Fingolimode e AVC: De novo. Agora em AVCi

O mesmo grupo que descreveu na JAMA Neurology do ano passado, aquele estudo estranho com fingolimode e AVCH, publicam esta semana na Circulation, mais uma vez, outro estudo piloto, agora com pacientes que receberam alteplase em AVCi agudo de cerebral média e anterior, usando o fingolimode, e mostram benefício com a terapia testada. Abaixo o resumo do novo paper do grupo. Depois volto.

Abstract

Background—Inflammatory and immune responses triggered by brain ischemia worsen clinical outcomes of stroke and contribute to hemorrhagic transformation, massive edema and reperfusion injury associated with intravenous alteplase. We assessed whether a combination of the immune-modulator fingolimod and alteplase is safe and effective in attenuating reperfusion injury in patients with acute ischemic stroke (AIS) treated within the first 4.5 hours of symptom onset.

Methods and Results—In this multi-center trial, we randomly assigned 25 eligible patients with hemispheric ischemic stroke stemming from anterior or middle cerebral arterial occlusion to receive alteplase alone or 22 patients to receive alteplase plus oral fingolimod 0.5 mg daily for three consecutive days within 4.5 hours of the onset of ischemic stroke. Compared with patients who received alteplase alone or patients who received combination of fingolimod with alteplase exhibited lower circulating lymphocytes, smaller lesion volumes (10.1 vs 34.3 ml, P = 0.04), less hemorrhage (1.2 vs 4.4 ml, p = 0.01) and attenuated neurodeficits in National Institute of Health Stroke Scales (4 vs 2, P =0.02) at day 1. Furthermore, restrained lesion growth from day 1 to day 7 (-2.3 vs 12.1 ml, P < 0.01) with a better recovery at day 90 (modified Rankin Scale 0-1, 73% vs 32%, P < 0.01) was evident in patients given fingolimod and alteplase. No serious adverse events were recorded in all patients.

Conclusions—In this pilot study, combination therapy of fingolimod and alteplase was well tolerated, attenuated reperfusion injury and improved clinical outcomes in AIS patients. These findings need to be tested in further clinical trials.

Clinical Trial Registration Information—www.clinicaltrials.gov. Identifier: NCT02002390.

LINKS

Zhu et al.Combination of an Immune Modulator Fingolimod with Alteplase in Acute Ischemic Stroke: A Pilot Trial. Circulation 2015.

Fingolimod melhora desfechos clínicos e reduz edema em hematomas intracranianos. O que?! Tem certeza?!

Fu et al. Fingolimod for the Treatment of Intracerebral HemorrhageA 2-Arm Proof-of-Concept Study. JAMA Neurology 2014.

Sheth & Rosand. Targeting the Immune System in Intracerebral Hemorrhage. JAMA Neurology 2014.

Apixaban foi igual a warfarina em valvulopatas. Ah?!

Isso mesmo.

Saiu na Circulation, online first, na semana passada. Congrats!!!! ao autor principal, brasileiro no pedaço, nosso colega cardio Dr. Álvaro Avezum, do Dante Pazzanezze.

Estudo “post-hoc” do grupo de pacientes do ARISTOTLE. Bem interessante.

Recuperando do nosso HD…

Relembrando aos neuro-nautas já com alguma quantidade de amilóide no cérebro: ARISTOTLE, estudo que mostrou a superioridade e maior segurança do novo anticoagulante Apixaban na prevenção de AVC e embolia sistêmica em FA não-valvular. Trial com mais de 18 mil pacientes, excluiu casos de FA devido a valvulopatia severa. Financiado pela indústria.

Vejam só…

Do grupo de pacientes do trial com a suposta FA “não valvular”, a bagatela de 26,4% (Ohhhhh!!!!!!) tinham valvulopatia ou cirurgia valvar prévia… (os autores falam que no estudo eles “excluiram apenas doentes com estenose mitral severa ou pacientes com próteses valvares). Ah tá!

Então, continuando… Daí, pegaram estes pacientes e compararam com os casos sem qualquer valvulopatia… Tá confuso?!

Também achei.

Mas vamos lá… Vamos tentar entender as definições: na análise de agora, eles separaram os casos do trial com doença valvar moderada e severa, e compararam com o resto (FA purinha, não-valvular ou com valvulopatia leve).

No ARISTOTLE original, eles incluíram os casos não-valvulares e os com doença moderada e severa, mas apenas os que tinham estenoses valvares moderadas… Não sei se me entendem… Realmente ficou confuso na minha cabecinha neurológica-não-cardiológica. Aos curiosos, sugiro irem aos métodos do paper e ler direitinho os critérios.

Bom.

Pulando esta parte da diferença entre FA valvar e não-valvar, os autores queriam responder se apixa e warfarina foram diferentes em relação a taxas de AVC e embolia sistêmica, sangramento maior e morte, nos grupos:

–> sem doença valvar ou doença leve versus doença valvar moderada/severa.<–

Resultados

Os casos com doença valvar moderada/severa tiveram mais AVC, embolia sistêmica e sangramentos.

Mâs…  (como dizem nossos amigos gaúchos… Beijo pra vcs!!!!)… Não houve diferença entre os dois anticoagulantes em redução de AVC e embolia (HR 0.70, 95% CI 0.51-0.97 e HR 0.84, 95% CI 0.67-1.04; interaction p=0.38), sangramento major (HR 0.79, 95% CI 0.61-1.04 and HR 0.65, 95% CI 0.55-0.77; interaction p=0.23), e redução de mortalidade (HR 1.01, 95% CI 0.84-1.22 and HR 0.84, 95% CI 0.73-0.96; interaction p=0.10).

Ou seja…

Palavras dos autores: “More than a quarter of the patients in ARISTOTLE with “nonvalvular” atrial fibrillation had moderate or severe valvular heart disease. There was no evidence of a differential effect of apixaban over warfarin in reducing stroke or systemic embolism, causing less bleeding, and reducing death in patients with and without valvular heart disease.”

Traduzindo…

Concluiram que “acharam” doença valvar moderada e severa no grupo de “não-valvares” do ARISTOTLE.

Hehehe… Que beleeeeeeeza!!!! (E assim vamos descobrindo as entranhas dos trials).

E que não houve diferença do NOAC apixaban com a velha e boa warfarina nestes pacientes… Hummm… Agora o negócio pegou.

E agora dagigatran e rivaroxaban?

LINK

Avezum et al. Apixaban Compared with Warfarin in Patients With Atrial Fibrillation and Valvular Heart Disease: Findings From the ARISTOTLE Trial. Circulation 2015.

AHA/ASA Guideline: Atualização dos estudos de Trombectomia em 2015

Atualização americana. Publicada hoje na página da Stroke.

Trombectomia em AVC isquêmico agudo. Agora temos duas diretrizes (americana e europeia).

LINKS

Powers et al. 2015 AHA/ASA Focused Update of the 2013 Guidelines for the Early Management of Patients With Acute Ischemic Stroke Regarding Endovascular Treatment. Stroke 2015.

ESO Consensus statement on mechanical thrombectomy in acute ischemic stroke 2015.

Trombectomia no AVCi agudo já está oficialmente no consenso europeu

Atenção.

A ESO (European Stroke Organisation) saiu primeiro. Junto com a ESMINT, ESNR e Karolinska Stroke Update.
Após o seu encontro anual em Karolinska, no ano passado, já tinha citado o primeiro trial, MR CLEAN.

No dia 20 de fevereiro, alguns dias após as apresentações do ISC 2015 em Nashville, e com as publicações dos estudos, atualizou o texto com as novas evidências e o publicou online, na homepage da Karolinska Stroke Update. Vejam a OBS no meio do texto do documento:

“Prepared in December 2014, updated and released on February 20th 2015, after the International Stroke Conference.”

Portanto, primeiro documento a protocolar as novas recomendações. Primeiro de alguns, iminentes.

LINK

ESO Consensus statement on mechanical thrombectomy in acute ischemic stroke 2015.

AAN 2015 resumido em… 30 linhas

Novidades da Academia Americana de Neurologia de 2015… Em pouco mais de 30 linhas.

Highlights dissecados por neuros franceses. Publicados na Revue Neurologique.

Maravilha!!!!! Merci, Dr. Sibon et collègues !!!!

Aos neuronautas que conseguirem a façanha de ter o artigo na íntegra, pleeeease… I want!!! Detalhe, texto em francês.

Por enquanto, ficamos apenas com o abstract em inglês.

Abstract

Cerebrovascular diseases

The benefit of the thrombectomy using stents retrievers in the acute stroke phase is now demonstrated when there is a proximal occlusion of an intracranial artery, whatever its mechanism. The place of the anticoagulants in the management of cervical artery dissections remains uncertain, while the benefit of the blood pressure control in the secondary prevention of deep and lobar intracerebral hemorrhages is critical. The development of cardiac MRI, prolonged cardiac monitoring and transcranial doppler seems to improve the diagnosis of cardio-embolic sources of stroke.

Epilepsy

A specialized urgent-access single seizure clinic represents a model which reduces wait-times and improves patient access after a first fit. Co-locating a psychiatrist within outpatient epilepsy center leads to a reduction in psychiatric symptoms and people with psychogenic non-epileptic seizures. When neurologists around the world assess identical case scenarios for the diagnosis of epilepsy, concordance is between moderate and poor, showing that epilepsy diagnosis remains difficult. More than one third of elderly with new-onset epilepsy of unknown etiology exhibit temporal lobe atrophy on brain imaging.

Movement disorders

There is no major progress in the therapeutic approach of Parkinson’s disease but the discovery of new genetic markers such as glucocerebrosidase mutations may greatly change our knowledge of the disease process and may induce new therapeutic strategies in the future. The natural history of the disease is also better understood from the prodromal phase to the post-mortem analysis of the brain and the classification of the processes based on abnormal protein deposits.

Dementia

The respective value of biomarkers (amyloid imaging versus CSF biomarkers) for in vivo diagnosis of Alzheimer’s disease (AD) has been detailed. Therapeutic expectations mainly rely on anti-Aβ immunization trials performed in preclinical (and no longer prodromal) stages of AD, with the aim of slowing the evolution of neuronal loss. Besides a lot of communications on dementia genetics or physiopathogeny, fascinating and promising results were presented on deep brain stimulation for depression resistant to medical treatment.

Peripheral neuropathy

Ibudilast, administered with riluzole, is safe and tolerable in patients with amyotrophic lateral sclerosis (ALS), improves ALS function and delays progression. Patients with painful small fiber neuropathy have a high rate of mutations in the SCN9A gene, coding for Nav1.7 voltage-gated sodium-channels. Peripheral nerve lymphoma (NL) is a multifocal painful neuropathy that causes endoneurial inflammatory demyelination: primary NL is less severe than secondary NL, which occurs after remission, suggesting that nerve may be considered a “safe lymphoma haven”.

Multiple sclerosis (MS)

Biotin in progressive forms of MS and daclizumab in relapsing-remitting forms appear to be promising treatments. In case of failure of current first-line and/or second-line therapeutics, alemtuzumab may be an interesting alternative treatment. Teriflunomide, dimethyl fumarate and fingolimod are oral treatments with confirmed efficacy and acceptable safety. Besides vitamin D insufficiency and smoking, which are confirmed risk factors for the disease, testosterone insufficiency (in males) and obesity are emerging risk factors, which could also be corrected.

LINK

Sibon et al. American Academy of Neurology, Washington, 18–25 avril 2015. Rev Neurol 2015.

Diretriz da AHA/ASA sobre manejo de aneurismas cerebrais incidentais

Por Leticia Duarte

Publicado online no site da Stroke, em 18 de junho (semana passada).

LINKS

Thompson et al. Guidelines for the Management of Patients With Unruptured Intracranial Aneurysms. A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke 2015.

Escore PHASES para predição de ruptura de aneurismas incidentais. Post sobre a escala PHASES, preditora de ruptura de aneurismas cerebrais incidentais.

 

** Dra. Leticia Duarte é pós-graduanda da Neurovascular e Doppler Transcraniano da UNIFESP.

iNeuro Quiz: Trombectomia + rTPA no AVCi agudo

Faço questão de mostrar os números da nossa pequena “pesquisa” que está aí ao lado, há exatos 42 dias (vou deixar por 60 dias no total) …

Para reflexão das autoridades, gestores, residentes, pós-graduandos, neuros assistentes, neuros formadores de opinião, neuro-intervencionistas, radiologistas, chefes, preceptores de residências, etc, etc, etc.

Total de votantes até agora: 131

Resultados: 77 neuros (59%) atuam em local onde não é possível fazer a futura (ou seria atual?) terapia de primeira linha para AVCi agudo com menos de 3-4h, quando há oclusão arterial proximal… E em 41% dos hospitais dos votantes, n=44, há toda a estrutura necessária. Resguardadas a metodologia da estatística, nos dá uma ideia do cenário atual no Brasil.

Em um país onde até mesmo o rTPA endovenoso básico, cuja estrutura necessária é apenas: fitas de dextro + TC 24h + rTPA disponível + gente disposta a fazer… Nem isso temos na maioria dos hospitais…?! Eu iria esperar o quê?

iNeuro-quiz

E agora, José?!

Guideline de AVC Hemorrágico: Novíssimo!!!!

Por Jorge Murilo B Sousa **, Letícia Duarte e Maramelia Miranda

Diretriz da AHA/ASA, publicada neste final se semana na Stroke.

ICH-CT

Maiores novidades

Algumas bem importantes, mas as principais, com certeza, foram a atualização dos resultados do estudo INTERACT2, e comentários sobre as novas terapias neurocirúrgicas, bastante comentadas no texto e nas recomendações finais… Interessante a parte neurocirúrgica do documento…

— Recomendação de manter PA < 140mmHg em pacientes com PAS 150-220mmHg (do INTERACT2) –> recomendações IIa/B (pode melhorar desfecho) e I/A (é seguro); Em pacientes com PAS > 220mmHg, redução agressiva com drogas EV e monitorização intensiva é recomendada (IIb/C);

— Recomendação de screening formal para disfagia e IAM nos pacientes com AVCh;

— Citações sobre as “novas” terapias “incertas”, por causa dos estudos cirúrgicos em andamento (CLEAR, MISTIE), sobre uso de rTPA intraventricular, tratamento endoscópico para drenagem de hematomas intraventriculares e cirurgias minimamente invasivas (endoscopia ou estereotaxia)… Atentar que o documento fala sobre baixas taxas de complicações e que a eficácia e segurança destas novas terapias é incerta. Como sabemos, estas citações são o começo do que pode vir em documentos futuros, ous eja, potenciais terapias promissoras… Todas estas terapias cirúrgicas são classificadas com IIb/B;

— Estudos testando as terapias de DVE x DVE +rTPA em Hemorragia intraventricular — mostraram taxas de mortalidade de 30-47% x 10-23%, respectivamente

— Drenagem cirúrgica endoscópica – terapia nova descrita em séries de casos

— Hemicraniectomia descompressiva com ou sem drenagem do hematoma em pacientes muito graves pode reduzir mortalidade –>  Classe IIb / Evidencia C.

Obs. Post atualizado em 22 junho 2015.

LINKS

Hemphill et al. Guidelines for the Management of Spontaneous Intracerebral Hemorrhage: A Guideline for Healthcare Professionals From the American Heart Association/American Stroke Association. Stroke 2015.

 

** Jorge Murilo B. Sousa é neurologista, pós-graduando em Neurologia Vascular e Neurointensivismo na UNIFESP. Antenadíssimo, já chegou hoje no hospital comentando do guideline novo!!!!!!!