ESCAPE Trial (Swift e EXTEND): Neurointervenção 3x funciona em AVCi agudo!

Por Flavio Carvalho e Maramelia Miranda

Direto de Nashville – International Stroke Conference 2015!!!!!

O ESCAPE Trial foi apresentado hoje, com acesso online simultâneo na homepage da NEJM… Covidien (patrocinadora do trial) comemorando… A apresentação do primeiro slide no centro de convenções, aplaudida.

A seguir, foram apresentados os estudos EXTEND IA e Swift Prime, todos POSITIVOS para a terapia endovascular em agudos com AVCi. Depois mais resultados do MR CLEAN que havia sido apresentado no ano passado. A reação da plateia, cansada de anos e anos com estudos negativos na área, foi eufórica, com aplausos, e mais aplausos…

neuroradiol

Portanto, nós neurologistas também ficamos muito felizes com novas evidências, mais uma opção do que fazer para os nossos pacientes!!!!!!!

Vejam os detalhes do ESCAPE, e abaixo os links dos outros 3 estudos de neurointervenção:::::: (corram, não sei quanto tempo os papers vão ficar com acesso free na revista)

Goyal et al, from ESCAPE Trial Investigators. Randomized Assessment of Rapid Endovascular Treatment of Ischemic Stroke. NEJM 11 feb 2014.

BACKGROUND. Among patients with a proximal vessel occlusion in the anterior circulation, 60 to 80% of patients die within 90 days after stroke onset or do not regain functional independence despite alteplase treatment. We evaluated rapid endovascular treatment in addition to standard care in patients with acute ischemic stroke with a small infarct core, a proximal intracranial arterial occlusion, and moderate-to-good collateral circulation.

METHODS. We randomly assigned participants to receive standard care (control group) or standard care plus endovascular treatment with the use of available thrombectomy devices (intervention group). Patients with a proximal intracranial occlusion in the anterior circulation were included up to 12 hours after symptom onset. Patients with a large infarct core or poor collateral circulation on computed tomography (CT) and CT angiography were excluded. Workflow times were measured against predetermined targets. The primary outcome was the score on the modified Rankin scale (range, 0 [no symptoms] to 6 [death]) at 90 days. A proportional odds model was used to calculate the common odds ratio as a measure of the likelihood that the intervention would lead to lower scores on the modified Rankin scale than would control care (shift analysis).

RESULTS. The trial was stopped early because of efficacy. At 22 centers worldwide, 316 participants were enrolled, of whom 238 received intravenous alteplase (120 in the intervention group and 118 in the control group). In the intervention group, the median time from study CT of the head to first reperfusion was 84 minutes. The rate of functional independence (90-day modified Rankin score of 0 to 2) was increased with the intervention (53.0%, vs. 29.3% in the control group; P<0.001). The primary outcome favored the intervention (common odds ratio, 2.6; 95% confidence interval, 1.7 to 3.8; P<0.001), and the intervention was associated with reduced mortality (10.4%, vs. 19.0% in the control group; P=0.04). Symptomatic intracerebral hemorrhage occurred in 3.6% of participants in intervention group and 2.7% of participants in control group (P=0.75).

escape-TRIAL

CONCLUSIONS. Among patients with acute ischemic stroke with a proximal vessel occlusion, a small infarct core, and moderate-to-good collateral circulation, rapid endovascular treatment improved functional outcomes and reduced mortality. (Funded by Covidien and others; ESCAPE ClinicalTrials.gov number, NCT01778335.)

 

LINKS dos Estudos (artigos)

MR CLEAN

ESCAPE

SWIFT-PRIME

EXTEND-IA

Large Hemispheric Infarct: Evidence-based Guideline publicado!

Por Maramelia Miranda

Saiu “online first” no último dia 21 (semana passada), na revista Neurocritical Care.

O artigo é um resumo das principais evidências existentes hoje no manejo neurointensivo do infarto hemisférico maligno da artéria cerebral média.

Assim que terminar a leitura postarei os highlights do documento.

LINK

Torbey et al. Evidence-Based Guidelines for the Management of Large Hemispheric Infarction. Neurocritical Care 2015.

Telemedicina: O doutor está online, mas a que custo?

Por João Domingues ** e Maramelia Miranda

Um artigo interessante publicado neste mês na Medscape Neurology estima que em 2015 haverá cerca de 100 milhões de visitas mundo afora via telemedicina (“e-visits” – como eles dizem por lá), com uma economia de aproximadamente US$ 5 bilhões, em comparação às visitas tradicionais.

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A Telemedicina oferece uma abordagem prática para pacientes se comunicarem com seus médicos ou outros especialistas à distância, sejam eles em todo o mundo ou do outro lado da cidade.

Para o tratamento da fase aguda do AVC, a Telemedicina trouxe um benefício muito grande, por levar neurologistas virtualmente a qualquer região com acesso a internet, em tempo-real, valorizando a máxima “tempo é cérebro”. 

Em um país de dimensões continentais como o nosso, onde não dispomos de hospitais com neurologistas 24h, 7 dias por semana, a Telemedicina parece ter o seu espaço e vem ganhando cada vez mais a realidade. Experiências bem-sucedidas em Neurologia Vascular, como as dos grupos coordenados pelos Drs. Gustavo Kuster (Amil -SP) e Jefferson Fernandes (Hosp. Oswaldo Cruz),  e pelas Dras. Gisele Sampaio (HIAE-SP) e Sheila Martins (Moinhos de Vento), são bons exemplos disso. 

Porém, o artigo conclui que ainda é incerto o quanto a relação médico-paciente possa ficar prejudicada com esta nova tecnologia.

Fonte: //www.medscape.com/viewarticle/837759?nlid=74804_405

** Dr. João Domingues é neurologista e neurointensivista dos Hospitais Santa Paula e Samaritano, ambos em São Paulo.

O que fazer com antiplaquetários e anticoagulantes no pré-operatório?

Por Maramelia Miranda

Estas perguntas são muito, muito frequentes:

“Tenho que extrair meu dente, ou fazer um implante dentário.”

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“Preciso fazer minha cirurgia de catarata.”

Ou coisas mais complexas. Os cirurgiões sempre pedem nosso aval, na questão do uso do AAS ou do anticoagulante, e como fazer nestes casos. Temos então que fazer o certo. Qual é o certo????

Vejam abaixo. Há recomendações neste sentido, e para a maioria dos procedimentos pequenos (odonto, catarata, dermatológicos) não é preciso parar a aspirina!!! 

Oral Antithrombotic Agents for the Prevention of Stroke in Nonvalvular Atrial Fibrillation: A Science Advisory for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Atualização da AHA/ASA sobre o uso de anticoagulantes orais em Fibrilação Atrial não valvular, incluindo os novos estudos publicados sobre os novos anticoagulantes orais. Artigo original da Chest 2012.

Perioperative Management of Antithrombotic Therapy. Guia em forma de tabela, uma espécie de “resumo do resumo”, que mostra como orientar uso de antiagregantes e anticoagulantes em cirurgias, no período perioperatório. Muito bom! 

Já coloquei estes links na nossa página de “Artigos de revisão e Guidelines”, ali em cima, na Aba :: Para os Neuros. Para qualquer consulta rápida.

Doença carotídea assintomática… A saga.

 Por Maramelia Miranda e Gabriel Lopes **

O que você faria com o caso ilustrado abaixo (angioRMs): Mulher de 78 anos, ativa e independente, portadora de hipertensão e dislipidemia, sem coronariopatia ou AVC prévio, que descobriu uma estenose carotídea assintomática em check-up com seu geriatra? Negou qualquer sintoma neurológico. A ressonância do crânio era normal, sem infartos cerebrais prévios. O Doppler Transcraniano não pode ser feito, por ausência de janelas temporais adequadas para avaliação de microembolia ou vasorreatividade.

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Figura. AngioRM cervical (à esquerda) mostra estenose crítica na artéria carótida interna direita, com fluxo distal presente, e enchimento normal da carótida intracraniana e ramos distais (figura à direita).

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** Dr. Gabriel Lopes é neurologista, residente-R3 da Disciplina de Neurologia da UNIFESP.

Centro Integrado de Tratamento do AVC – Hospital Mãe de Deus

Por Maramélia Miranda

Atenção gaúchos!!!!!!!

O Instituto de Doenças Neurológicas do Hospital Mãe de Deus vai inaugurar próxima semana um Centro Avançado de Tratamento do AVC, que terá unidades integradas e especializadas no tratamento agudo, neurointensivo e de reabilitação. Para a abertura do centro, o Dr. Mauricio Friedrich, nosso colega neurovascular que está por traz desta inovadora empreitada, preparou para a platéia gaúcha que irá prestigiar o evento dois nomes de peso da Neurologia Vascular mundial: Ayrton Massaro e Stephan Schwab… Apenas!

Cliquem na imagem abaixo para acessar o convite (e depois um segundo clique na imagem para zoom) !!!!!

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Agenda – Inauguração do Centro Avançado de Tratamento do AVC – Mãe de Deus (RS)

Data: 08/12/2014 (próxima segunda-feira)

Horário: 19h

Local: Auditório do Hospital Mãe de Deus

Rua José de Alencar, 286, Porto Alegre, RS

Programação:

– Desafios para a criação de um Centro de AVC no Brasil – Dr. Ayrton Massaro (SP)

– Revascularização e tratamento neurointensivo do AVC agudo – Dr. Stephan Schwab (Alemanha)

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Imperdível!

Vídeo brasileiro da Campanha Mundial do AVC

A Campanha Mundial do AVC este ano, com foco em AVC nas mulheres e o slogan “Eu me importo com o AVC” foi, pra variar, um sucesso em várias cidades do Brasil. 

Pra quem tiver curiosidade em ver um resumo das atividades que ocorreram, há um vídeo já disponível na página do facebook e no Youtube, “made by Dra. Sheila Martins”, com uma trilha musical emocionante, deixando uma mensagem de boas festas a todos, e até mesmo a prova do balde de gelo de dois dos nossos colegas neurovasculares, além do eu me importo de crianças lindas e personalidades brasileiras…

Querem saber quem fez o desafio do balde de gelo??? Assistam pra ver, acessando o link abaixo (do Youtube.com).

VIDEO DA CAMPANHA MUNDIAL DO AVC BRASILEIRA

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Cirurgia pós-AVC isquêmico: Quando fazer?

Por Daniel Fialho **

Devemos esperar uma “gestação” para liberar nossos pacientes pós-AVCi para uma cirurgia não-cardíaca (exceto revascularização carotídea) eletiva ???

Hoje, as avaliações neurológicas estão ainda literalmente “em gestação”, reclusas aos grandes centros ou ao ambiente acadêmico, mas, com certeza, tornar-se-ão rotina, como é a avaliação cardíaca.

E vocês, qual o intervalo indicam entre um evento cerebral isquêmico e uma cirurgia eletiva?

Vejam o artigo da JAMA abaixo:

Time Elapsed After Ischemic Stroke and Risk of Adverse Cardiovascular Events and Mortality Following Elective Noncardiac Surgery

Jornal: JAMA

Autores e Local: Jørgensen et al (Copenhagen, Dinamarca)

Abstract

Importance: The timing of surgery in patients with recent ischemic stroke is an important and inadequately addressed issue.

Objective:  To assess the safety and importance of time elapsed between stroke and surgery in the risk of perioperative cardiovascular events and mortality.

Design, Setting, and Participants:  Danish nationwide cohort study (2005-2011) including all patients aged 20 years or older undergoing elective noncardiac surgeries (n=481 183 surgeries).

Exposures:  Time elapsed between stroke and surgery in categories and as a continuous measure.

Main Outcomes and Measures: Risk of major adverse cardiovascular events (MACE; including ischemic stroke, acute myocardial infarction, and cardiovascular mortality) and all-cause mortality up to 30 days after surgery. Odds ratios (ORs) were calculated by multivariable logistic regression models.

Results:  Crude incidence rates of MACE among patients with (n = 7137) and without (n = 474 046) prior stroke were 54.4 (95% CI, 49.1-59.9) vs 4.1 (95% CI, 3.9-4.2) per 1000 patients. Compared with patients without stroke, ORs for MACE were 14.23 (95% CI, 11.61-17.45) for stroke less than 3 months prior to surgery, 4.85 (95% CI, 3.32-7.08) for stroke 3 to less than 6 months prior, 3.04 (95% CI, 2.13-4.34) for stroke 6 to less than 12 months prior, and 2.47 (95% CI, 2.07-2.95) for stroke 12 months or more prior. MACE risks were at least as high for low-risk (OR, 9.96; 95% CI, 5.49-18.07 for stroke <3 months) and intermediate-risk (OR, 17.12; 95% CI, 13.68-21.42 for stroke <3 months) surgery compared with high-risk surgery (OR, 2.97; 95% CI, 0.98-9.01 for stroke <3 months) (P = .003 for interaction). Similar patterns were found for 30-day mortality: ORs were 3.07 (95% CI, 2.30-4.09) for stroke less than 3 months prior, 1.97 (95% CI, 1.22-3.19) for stroke 3 to less than 6 months prior, 1.45 (95% CI, 0.95-2.20) for stroke 6 to less than 12 months prior, and 1.46 (95% CI, 1.21-1.77) for stroke 12 months or more prior to surgery compared with patients without stroke. Cubic regression splines performed on the stroke subgroup supported that risk leveled off after 9 months.

Conclusions and Relevance:  A history of stroke was associated with adverse outcomes following surgery, in particular if time between stroke and surgery was less than 9 months. After 9 months, the associated risk appeared stable yet still increased compared with patients with no stroke. The time dependency of risk may warrant attention in future guidelines.

 

** Daniel Fialho é neurologista, chefe do serviço de Neurologia do Hospital São Francisco, em Concórdia, SC.

No infarto do miocárdio, oxigênio em excesso foi pior!!!

Abstract saído do forno, super highlight do congresso da AHA de Chicago, na semana passada… Exemplo claro de como obviedades podem ser jogadas no lixo com simples matemática e estatística.

A Randomised Controlled Trial of Oxygen Therapy in Acute St-segment Elevation Myocardial Infarction: The Air Versus Oxygen in Myocardial Infarction (AVOID) Study

Autores::: Dion Stub et al.

Local::: Australia.

Abstract

Background: Oxygen is commonly administered to patients with ST-elevation myocardial infarction (STEMI) despite previous studies suggesting a possible increase in myocardial injury due to coronary vasoconstriction and heightened oxidative stress.

Methods: We conducted a multicenter, prospective, randomized, controlled trial comparing oxygen (8 L/min) with no supplemental oxygen in patients with STEMI diagnosed on paramedic 12-lead electrocardiogram. Of 638 patients randomized, 441 were confirmed STEMI patients who underwent primary endpoint analysis. The primary endpoint was myocardial infarct size as assessed by cardiac enzymes, troponin (cTnI) and creatine kinase (CK). Secondary endpoints included recurrent myocardial infarction, cardiac arrhythmia and myocardial infarct size assessed by cardiac magnetic resonance (CMR) imaging at 6 months.

Results: There was a significant increase in mean peak CK in the oxygen group compared to the no oxygen group (1948 U/Lvs.1543 U/L; means ratio, 1.27; 95% CI, 1.04 to 1.52; P= 0.01). Mean peak troponin was similar in the oxygen and no oxygen groups (57.4 mcg/L vs. 48.0 mcg/L; ratio, 1.20; 95% confidence interval [CI], 0.92 to 1.56;P=0.18).There was an increase in the rate of recurrent myocardial infarction in the oxygen group compared to the no oxygen group (5.5%vs.0.9%, P=0.006) and an increase in frequency of cardiac arrhythmia (40.4%vs.31.4%; P=0.05). At 6-months the oxygen group had an increase in myocardial infarct size on CMR n=139;20.3grams vs. 13.1grams; P=0.04).

Conclusion: Supplemental oxygen therapy in patients with STEMI but without hypoxia increased early myocardial injury and was associated with larger myocardial infarct size assessed at six months.

oxygen

Para o coração, faz mal. E para o cérebro?

ESUS: Embolic Stroke of Undetermined Source

Mais uma “siglinha” para se decorar… Guardem: É um dos Hot Topics de 2014. 

Critérios clínicos do AVC do tipo ESUS:

  • AVCi não-lacunar detectado por TC ou RM (ou seja, características neurorradiológicas de embolia)
  • Ausência de estenose / aterosclerose intra ou extracraniana (estenose> 50%) na neuroimagem vascular (AngioTC ou AngioRM), no território do AVC ocorrido
  • Ausência de fonte emboligênica de alto risco no ECO TE e Holter de pelo menos 24h de monitoração (Flutter, FA, FEVE < 30%, valvulopatia, etc)
  • Nenhuma outra causa possível de AVCi (vasculite, dissecção, espasmo cerebral, etc)

Estou falando grego pra você? Viajou na maionese? Corra. Vá estudar! Hart RG et al. Embolic strokes of undetermined source: the case for a new clinical construct. Lancet Neurol 2014.