostraram que houve uma redução de 3.5% na ocorrência de AVC em 90 dias (NNT – number needed to treat – para prevenção de 1 AVC em 90 dias: 29), no grupo tratado com dupla terapia antiagregante seguida de clopidogrel, versus o tratamento convencional com aspirina. E, melhor, houve taxas similares de sangramentos moderados ou severos.

Endpoint Clopidogrel + Aspirina (%) Aspirina  (%) Hazard Ratio (95% IC) P
AVC (endpoint primário) 8.2 11.7 0.68 (0.57 – 0.81) <.001
AVC / IAM / Morte cardiovascular 8.4 11.9 0.69 (0.58 – 0.82) <.001
AVC hemorrágico 0.3 0.3 1.01 (0.38 – 2.70 ) .98
Sangramento grave 0.2 0.2 0.94 (0.24 – 3.79) .94
Sangramento moderado 0.1 0.2 0.73 (0.16 – 3.26) .68
Sangramento leve 1.2 0.7 1.57 (0.88 – 2.79) .12

O editorial que acompanha o paper salienta que o estudo foi feito com uma população chinesa, o que teoricamente restringe a extrapolação destes resultados para outras populações, mas lembrando que outros estudos são necessários para confirmar estes resultados em pacientes ocidentais.

Divirtam-se com a leitura! Lembrando que o acesso aos artigos da NEJM está LIVRE!

LINKS

Wang et al. Clopidogrel with Aspirin in Acute Minor Stroke or Transient Ischemic Attack. NEJM 2013.

Hankey GJ. Dual Antiplatelet Therapy in Acute Transient Ischemic Attack and Minor Stroke. Editorial. NEJM 2013

ARUBA Trial: O que fazer com MAVs incidentais???

Por Maramélia Miranda

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O estudo ARUBA – A Randomized Trial of Unruptured Brain Arteriovenous Malformations, liderado pelos Drs. J.P.Mohr (Columbia University, NYC) e Christian Stapf (Hôspital Lariboisière, Paris), randomizou prospectivamente pacientes com malformações arteriovenosas (MAVs) assintomáticas (não-rotas) para dois grupos de tratamento:

a) Tratamento clássico atualmente conhecido (tratamento cirúrgico e/ou endovascular e/ou radioterápico da MAV);

b) Tratamento expectante (não fazer nada, e apenas acompanhar).

Previamente planejado para incluir 400 pacientes, o ARUBA foi interrompido precocemente pelo NINDS (agência financiadora do estudo) em 15 de abril deste ano, quando já tinha 223 casos randomizados, devido às altas taxas de eventos no braço de intervenção multidisciplinar (deja vú? SAMMPRIS?), e consequente superioridade do tratamento conservador em relação aos desfechos clínicos primários medidos (morte ou AVC sintomático). 

Os resultados apresentados em Londres no mês passado mostraram que houve morte ou AVC sintomático em 29% dos pacientes no grupo tratado vs 10% no grupo manejado com conduta expectante, num período de 33 meses de seguimento (HR 0.29; IC 95%: 0.15-0.58).

O comitê interino de análise de segurança do trial, entretanto, reitera que o follow-up dos pacientes do estudo continuará, para que se observe se esta disparidade de diferenças dos desfechos clínicos entre os dois grupos de tratamento será mantida ao longo dos anos, uma vez que os pacientes do grupo conservador não receberam nenhuma terapia e possuem, em tese, risco futuro de ter algum evento decorrente da lesão vascular não tratada.

Palavras do Dr. Stapf (Paris): ”We do not know how the medical therapy arm will fare in the coming decades and subjects were young (mean age 40s). The most important result of ARUBA will be how these groups look in 10 years and potentially in 20 years.”

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E aí, colega? O que você faria com um caso como esse, uma MAV que nunca sangrou?

 

LINKS

ARUBA Trial Homepage

Mohr et al. The ARUBA Trial: Current status, future hopes. Stroke 2010.

Pollock et al. The Risk of Stroke or Clinical Impairment After Stereotactic Radiosurgery for ARUBA-Eligible Patients. Stroke 2013.

Fonte da imagem da MAV: radiopaedia.org.

Mantenha a pressão arterial < 130mmHg em AVCi lacunar: Entenda o SPS3!

Por Maramelia Miranda

Na revista Lancet de 29 de maio último, concomitante com a apresentação do European Stroke Conference 2013, foram publicados os dados em relação às variáveis de manejo clínico da pressão arterial do SPS3 trial – Secondary Prevention of Small Subcortical Strokes.

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Este foi um estudo bastante aguardado, primeiro por causa dos resultados publicados em 2012 sobre a análise de tratamento antitrombótico na população estudada, que demonstrou pior prognóstico com dupla antiagregação a longo prazo. Segundo porque o seu financiamento, pelo NIH e NINDS (National Institute of Health/National Institute of Neurological Disorders and Stroke), não tem, em tese, qualquer conflito de interesse em relação a qualquer tratamento médico administrado.

Estudo

Oscar Benavente (investigador principal) e colaboradores analisaram 3020 pacientes, com 1519 alocados no grupo de maior meta de PA sistólica (130-149mmHg) e 1501 no grupo de tratamento mais intensivo (PAS < 130mmHg), seguindo-os por uma média de 3.7 anos. Avaliaram o desfecho primário de qualquer ocorrência de AVC (isquêmico ou hemorrágico) e, secundariamente, taxas de eventos como morte, infarto do miocárdio (IAM) e hemorragia intracraniana.

Resultados

Houve uma tendência a favor dos níveis de PA sistólica menores, embora não-significativa, em relação às taxas de AVC (HR 0.81, 95% CI 0.64-1.03, p=0.08). Não houve diferenças quanto aos desfechos de AVC fatal ou incapacitante (HR 0.81, 0.53-1.23, p=0.32)  e eventos cardiovasculares (IAM ou morte –  HR 0.84, 0.68-1.04, p=0.32). Quanto à ocorrência de hemorragia intracraniana, o grupo com PA mais controlada teve uma redução significativa deste desfecho clínico ( HR 0.37, 0.15-0.95, p=0.03).

Comentários

A diferença em relação ao desfecho primário analisado não foi significante (p=0.08), mas indica uma tendência a favor do grupo de redução arterial mais intensiva. O grupo de menor PA usou uma média de 2.4 anti-hipertensivos, contra 1.8 utilizado no grupo com alvo maior de PA. Houve uma redução de 63% de AVC hemorrágico, com uma diferença média de 11mmHg de PA sistólica entre os dois grupos de tratamento. Segundo os autores e no paper, não houve diferenças em relação aos eventos adversos.

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Resumindo, nós neurologistas devemos tentar atingir e manter PA sistólicas menores de 130 mmHg em pacientes com AVCi lacunar que estejam fora da fase aguda (o estudo incluiu apenas pacientes após a segunda semana do AVCi, até 180 dias do evento-índice). 

LINKS

The SPS3 Study group. Blood-pressure targets in patients with recent lacunar stroke: the SPS3 randomised trial. Lancet 2013.

Hankey G. An optimum blood pressure target after lacunar stroke? Comment on Lancet 2013.

The SPS3 Study Group. Effects of Clopidogrel Added to Aspirin in Patients with Recent Lacunar Stroke. NEJM 2012.

STICH II trial: Novas evidências no tratamento dos hematomas intracranianos

Por Maramelia Miranda

Mais um importante estudo na área de Hematoma Intraparenquimatoso espontâneo (HIP) foi publicado recentemente na revista Lancet (atenção, gente, Lancet não é pra qualquer um… Sintam só a importância do trial…).

David Mendelow e colaboradores, grupo que estuda o tratamento cirúrgico do HIP há alguns aninhos (lembrem-se do STICH), apresentaram os dados do trial em Londres na semana passada, desta vez analisando especificamente as hemorragias lobares sem inundação intraventricular, com volumes de hematomas de 10 a 100ml.

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O STICH II trial, estudo multicêntrico, prospectivo e randomizado 1:1, realizado em 27 países, em um total de 78 centros de pesquisa, comparou os tratamentos clínico (conservador) versus cirurgia precoce em pacientes com HIP supratentoriais lobares.

O Estudo

O tratamento cirúrgico avaliado foi a intervenção (em geral, craniotomia) nas primeiras 12 horas da randomização (vejam o protocolo AQUI), e o desfecho primário avaliado foi clínico, com uso da escala de desfecho de Glasgow (Glasgow Outcome Scale-Extended – GOSE), sendo os pacientes categorizados como com desfechos favorável ou desfavorável, medidos após 6 meses.  Foram randomizados um total de 601 pacientes (307 no grupo cirúrgico e 294 no tratamento conservador; destes, foram incluídos na análise 297 e 286 de cada grupo de tratamento, respectivamente.

Não houve diferença significativa entre os dois grupos de tratamento no desfecho clínico primário avaliado pelo trial – desfechos desfavoráveis ocorreram em 59% dos pacientes operados, versus 62%tratados clínicamente (p=0.367). Entretanto, embora discreta, houve uma pequena vantagem da cirurgia em relação à sobrevivência (?).

Mensagem que fica…

Estudando, lendo, analisando ainda… Em breve… 

LINKS

Mendelow et al. Early surgery versus initial conservative treatment in patients with spontaneous supratentorial lobar intracerebral haematomas (STICH II): a randomised trial. Lancet 2013. 

Gautschi & Schaller. Surgery or conservative treatment for cerebral hemorrhage? Lancet 2013.

 Homepage do STICH II trial.

Estudo PHANTOM-S usa tomógrafos portáteis e consegue trombolisar 33% dos AVCis

Por Maramelia Miranda

No dia 30 de maio último, no Congresso Europeu de AVC em Londres, foram apresentados os resultados do estudo “Pre-Hospital Acute Neurological Treatment and Optimization of Medical care in Stroke (PHANTOM-S).

Havíamos comentado sobre este trial alemão há uns 5 meses, lembram?! Quando o grupo publicou os resultados do estudo piloto. Vejam AQUI o artigo dos primeiros casos, publicados em janeiro de 2013 na Neurology, e o editorial comentando a inovativa ideia, AQUI.

Estudo PHANTOM-S

O estudo avaliou o uso de uma unidade móvel (ambulância), denominada de STEMO – STroke Emergency MObile unit, especialmente desenvolvida para o atendimento pré-hospitalar de vítimas de AVC.

Ambulância STEMO usada no estudo alemão, em Berlim.

Cada unidade STEMO possui à bordo, além dos itens convencionais de uma ambulância, um tomógrafo portátil, um neurologista e um técnico de radiologia. Quando há um caso suspeito de AVC, a unidade é usada para captar o paciente “em campo”, que faz a TC imediatamente, dentro da ambulância; as imagens são retransmitidas para um neurorradiologista no hospital, para análise e emissão do laudo. Se há indicação e decisão do uso de rTPA, a trombólise é feita ainda dentro da ambulância. O trial separou os pacientes atendidos na região metropolitana de Berlin em 2 grupos: 1804 pacientes alocados / atendidos com a unidade STEMO versus 2965 casos que foram captados com ambulâncias convencionais.

Resultados

Houve uma redução média de 25 minutos no tempo para a administração do tratamento trombolítico no AVC isquêmico (55min no grupo STEMO vs 77min no grupo controle).

A taxa de indicação de tratamento trombolítico foi de 21% no grupo controle e 33% (número impressionante, se compararmos com as taxas de trombolisados no nosso Brasil, por exemplo).

Sabemos que estudos clássicos nesta área mostram que apenas cerca de 10-15% dos pacientes com AVCi agudo recebem rTPA, justamente por causa da janela de tratamento (4,5h) extremamente curta. A taxa de eventos adversos foi semelhante nos dois grupos de tratamento.

Impressões

A taxa de trombolisados (21%) de um sistema organizado de atendimento pré-hospitalar que possui centros de AVC de excelência, como são os de Berlin, impressionam. Já ficaria feliz em ter as taxas de trombólise do grupo controle deles… 🙂

O modelo de tratamento pré-hospitalar com ambulâncias especializadas com tomógrafo portátil e neurologista à bordo é realmente bastante inovador. O que antes pensávamos ser algo distante – a “la StarTrek”, parece que vai chegar antes do que nossos pensamentos esperavam.

Não teria muita segurança em dizer se a redução em 25 minutos no tempo médio de administração do rTPA fez muita diferença, sobretudo em centros de AVC organizados, como são a maioria de Berlin. Certamente os resultados do uso desta tecnologia seria muito mais impactante em locais menos desenvolvidos no tratamento do AVC.

Minhas leituras do PHANTOM-S: primeiro, não é nada muito complexo de ser feito. O sistema de saúde britânico (NHS) já aplicou em agências de fomento um projeto semelhante para iniciar no Reino Unido…

Segundo, penso cada vez mais no que poderíamos fazer com soluções de eHealth, teleHealth, mHealth, etc… Para melhorar o atendimento aos nossos pacientes…

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Ambulâncias futurísticas, tomógrafos portáteis… O futuro ao nosso alcance.

LINKS

New Stroke Treatments. In: JEMS Connect.

Weber et al, for the STEMO-Consortium. Prehospital thrombolysis in acute stroke: Results of the PHANTOM-S pilot study. Neurology 2013;80:163-168.

Schwamm & Starkman. Have CT—will travel: To boldly go where no scan has gone before. Neurology 2013;80:130-131.

 

INTERACT2 mostra leve benefício do tratamento agressivo da pressão arterial na fase aguda do Hematoma Intracraniano Espontâneo

Por Maramelia Miranda

tags: hematoma intracraniano, AVCH, AVC hemorrágico, tratamento, pressão arterial na fase aguda.

Hoje foram apresentados em Londres, com concomitante publicação online do artigo na íntegra (AQUI – site da NEJM), os resultados do estudo INTERACT 2, que avaliou a redução intensiva da pressão arterial na fase aguda do AVCH – Hemorragia intracerebral (HIC) espontânea.

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Estudo

Foram estudados um total de 2839 pacientes com HIC que chegavam ao hospital até 6 horas após o início dos sintomas. O alvo de tratamento do grupo ativo do estudo era reduzir agressivamente a PA sistólica (PAS) para < 140 mm Hg na primeira hora após o início dos antihipertensivos EV. O grupo controle recebia tratamento conforme as diretrizes atuais (alvo de PAS <180 mm Hg). O desfecho primário avaliado foi morte ou incapacidade severa, medido pelo escore de Rankin modificado (mRS) em 90 dias. O estudo teve financiamento público (agência de saúde australiana – National Health and Medical Research Council of Australia), e os antihipertensivos utilizados eram escolhidos conforme o julgamento clínico e disponibilidade do serviço.

Resultados

Dos 2794 pacientes que completaram a avaliação de desfecho planejada, 719 (52.0%) dos tratados agressivamente tiveram incapacidade severa, ou seja, mRS de 3-6, versus 785 pacientes so grupo controle (55.6%) (OR para o tratamento intensivo: 0.87; 95% CI, 0.75-1.01; p=0.06). Uma análise complementar mostrou melhores desfechos (menores mRS) no grupo de tratamento intensivo da PA (OR para maior incapacidade: 0.87; 95% CI, 0.77-1.00; p=0.04). A mortalidade e ocorrência de eventos adversos sérios foi semelhante nos dois grupos de tratamento.

Impressões

Os autores concluem o seguinte no texto publicado:

“In patients with intracerebral hemorrhage, intensive lowering of blood pressure did not result in a significant reduction in the rate of the primary outcome of death or severe disability. An ordinal analysis of modified Rankin scores indicated improved functional outcomes with intensive lowering of blood pressure.”

Confesso que esperava que tivesse sido negativo… Não estou de todo errada. Mostrou um desfecho primário não significante, mas com forte tendência de ser melhor (p=0,06).

Com certeza vão ainda discutir bastante estes números e a análise “complementar” – chamada pelo estudo como “ordinal”… Isso vai dar muito “pano pra a manga”… O site do estudo disponibilizou links com a apresentação oficial realizada hoje (vejam abaixo)… Bom material para nós atualizarmos nossos slides :). E a Jennifer Frontera assina um editorial analisando o trabalho – acesse AQUI.

E vocês? O que acharam?

LINKS

Anderson et al. Rapid Blood-Pressure Lowering in Patients with Acute Intracerebral Hemorrhage. NEJM 2013.

INTERACT2 results revealed!. Site oficial do estudo.

Frontera J. Blood Pressure in Intracerebral Hemorrhage — How Low Should We Go? NEJM – related editorial.

Outros estudos apresentados na sessão Ongoing Clinical Trials – ESC London 2013

Stenting carotídeo, e logo após angioplastia com balão, aumenta o risco de AVC: Entenda!

Por Maramelia Miranda                                               English version

Mais uma análise do estudo CREST (Carotid Revascularization Endarterectomy vs Stenting Trial) foi apresentada no congresso SCAI – Society for Cardiovascular Angiography and Intervention (SCAI) 2013 Scientific Sessions, ocorrido este ano em Orlando, FL.

Dr Mahmoud Malas e colaboradores concluiram que, do ponto de vista técnico, alguns detalhes podem fazer a diferença nos desfechos dos pacientes tratados com angioplastia e stenting.

O Estudo

Segundo Malas, muitos neurointervencionistas costumam utilizar o artifício de angioplastia com balão logo após a liberação do stent, com base justamente em estudos anteriores que associaram esta técnica com menores taxas de reestenose. O racional do estudo apresentado no SCIA foi a hipótese de que provavelmente esta estratégia poderia, em tese, causar embolização distal no momento do balonamento.

Os autores, portanto, analisaram o uso desta técnica e os desfechos de reestenose e AVC periprocedimento, usando o banco de dados do estudo CREST. Compararam os dois grupos distintos (pacientes submetidos a angioplastia com balão apenas antes da colocação do stent vs pacientes que tiveram balonamento pós-stenting), analisando taxa de reestenose 2 anos após o procedimento.

Resultados

Um total de 69 pacientes tiveram ATC pré-stenting, 344 foram angioplastados apenas após a liberação do stent, e 687 foram angioplastados pré e pós colocação do stent carotídeo.

Houve 20 AVCs peri-procedimento – 19 no grupo que teve ATC pós-stenting, e apenas 1 caso no grupo com ATC apenas pré-stenting (5.5% vs 1.5%, respectivamente; p=0.26). A taxa de reestenose em 2 anos foi de 10.3% no grupo com ATC pré-stenting vs 3.7% no grupo submetido a ATC pós-stenting (p=0.02).

A conclusão principal da análise apresentada foi de que realizar angioplastia com balão após a liberação do stent carotídeo reduz significativamente o risco de desenvolvimento de reestenose, mas parece aumentar o risco de AVC periprocedimento em até 4 vezes  (HR 3.7; 95% IC 0.5-27.9).

Balonar pós-stenting carotídeo: Fazer ou não fazer?

LINKS

Malas M, Voeks J, Llinas R, et al. Angioplasty following carotid stent deployment reduces the risk of restenosis and may or may not increase the risk of procedure-related stroke. Society for Cardiovascular Angiography and Interventions 2013 Scientific Sessions; May 9, 2013; Orlando, FL.

Why Calls for More Routine Carotid Stenting Are Currently Inappropriate: An International, Multispecialty, Expert Review and Position Statement. Stroke 2013;44:1186-1190.

Fonte da imagem: www.vascularweb.org.

Terapia combinada com rTPA e SOLITAIRE: Melhor do que o IMS-III

Por Maramelia Miranda

Tags: rTPA endovenoso, tratamento AVCi agudo, trombólise, trombolítico, trombectomia, SOLITAIRE.

Foram apresentados esta semana, em San Diego, no 65th Congresso Americano de Neurologia, os resultados de um estudo de registro com o uso do tratamento combinado rTPA + device SOLITAIRE para casos de AVCi agudo.

Alguém percebeu a semelhança??? Sim. O estudo aí em cima avaliou exatamente a terapia testada no IMS-III, aqueeeeeele… Aquele que comparou rTPA EV isolado versus rTPA EV + trombectomia mecânica no AVCI agudo, que foi interrompido prematuramente por futilidade, e cujos resultados foram negativos, deixando todos nós bem desanimados no final do ano passado…

Lembrando que o IMS foi controlado, e este aí é um registro…

Registro NASA

O North American SOLITAIRE Acute Stroke (NASA) Registry – ou mais simplesmente – Registro NASA, analisou pacientes tratados com rTPA endovenoso combinado à terapia endovascular, usando apenas o dispositivo de trombectomia mecânica SOLITAIRE-SR.

Foram analisados 156 pacientes com AVCi agudo e escala do NIH média de 19 pontos.

Os dados apresentados (clicar na tabela) sugerem melhores desfechos clínicos do que os historicamente observados com rTPA ou terapia combinada (dados do IMS-III).

mTICI = Modified Thrombosis in Cerebral Infarction.

Lembrem-se: É um estudo de registro!

Por fim, mais um recadinho: nada de euforia…

Registro é registro. Estudo de registro é a observação clínica de uma experiência em um grupo de pacientes. É complicado comparar resultados de um registro com estudos anteriores. Essa conversa de comparar resultados de registros com séries “históricas” já deu, não concordam?!

E aqui pra nós, sabemos bem que a turma da Neurorradiologia Intervencionista adora fazer isso… Mas ao mesmo tempo, já fazendo justiça a eles (meus amigos neurointerventionalistas, eu amo vocês! Os comentários são feitos com muito carinho), nem devemos culpá-los tanto assim, afinal, primeiro eles costumam mesmo ver as suas experiências pessoais com os dispositivos, se boas ou más, para depois testá-los de forma controlada. Daí a necessidade de um trial randomizado, avaliando se estes resultados se replicam no contexto de um estudo controlado. Se parar pra pensar, é a mesma coisa que nós, clínicos, fazemos, quando vemos o efeito de um medicamento sendo benéfico e depois indo atrás para testá-lo em grande escala e de forma estatisticamente confiável. A diferença é que nós trabalhamos com comprimidos e drogas, eles com os devices…

Por fim, lembremos, por exemplo, que em relação a trombólise intraarterial / macânica, até agora, só temos de estudos controlados o PROACT II e o IMS III, ou tem algum outro? Ajudem-me, e perdoem-me se estou errada, pois só me lembro destes dois…

Finalmente… A pergunta.

Quando será que teremos os resultados do estudo controlado com rTPA + SOLITAIRE?????

Fontes: American Academy of Neurology (AAN) 65th Annual Meeting. Emerging Science Abstract 011. Presented March 20, 2013.

Figura: Covidien website.